Quando Alice ficou em pé no carro para atirar, percebi que na sua calça havia uma mancha de sangue, entretanto, ela parece não estar sentindo dor. Sendo assim não comentei nada, a última coisa que eu quero é mais uma discussão, até porque a doutora só quer um pé para o interrogatório sobre Adriana começar.
- Vocês estão bem? - perguntei.
- Quase morremos, não consigo parar de pensar no tiro que aquela psicopata deu! - respondeu Lia.
Olhei para trás e sua cabeça estava apoiada no ombro de Iago.
- Fica calma Lia, já passou - falou meu irmão, mas era possível perceber que ele estava tão traumatizado quanto ela.
- Já são quase meia noite. Se não pararmos, amanhã, no máximo cinco horas chegaremos - disse a advogada - Nem se preocupem com a polícia, não houve testemunhas e eles ainda farão toda a perícia do local.
Seguimos viagem sem muita conversa. Tenho certeza que Alice quer conversar comigo à sós, já chega de envolver os dois.
Algumas horas depois, com ajuda do GPS chegamos em frente a um imenso muro azul, três homens e uma mulher devidamente armados vieram até o carro. Alice estava pálida e tremendo, provavelmente o ferimento em sua perna infeccionou.
- Carla, faça a segurança. Nossas vidas estão na mão de sua equipe, as pessoas que estão atrás da gente são de alta periculosidade.
- Não se preocupe doutora. Faremos nosso trabalho!
Estacionei o carro no jardim. O local era imenso, na frente havia árvores, arbustos, bancos de madeira e uma fonte cheia de peixes. Logo a frente avistei uma mansão, toda vidrada. Sem dúvidas Alice não é qualquer advogada de porta de cadeia.
- Vocês podem ir descendo. Fiquem à vontade, daqui a pouco eu vou.
Esperei Lia e Iago descerem do carro, e então dei a volta, abri a porta de carona, e a tirei do carro.
- O que você tá fazendo? Me põe no chão! - ela tentou parecer autoritária, entretanto, sua voz saiu trêmula.
- Alice, você está com febre. Tenho que te dar um banho gelado ou você vai convulsionar - afirmei encostando meus lábios em sua testa.
- Não Matheus, eu vou só limpar e tá tudo bem.
- Fica calada, eu sou o médico aqui.
- Estuprador! - falou, e eu a encarei, ela apenas sorriu fraco, e por incrível que pareça permitiu que eu a levasse no colo.
Entrei na casa pela sala, havia um grande sofá branco, televisão e vasos de decoração, não tinha nada a ver com o estilo de Alice. Esperava uma coisa mais fúnebre.
- Onde fica seu quarto?
- Não sei, é a primeira vez que venho aqui também! Minha mãe comprou essa casa logo que me formei.
Subi as escadas, segui o corredor, e entrei na primeira porta à esquerda. O quarto parecia muito com um de hotel, rústico, porém, aconchegante.
- Deixe-me ver isso - pedi, colocando-a na cama.
Ela retirou a calça jeans com dificuldade, havia um corte na coxa, com certeza ela deve estar com muita dor, é evidente, por mais que ela tente não demonstrar.
- Você precisa entrar no chuveiro agora!
Alice começou a retirar a roupa sem muita cerimônia, adoro isso nela. O corpo é dela, ela faz dele o que quiser e qualquer homem que esteja diante dele deve respeitar. Aprendi isso da forma mais decepcionante possível naquela noite no hotel.
Tirei a blusa e o tênis e entrei com ela na água gelada, seus dentes começaram a bater. Abaixei e comecei a limpar o ferimento, felizmente foi superficial, não precisará de sutura.- Foi com metal?
- Me tira daqui, tô com muito frio.
- Me responda, como isso aconteceu?
- Qual a importância? Já tá cortado.
- O médico sou eu. Se você se cortou com metal, terás que fazer vacina antitetânica.
- Adriana me cortou com vidro.
- Ainda bem - falei e a enrolei na toalha que estava estendida no banheiro.
Dei minha blusa para ela vestir e a deitei na cama.
- Fica aqui, vou atrás de medicamento e material para curativo.
- Como se eu pudesse sair correndo.
Desci as escadas, andei até a cozinha e Lia estava sentada no balcão, próximo ao fogão e Iago cozinhava algo.
- Alice se machucou, preciso de medicamentos.
- Como assim? - questionou a garota descendo de onde estava.
- Depois explico melhor. Você pode ir lá na frente, com os seguranças e pedir anti-inflamatório, analgésico e material para curativo. Eles devem ter, e se não tiverem manda comprar!
Ela saiu correndo e Iago começou a perguntar sobre o estado de Alice, eu apenas respondi sim ou não. Estava muito preocupado para entrar em detalhes. Minutos depois, Lia chega com uma bolsa.
- Aqui está a farmácia que eles tem lá. A mulher deu um número para ligarmos, caso precisemos de algo.
Agradeci e subi em direção ao quarto.
- Você demorou, isso tá doendo.
Limpei novamente, mas agora com soro fisiológico e fiz um curativo.
- Toma esse analgésico, e o anti-inflamatório faremos de horário.
- Onde conseguiu remédio?
- Sua equipe é competente.
Ela sorriu, e juro que ouvi um obrigada sussurrado. Verifiquei a temperatura dela, estava apenas febril.
- Iago vai trazer comida e vou ficar aqui para caso você caia no sono e tenha febre.
- Matheus, não me enrola! Fala logo qual é a sua história com a Adriana.
- Eu a estuprei, não foi isso que todos disseram?
-Primeiro você me diz que é inocente, agora diz que é culpado. Não adianta mais, eu já tenho certeza que você não a violentou sexualmente. Caso isso tivesse acontecido, provavelmente ela teria repúdio ou até medo de você, ou então, em casos extremos já o teria matado. Peguei vários casos, e minha experiência diz que você pode ter feito qualquer coisa menos estuprado Adriana Pacheco.
- Você não ouviu ela dizendo que eu vou passar pela dor que eu a fiz passar?
- Ela parecia falar de algo sentimental, não do estupro.
- Vamos parar, pode ser? Não quero brigar mais. Você salvou nossas vidas novamente, quando tiveres boa eu deixo você me torturar até extrair a verdade de mim - falei rindo e ela apenas virou para o lado e se ajeitou na cama.
Olhei para a senhora Sanclear, que mesmo machucada consegue ser marrenta. Lembrei do momento em que aquele filho da puta a jogou no chão, e por mais que de indefesa ela não tenha nada, minha vontade era de matar aquele homem a soco. Odeio vê-la calada, sem discutir ou me insultar. Espera! O que estou falando? Só transei com Alice para ganhar aquele joguinho, jamais namoraria com ela, ou melhor, não me prenderia a mulher alguma. Fiz isso uma vez e ela já tentou me matar algumas boas vezes.
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Defesa Quase Perfeita
Romance"- Sou advogada, não tô sendo paga para manter sua segurança, muito menos para servir de babá- disse, batendo meu pé impacientemente. - Babá? Não sou criança. Quem está agindo com birra é você.... mas se você quiser me dar banho... - retrucou Math...