Três semanas depois
Eu fiquei amiga de Jason Wright.
O quão estranho era isso?
Conversávamos nos corredores da escola — eu ainda sentia meu estômago ficar agitado quando estava sozinha —, ele me acompanhava até a minha casa, usava a televisão com os jogos e o datilógrafo como se fossem dele.
Eles eram, teoricamente.
Minha mãe pareceu gostar disso e até mesmo Gabriel, Carrie e Jenny começaram a se juntar a nós.
Ele era engraçado, pois ele chamava minha mãe de Serena e meu pai de Andrew enquanto meus velhos os amigos os chamavam de tios.
Minha casa voltou a ter vida de uma maneira que não tinha antes, nem em um milhão de anos minha mãe sonharia que todos os dias ela teria que preparar um lanche da tarde para um grupo de adolescentes famintos.
A parte boa era que estes dois mundos se chocando não causaram um estranhamento, eles agregaram a mim, era muito bom ouvir as risadas deles juntas.
Tinha dias que Jason não voltava conosco até minha casa por causa das suas aulas pelo computador, aquela que eu havia interrompido quando fui pedir desculpas.
Carrie já tinha a absurda ideia que nós dois combinávamos e iríamos acabar juntos, porém ela dizia isso para todas as pessoas que atravessavam a rua e sorriam para você, então não contava.
Descobri também que eu gostava muito mais de estar com companhia do que sozinha, nem que isso significasse passar menos tempo com as minhas lembranças de Will, pois como aquela vidente disse, eu tinha que deixá-lo partir — e algo a mais, porém não me recordava o que era.
Eu contei para os meus amigos como eu comecei a conversar com Jason, pois essa foi a primeira coisa que eles me perguntaram no dia seguinte, quando nós dois nos cumprimentamos no corredor.
Disse a verdade, omiti as passagens que falavam de William e seu fax tenebroso, porém contei dos videogames, que ele era amigo do meu falecido irmão e que eu passei na oficina de seu pai quando estava estressada com o meu próprio.
Eles entenderam, não precisava dizer muito mais, apenas saber que ele era amigo de Will já era o suficiente para que eles apoiassem.
E era bom ouvir outra pessoa falando sobre o meu irmão sem remorso e, sim, da maneira que falava de um vivo que morava longe, com saudade e admiração.
Eu me sentia bem conversando com ele. A sua amizade estava me fazendo bem; até minha mãe disse isso. Ela, por sua vez, estava ficando superprotetora, temia pela minha segurança por causa dos desaparecimentos da ilha, já eram sete. Não importava a idade ou o sexo, todos eram vítimas.
Teorias sobre o que estava acontecendo surgiram. Poderia ser o primeiro serial-killer, poderia ser um êxodo para o continente, poderia ser uma nova revolta, poderia ser uma doença.
Havia muitas possibilidades, algumas mais possíveis que outras. Todos estavam cientes disso, menos o meu pai.
Era a noite da festa de Vanessa e eu estava me preparando, estava esfriando, então coloquei uma blusa branca de linho um pouco bufante e uma saia marrom longa até meus pés.
Queria me vestir diferente do que eu usava normalmente, queria que as pessoas percebessem que eu estava diferente de antes. Eu queria ser diferente como antes de Will e antes da minha recaída. Queria que as pessoas notassem que eu estava renovada e bem.
Eu estava bem depois de meses.
Jenny combinou que iria me encontrar em casa para irmos já que ela era minha vizinha, estava esperando a campainha tocar.
Coloquei meu pen-drive em Bliss para ouvi-la falar, fazia tanto tempo que eu quase havia me esquecido como era o chiado de sua voz ou como ela tentava aparentar humana.
— Fico feliz que você está feliz de novo Elisabeth — ela comentou arrumando meu quarto, os sapatos, as roupas, tudo o que eu havia espalhado tentando encontrar a roupa perfeita para aquela noite.
— Eu também estou feliz — deixei que meus lábios deliciassem-se com um sorriso a toa que eu sabia não ter explicação, porém que era delicioso demais para retirá-lo.
Queria conversar mais com ela, entretanto a campainha tocou e eu desconectei o pen-drive dela, guardando-o em minha gaveta para correr para ir para a porta.
Jenny estava parecendo uma gótica com sua maquiagem negra, vestido negro e botinas.
Hoje nós duas destoaríamos da multidão.
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Estilhaços
Ficção AdolescentePor que você precisa do amor? Você não precisa. Por que você sente saudade? Você não sente. Como seguir em frente? Você não segue. Elisabeth Marshall viu seu mundo despedaçar com a morte de seu irmão, Will. Cada. Pequeno. Estilhaço. Desapareceu bem...