Sempre ao meu lado

Bônus

O sol batia no cabelo cacheado cobre avermelhado dela e dava a impressão de que seu cabelo era mais claro. O dia estava muito quente como era costume na Califórnia. Eu estava sentado em um dos bancos de espera enquanto a observava mexer pelo que parecia ser a milésima vez em sua bolsa.

- Tenho certeza que não está esquecendo nada - Eu estava com os braços apoiados nas costas das cadeiras, encarando-a.

- Eu só queria ter certeza de que estou levando meus fones de ouvido. - Ela tirou seus olhos azuis da bolsa e os levou até meu rosto. Por baixo de seu óculos retro, pude ver quando seus olhos se estreitaram de preocupação.

- Não vamos fazer isso de novo, mãe. - Pude ver que ela estava se controlando para não surtar mais uma vez - Nós já passamos por isso antes.

- Mas dessa vez serão cinco anos - O nervosismo era evidente em seu rosto. Não conheci o meu pai, já que ele morreu em um acidente quando minha mãe estava no sexto mês de gravidez, mas com certeza eu havia herdado a sua personalidade mais calma.

Minha mãe - Margareth Stuart - era a pessoa mais inquieta, impaciente e ativa que eu conheço. O oposto de mim. Estava sempre de bom humor e procurando coisas para fazer. O que tínhamos de oposto na personalidade, tínhamos de similar na aparência. Tirando meu cabelo loiro, eu poderia ser considerado uma copia fiel da minha mãe. Meus olhos eram uma replica do seu, assim como as cheias bochechas do rosto e o queixo quadrado. Nos últimos 10 anos, ela havia se dedicado a viajar o mundo com uma ONG, ajudando as pessoas de todos os lugares.

- Eu vou ficar bem, não se preocupe. - Eu sorri para ela, o que pareceu ajudar. Seus olhos correram mais uma vez pela tela que anunciava os vôos. O avião dela para a África estava atrasado.

- Eu deixei todos os números de emergência na geladeira. - Ela recomeçou a tagarelar de súbito. Algo muito comum, por sinal - Tem o número da policia e dos bombeiros para caso você esqueça em um momento de pânico. Sabemos que pode acontecer. Tem o número da lavanderia e da sua pizzaria preferida. Não botei o de Caroline porque você já tem no seu celular. - Ela se sentou ereta na cadeira, como se lembrando de algo. - Mas você pode acabar perdendo seu celular. Ou quebrando. Eu deveria ter anotado!

- Eu sei o número da Carol de cabeça, mãe. - Me levantei do banco onde estava e sentei ao seu lado. Passei meu braço pelo seu ombro curto e dei um beijo em seu cabelo. - Apenas se preocupe com as crianças famintas que te esperam.

- Tudo bem, tudo bem... Acho que posso fazer isso. - Ela tamborilava com os dedos em sua coxa.

- Maggie! - Jason vinha andando rápido tentando desviar entre as pessoas - Fiquei tão feliz quando John disse que seu avião atrasou, eu peguei um engarrafamento terrível.

- Querido! - Minha mãe se levantou para dar um abraço no meu amigo - O que está fazendo aqui? Você deveria estar na aula.

- Claro que não - Jason abriu um largo sorriso. - Eu não pude ir à despedida de ontem por causa de uma prova muito importante, mas nunca me perdoaria se não me despedisse de você.

Jason tinha uma grande admiração pela minha mãe. Eles conseguiam passar horas discutindo novas maneiras de poder ajudar as pessoas. Eu me sentia muito confortável com isso, porque por mais que eu sentisse esse dever dentro de mim também, nunca conseguiria falar com tamanha empolgação como eles. No começo eu sabia que minha mãe se sentia mal por ser o meu amigo com quem ela falava daquela maneira, e não seu filho. Mas com o tempo ela percebeu que isso não a fazia uma mãe ruim, tão pouco me causava ciúmes. Era como eu e Caroline na cozinha.

Assim que minha mãe soltou meu amigo, os alto falantes anunciaram o seu vôo. Eu a observava, e pude perceber que ela prendeu a respiração enquanto ouvia ao chamado. Logo depois seus olhos procuraram os meus. Lutando contra todas as minhas vontades, meus olhos começaram a ficar marejados. Ela tinha razão, nenhuma das viagens anteriores me prepararam para essa. Cinco anos não eram cinco meses. Os ombros de minha mãe caíram logo que ela olhou para mim. Eu me levantei e ela foi correndo para os meus braços.