Bônus

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Podia ouvir o som do mar ao fundo, mas a paisagem da praia era apenas uma imagem turva em minha visão. Sabia que a velocidade do carro estava muito alta, e era muito grato a estrada vazia. Eu não conseguia dirigir devagar, minha cabeça estava um verdadeiro turbilhão.

- Cara, tira esse pé do acelerador - o alemão resmungou.

O observei de soslaio e vi quando ele abaixou a cabeça até seus joelhos.

- Cala a boca. Na próxima vez aprenda a beber.

Eu não estava com minha maior paciência. Eu tinha sido extremamente idiota com a Melissa. Como eu podia acreditar que ela largaria tudo no seu país por mim? Mas como eu poderia viver sem aquela garota? Me dizer apaixonado parecia algo minúsculo em comparação a como eu realmente me sentia.

Ter aquela menina-quase-mulher em meus braços é algo indescritivelmente reconfortante. Logo depois do Lake Tahoe eu tinha medo do que poderia acontecer. Eu já havia percebido que Mel era uma garota incrível e não queria magoá-la de forma alguma, mas eu tinha o defeito de sempre me desapegar da pessoa quando o relacionamento começava a se tornar sério demais. Eu poderia fazer isso facilmente com qualquer uma, menos com a irmã do meu melhor amigo.

Mas Melissa não seria a minha Mel se deixasse esse medo tomar conta de mim. Eu não precisei me preocupar com meus sentimentos por ela, porque eles simplesmente só faziam aumentar com uma velocidade alarmante. Era assustador como ela me fazia sentir. Eu nunca soube exatamente como me comportar em um relacionamento, seguia apenas duas regras básicas: não trair e respeitar acima de qualquer coisa. E é claro que um relacionamento detém muito mais trabalho do que seguir apenas essas duas regras. É preciso estar sempre ao lado - para o mal ou para o bem - apoiar e fazer aquilo que considera melhor para ambos. Eu não sabia nada disso, antes de conhecer a minha namorada.

E agora eu me sentia um tremendo babaca.

Odiava o fato de ter criado um futuro para nós dois, algo que eu nunca fiz, sem considerar as coisas mais importantes para ela. Melissa era apaixonada pelo seu país, sentia um orgulho que chegava a ser absurdo por aquele lugar com tantos problemas. Mas no final, nenhum lugar é perfeito, não é mesmo? As pessoas o tornam.

- Eu realmente não acho que você correr tanto seja uma boa idéia - Roger resmungou entre suas pernas.

- Ninguém pediu sua opinião - Minha voz saiu ríspida e baixa. Sentia tensão em cada parte do meu corpo. Minhas mãos apertavam o volante com força.

Quando menos esperava, Roger fez um barulho e logo depois senti aquele cheiro azedo.

- Merda, cara! Qual o seu problema? - Estacionei no encostamento da pista- Roger, você é um inútil que não faz nada além de beber que nem um imbecil e...

Olhei para o Roger, que estava meio verde musgo. Ele estava péssimo e eu sabia que gritar com ele não era a solução para aquilo, tampouco era a solução para os meus problemas. Eu não estava com raiva dele de verdade - apesar de ter vomitado em meu carro - e sim de mim mesmo, por ter esquecido o que a garota que eu amava mais valorizava.

Apesar de ser mais fácil, não podia descontar meus problemas nos outros.

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- Eu quero mais uma casquinha com sabor torta de limão, por favor. – Pedi a vendedora.

Estava apoiada na bancada de amostra com sabores de sorvetes. No meio de todo aquele mormaço de Orlando, aquele simples vidro gelado fazia uma enorme diferença. Ouvi a risada dela falhada e me virei para trás para poder ver o que a estava deixando tão feliz.

Sempre ao meu ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora