Um dia depois

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Um dia depois

Na escola não se falava em outra coisa além dos escândalos que eu estava envolvida. Ninguém tentava disfarçar que estavam falando de mim quando eu passava perto, eles o falavam, apontavam e riam.

A diretora havia ligado para minha casa na noite anterior para conversar com minha mãe.

Elas discutiram sobre o que poderia ter acontecido em minha vida para algo como aquilo acontecer tão subitamente.

Era tanta falsidade que eu me enojava.

As duas haviam se entendido e negociado uma punição, nem mesmo a diretora sabia como reagir aquilo.

Já minha mãe tinha uma ideia muito cruel do que seria minha punição: cozinhar e lavar a louça.

— O que você estava fazendo com Scott ontem? — foram as primeiras palavras que Gabriel me disse naquele dia, e eu soube que alguém havia falado algo que não deveria.

Eu poderia matar Scott, porém teria que melhorar minhas técnicas de luta antes.

— Nós nos encontramos em um bar — respondi sendo o mais sincera possível, e, afinal, aquilo não era uma mentira.

— Elisabeth, você quer mesmo que eu acredite que você o encontrou sem querer? — seu olhar reprovava minhas ações sem mesmo ouvir o que eu tinha a dizer.

— Sim, é a verdade. Eu e Jenny estávamos em um bar e ele também, você me ligou quando ele veio conversar comigo — não queria falar sobre eu ter que entregar meu celular para ele e socorrer Jenny, ele não precisava saber disso.

— Ele disse que você tinha ido se arrumar, disse que a tarde havia sido inesquecível para você e que sua mãe estava chegando, então ele tinha que procurar a roupa dele que estava espalhada no seu quarto — ele cruzou os braços a minha frente.

Olhei para ele impassível.

— As pessoas disseram que o viram fazendo um caminho ontem de tarde. O caminho que saía de sua casa para voltar a casa dele.

Não entendi do que ele estava falando, não havia motivo algum para ele estar tão bravo comigo como ele estava.

Oh.

Agora eu entendi.

— Eu estava em um bar, como ele poderia estar voltando da minha casa no mesmo momento? — balancei minha cabeça com raiva daquele garoto.

— Vocês poderiam ter ido depois para sua casa — ele parou e pensou — não, você não faria isso, faria?

— Claro que não! — fechei meu armário com os livros em mãos e o olhei suplicante por entendimento — eu não tenho nada com Scott.

— Não é o que dizem — ele comentou, porém não tinha mais o tom acusatório, apenas estava constatando os fatos, todos deveriam pensar o pior de mim.

— Eu não me importo com o que as pessoas dizem — mentira.

Ele sorriu e se despediu de mim para se juntar a um grupo de amigos antes da aula.

Segurei os livros com mais força, não queria que as pessoas vissem minhas mãos trêmulas pela nossa conversa.

Eu não queria que as pessoas vissem que eu estava vulnerável.

— Como foi seu encontro com Scott? — Jason perguntou logo a minha frente, sorrindo, com as mãos em seu jeans desgastado nos joelhos com a barra desfiando.

Eu gostava daquele jeans.

Retirou as mãos nos bolsos e cruzou os braços da mesma maneira que Gabriel havia feito, porém em sua pose havia muita arrogância e presunção.

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