Trinta semanas antes
Estava estudando. O dia estava claro. As nuvens estavam vindo.
Época de chuva a vista.
Olhei o meu celular que tocava, reconheci o número de William e ignorei; deixei tocar até cair na caixa de mensagens, porém ele não deixou nenhuma, apenas desligou.
Esta era a primeira vez que ele me procurava depois da nossa grande briga.
Ele havia saído de casa por um tempo, estava morando com algum amigo que ainda não havia desistido dele ou simplesmente acampado na praia, algo que algumas pessoas faziam.
Minha mãe tentou trazê-lo para casa, porém, como eu disse a ela, o melhor era dar um tempo a ele depois de Melody e de tudo.
Ela não entendeu do que eu estava falando e ligou para Carrie, que normalmente era a que mais lhe dava informações sobre o paradeiro de seus filhos, e Carrie disse que William só estava triste, que ele precisava de um tempo.
Ela não sabia o que eu sabia, porém eu já havia ligado para ela e alertado-a sobre uma futura ligação de minha mãe.
Eu não queria me importar com ele. Não até eu ver que o meu irmão estava de volta.
Ele me ligou outra vez e eu continuei ignorando.
Ele não tinha coragem de me olhar na cara na escola — quando ele aparecia — e agora ficava me ligando? Eu jamais resolveria nossa situação com uma ligação! Se ele quisesse, que falasse cara a cara comigo.
Olhei para o visor do celular. Desta vez ele deixou um recado.
Não quis ouvir e ficar com pena do meu pobre irmão drogado.
Melody estava em depressão, todos estavam comentando dela e de meu irmão, dizendo que ela sabia que ele iria terminar com ela e falsificou uma gravidez, porém quando ele percebeu que era mentira, terminou com ela.
Para piorar? Agora ela cortava os pulsos! Ao menos era isso o que os curativos que ela tentava esconder mostravam. Tentei dizer a ela que ele não valia a pena, mas ela disse que eu não entendia de amor, que eu nunca saberia o que ela compartilhava com ele.
Era verdade, William fez questão de matar o amor dentro do meu coração. E eu deixei. Eu deixei...
Minha mãe perguntou o que havia acontecido com o meu colar, eu disse que o perdi em algum lugar.
Depois de um tempo eu ouvi barulho de sirenes e estranhei, pois era raro ouvir este barulho; ainda mais raro tão perto de minha casa.
Saí de meu quarto, queria saber o que estava acontecendo, vi minha mãe conversando com o policial, meu pai estava ao lado dela.
Seu rosto estava indiferente enquanto ela chorava.
— Mãe? — perguntei saindo de casa.
— Não! Volte para dentro Elisabeth! Agora — ela ordenou com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar.
Saí de casa percebendo que a ordem dela não tinha tanto efeito como deveria ter tido, algo de errado estava acontecendo.
— Eu sinto muito — o policial disse — mas você tem que vir conosco.
— Pai? Eles estão prendendo a mamãe? — perguntei quando ela entrou na viatura da polícia.
Ele não respondeu, entrou em casa batendo as portas fingindo que eu não estava a sua frente.
Outro policial estava prestes a sair com o seu carro quando eu andei até ele e bati no vidro da frente chamando a sua atenção, ele o abaixou.
— O que está acontecendo? Por favor, diz o que está acontecendo! — pedi, quase implorei no chão.
Minha mãe não poderia ser presa, ela era inocente.
— Eu sinto muito Elisabeth, mas acabaram de encontrar William — ele disse com os olhos pesarosos.
Era só isso?
O garoto deveria estar um problema para a polícia surgir em minha casa.
Isso era até que bom, assim eles o trariam para casa e minha mãe poderia levá-lo para uma reabilitação ou um psicólogo, alguém que pudesse trazê-lo de volta para este mundo.
— Ele morreu. William pulou do penhasco — ele terminou sua frase e eu fiquei encarando pensando que era uma piada sem-graça.
Ninguém riu.
— Quem poderia querer matar um garoto de dezesseis anos? — questionei quase em um berro frustrado.
— Ele pulou, ele se matou, eu sinto muito — ele fechou o vidro e foi embora.
Fiquei parada, imóvel. Pensei que eu teria sentido algo se William estivesse em perigo, pensei que nós tínhamos uma conexão, que tudo ficaria bem no final.
Ele morreu.
Eu briguei com ele um pouco antes de ele se matar.
Talvez eu tivesse sido a última pessoa que tinha falado com ele.
E ele morreu pensando que eu não o amava.
Ele me ligou.
O que eu fiz?
Corri para o meu quarto e peguei meu celular com as mãos trêmulas sentindo que eu não estava pensando com clareza.
Lágrimas não vieram.
Liguei para o celular dele. Caixa de mensagens. Liguei para a minha caixa de mensagens esperando encontrar a mensagem dele.
— Oi Ellie — ele murmurou do outro lado da linha, ouvia o quebrar das ondas como trilha sonora, ele estava no penhasco, suei frio — a vida é engraçada, sabe, você só precisa entender que assim é melhor, a minha partida — a sua voz era a verdadeira dele, a do William que eu conhecia e amava — Eu não te amo e se você ainda me ama, vai aprender que o ódio anda ao lado do amor. Eu queria entregar algo a você, mas não tenho tempo, está no meu quarto, dentro... — a ligação caiu, a voz dele morreu.
Coloquei para tocar de novo, de novo, ouvi a voz dele até cansar — na verdade até o meu celular acabar a bateria, pois eu jamais conseguiria cansar da voz dele.
A polícia revistou a casa, mas eu já havia me livrado das drogas, ao menos ele poderia morrer limpo, sem histórico de distúrbios por causa de narcóticos.
Eles pegaram meu celular quando souberam da mensagem.
Disseram que ele tinha se matado.
Não poderia ser, ele não tinha motivos para fazer aquilo!
Ele não poderia fazer aquilo comigo!
Ele não poderia se matar antes de eu pedir desculpas pela briga!
Eu não conhecia aquela pessoa que estava usando o corpo do meu irmão em nossa briga, porém a mensagem... a sua voz... era o meu Will, e ele havia partido. Ele havia me deixado.
Talvez ele tivesse...
Não! Ele não se matou.
Respirei fundo afundando meu rosto no travesseiro.
Eu nunca tive a oportunidade de salvar a sua vida como ele havia salvado a minha e, agora, ele estava morto, então nunca quitaria a minha dívida.
Eu pude quitar a dívida, ele havia me ligado, eu poderia tê-lo convencido que não era para se matar...
Não! Ele não se matou!
Eu...
Oh Will...
Meu Will...
O que você fez William?
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Estilhaços
Novela JuvenilPor que você precisa do amor? Você não precisa. Por que você sente saudade? Você não sente. Como seguir em frente? Você não segue. Elisabeth Marshall viu seu mundo despedaçar com a morte de seu irmão, Will. Cada. Pequeno. Estilhaço. Desapareceu bem...