Não tinha mais unhas para roer, então comecei a mordiscar a ponta do meu dedão. As mãos da Emily estavam apertando o volante com toda força enquanto ela dirigia o mais rápido que conseguia, o que não significava necessariamente que ela estava sendo rápida. As ruas estavam basicamente vazias por causa do horário, que já era muito tarde.
- Você não pode ir mais rápido? - Eu perguntei olhando novamente o velocímetro que marcava 40km/h.
- Eu não dirijo desde que terminei com aquele garoto do primeiro semestre, não me deixe nervosa! - Emily gritou sem tirar os olhos da pista - Eu nem devia estar te ajudando.
Eu não podia contar ao Brandon sobre a ligação do Ramon, ele nunca me deixaria ir ajudá-lo. Implorei a Emily para que ela não contasse nada a ele, o que levou mais ou menos uns trinta minutos. Foram preciso mais vinte para que eu a convencesse a pegar a chave do Brandon escondido e mais uma hora para que todos fossem se deitar e nós pudéssemos sair sem problemas. Eu não sabia o que estava fazendo, mas não aguentava mais ficar na cama deixando a dor me consumir, aquilo ao menos estava me mantendo distraída.
- Você sabe que eu não sei dirigir, não conseguiria ir sem você. - Eu respondi, voltando a morder meu dedo.
- Não é isso. Você não deveria estar indo atrás desse idiota.
- Ele estava pedindo ajuda, Em! - Eu disse apontando a rua à direita para ela entrar.
- Você ligava para a policia então, oxe!
- Não deve ser caso de policia, ele deve ter ficado muito chapado com as drogas que anda vendendo. Só precisamos levá-lo ao hospital... É entrando na próxima esquerda.
- Grandes traficantes ele é! Usa a própria mercadoria - Emily disse entrando na rua do prédio onde Ramon morava.
- Eu não me importo com o tipo de traficante que ele é. - Eu disse apontando para o prédio com fachada de vidro escuro. - Estacione do outro lado da rua, tem carros demais estacionados na frente. - Emily pareceu ficar agradecida por não ter que fazer a baliza entre duas vans. Assim que ela estacionou o carro, soltou seu cinto. - Não, fique aqui. Eu devo voltar em um minuto.
Antes que ela pudesse reclamar, sai do carro. Emily tinha razão, eu não deveria estar ali, isso tinha sido uma péssima ideia. Ramon era a ultima pessoa que tinha o direito de me pedir qualquer favor. Mas aqui estava eu andando em direção a seu apartamento. Ficava a todo momento tentando tirar da minha cabeça o motivo pelo qual eu queria me distrair.
Em frente ao prédio havia um homem alto, ele estava de braços cruzados como se estivesse cansado de esperar por alguém. Quando me aproximei mais, percebi que ele era asiático. Dei um boa noite por educação, mas ele me encarou como se eu tivesse o ofendido. O elevador não estava no andar, então corri até as escadas e subi até o segundo andar, onde o apartamento do Ramon ficava. Me odiava um pouco por andar por aquele caminho com tanta naturalidade, como se nunca houvesse deixado de frequentá-lo.Assim que fiquei de frente para a porta, esperei um tempo antes de bater. Eu não via o Ramon a meses, e até hoje eu ainda não sabia o que ele tinha ido fazer em minha casa. Por um minuto fiquei com medo de ele ter inventando essa história de ajuda para conseguir me ver, mas Ramon não era esse tipo de cara. Respirei fundo e dei três batidas na porta.
Não houve resposta, nem se quer um ruído vindo de dentro do quarto. Bati mais uma vez e nada. Imaginei se o Ramon não estaria tendo uma overdose. Girei a maçaneta, a porta estava aberta. Com cuidado abri a porta e bem devagar botei a cabeça para dentro. Tinha medo do estado em que iria encontrá-lo desacordado. O quarto estava escuro, mas assim que meus olhos se adaptaram a escuridão, vi o par de olhos pretos arregalados para mim.
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Sempre ao meu lado
Chick-Lit- Você vai ser uma médica maravilhosa - Ele disse. Aquele sorriso que hoje eu conhecia tão bem estava estampado em seu rosto.O mesmo sorriso que me cativou e me ganhou antes mesmo que eu pudesse me dar conta - Eu vou estar sempre te observando para...