Três horas depois

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Três horas depois

A porta de meu quarto se abriu e eu não olhei para trás, apenas deslizei minha cadeira no chão e abri minha gaveta, peguei o pen-drive.

Congelei.

Soltei o objeto e fechei a gaveta. Voltei, com calma, para a escrivaninha a fim de continuar minha lição, mas era difícil de me concentrar quando os pensamentos tomavam proporções tão esmagadoras em minha mente.

— Oi... — murmurei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e olhando de soslaio para o vulto a minha porta.

Não era Bliss.

Nunca mais seria Bliss.

— Você sabe como retirar mancha de óleo de uma blusa branca? — ela quase berrou em meu quarto e eu parei para olhá-la.

Ela estava devidamente furiosa com algo. Seus olhos esbugalhados e os lábios abertos em um grito silencioso que ninguém além dela conseguia ouvir.

— O que aconteceu? — cruzei meus braços e sorri para ela.

— Seu pai está com uma nova criação e decidiu usar a sua blusa branca que ele nunca usa para começar o novo trabalho! Ele quer me enlouquecer, é isso — ela balançou as mãos no ar exasperada e saiu do quarto.

Já era a quarta vez nesta semana que ela entrava como um tornado em meu quarto para falar sobre os serviços de casa que normalmente Bliss fazia.

Minha mãe, a dona de casa perfeita, encontrou um emprego, era gerente de uma joalheria cuja dona era uma senhora de oitenta anos. As suas filhas foram para o continente deixando-a com o sua herança sozinha.

Ao menos agora ela tinha o que fazer de tarde e poderia passar mais tempo fora, além de ficar em casa me perguntando quando Jason e os meus amigos apareceriam de novo.

Eu não sabia.

Não mesmo.

Disse a eles que precisava de um tempo para mim, de um tempo para absorver o belíssimo legado de meu irmão.

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