Duas horas depois

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Duas horas depois

E ele realmente me disse toda a verdade, metade eu já havia ouvido de Scott, porém, além dos detalhes que o traficante mirim conhecia, Jason sabia muito mais.

Ele me disse que a sua madrasta trabalhava para a polícia estadunidense, o grande continente, e ela havia se mudado para a ilha quando ficou sabendo de uma possibilidade de contrabando de drogas.

Durante alguns anos trabalhou e não conseguiu resultados, pois o traficante era conhecido por utilizar métodos sofisticados demais para serem rastreados.

O que ela não sabia era que os Daylight usavam aparelhos antigos para melhores resultados.

A mãe de Carrie tinha a sua confeitaria como uma fachada, ela ouvia as informações de seus clientes e as repassava para a madrasta de Jason. As duas trabalhavam para encontrar o traficante, mas não conseguiam — cada uma para sua organização.

William era amigo de Jason, porém nunca revelou o nome do seu fornecedor, apenas dizia que Melody e Vanessa o conheciam também, e os três estavam enrolados sem conseguir se afastar do traficante.

Jason jamais pressionou por informação, não poderia perder a fonte, pelo menos era isso o que a mãe dele dizia.

Então William morreu.

Elas começaram a perceber o comportamento estranho de Melody, porém pensaram que era apenas depressão.

Não era.

Deveriam ter feito testes para saber quem era dependente e que não era, porém eram muitas normas para conseguir a licença para aquilo, logo desistiram.

Então eu apareci para Jason com todo o meu drama e isso aumentou as chances de sucesso da missão.

Ele já sabia de tudo, porém desconhecia o fornecedor, quando eu lhe entreguei o celular de Scott, ele fez uma cópia dos arquivos em seu computador e descobriu a verdade.

A madrasta dele alertou a mãe de Carrie e as duas comunicaram a polícia civil, tinham informações suficientes para vencer o processo.

— Eu sinto muito por não ter falado antes... eu queria, mas não podia — ele afagou minha bochecha, minha perna tocava a dele e eu inclinei meu rosto contra sua mão — e eu sinto muito por não estar ao seu lado quando você... — ele sorriu para mim, sorriu de uma maneira que fez os seus olhos não conseguirem desviar do seu rosto — eu espero não ter próxima vez, mas se tiver eu juro estar com você.

Eu estava sem muitas palavras para oferecer.

— Você não... não precisa dizer isso — murmurei beijando sua mão enquanto a outra dele entrelaçava com a minha machucada.

Ele tomava tanto cuidado que eu pensava que ele temia me quebrar.

Eu já estava quebrada, não havia como ficar pior.

— Eu não quero que você pense por um segundo que eu me aproximei de você para conseguir informações, que eu menti sobre nós — ele segurou meu rosto e nossos olhos se encontraram — eu não sei o que eu teria feito se você acabasse da mesma maneira que seu irmão.

— Você teria seguido em frente, como fez antes — eu sugeri e senti uma pontada no peito.

— Não é verdade — ele meneou sua cabeça, nossos rostos se aproximando — isto é diferente. O que eu tenho com você é diferente.

— Eu sei — fiquei com a minha mão contra a sua, senti a aspereza de sua pele — eu estava com medo de você.

— De mim? — ele aparentou estar genuinamente surpreso.

— De como você conseguiu se aproximar tão rápido e eu não o impedi. Eu tive medo de você me deixar assim como William deixou.

— Seu irmão deixou sua marca em todos nós — ele murmurou olhando para nossas mãos, deslizando seu dedo contra meu pulso — eu também tive medo de perder você da maneira que eu...

— Você o perdeu? — não havia um motivo se quer para ele se envergonhar em dizer que se lamentava pela perda de William.

Mesmo em seu pior, meu irmão não conseguia fazer com que as pessoas o odiassem.

Até mesmo um caco estilhaçado poderia ser polido. Ele poderia não machucar mais ninguém. Ele poderia ser guardado. Ele poderia ser reencaixado.

As pessoas são como cacos de vidro, precisam que alguém.

Eu precisei de alguém.

Eu preciso de alguém.

Eu preciso de Jason.

— Eu não quero mais te deixar sozinha, Lise... tudo o que poderia ter acontecido... — ele comentou e eu sorri.

— Acabou, Jason... acabou — roubei um beijo de seus lábios.

EstilhaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora