Sempre ao meu lado

Bônus

O sol brilhava forte no céu, tornando o dia insuportavelmente quente. Eu não aguentava mais o verão, estava louca desejando que ele chegasse ao fim. Odiava suar. Odiava não poder vestir nada além de um short ou mini saia sem que todo o meu corpo transpirasse. Eu estava estirada na bóia de plástico na piscina quando ela apareceu.

- Querida? - Ouvi minha mãe chamar.

- Sim? - Respondi, sem me dar o trabalho de abrir os olhos.

- Ligue para o seu pai e diga que estou esperando os documentos que ele ficou de enviar.

- Claro - Respondi, ainda sem me mexer.

- Eu quis dizer agora, Emma. - Abri meus olhos. Ela estava ao lado da escada da piscina esperando por mim. Usava um de seus vários terninhos. Como agüentava usar isso nesse calor?

Noora Collette era uma mulher muito bem sucedida em sua carreira. Uma das estilistas mais respeitadas da Austrália, carreira essa que já vinha se destacando desde sua adolescência, quando trabalhava como modelo. Ela era alta e tinha um corpo esbelto, o cabelo loiro - que continuava abundante em sua cabeça - sempre teve todos os fios no lugar. Jamais com frizz. Consegue imaginar o seu desapontamento se sua filha hipoteticamente não quisesse se envolver nesse mundo luxuoso da moda? Bom, eu consigo.

Ela ficou mais chocada quando descobriu minha escolha de carreira do que quando soube da minha sexualidade. Isso é bom, certo? Espero que sim.

Muito emburrada, nadei até a borda da piscina onde meu celular se encontrava. Esperei três toques, até que ele finalmente atendeu.

- Oi minha estrela - Meu pai atendeu com sua animação habitual. Vamos apenas pular a parte em como meu pai ficou desapontado por eu não escolher a carreira musical, assim como ele. Zachary Simonds era um homem alto e ruivo, produtor musical em uma grande gravadora.

- Olá papai. - Respondi, sem muita animação. - Mamãe está querendo que envie logo os documentos para que aquela sua cantora desfile para grife dela.

- Veja bem, não tenho certeza se gostei muito dos termos em que ela botou a minha gravadora.

- Pai... - Eu sabia exatamente o que vinha a seguir. - Apenas envie logo os documentos, por favor.

- O que ele está dizendo? - Minha mãe se agachou próxima a mim.

- Que não concorda com os termos que você impôs. - Respondi.

- Ele não tem que gostar! É isso ou nada - Minha mãe levantou seu queixo. Arrogante como sempre. Não precisei repetir, já que meu pai ouviu.

- Emma, lembre a sua mãe que a grife dela que pediu pela minha cantora. Não o contrario. - Meu pai soava tão cansado quanto eu.

- Pai, estou cansada disso. - Respondi.

- O que acha que estou? - Ele respondeu, e pelo seu tom sabia que ele estava sorrindo. Soltei o ar, fazendo um barulho de chateação. - Tudo bem. Diga a sua mãe que vou mandar meu advogado para resolver as coisas.

- Obrigada.

Depois de dizer o quanto meu pai era irresponsável por não cuidar de seus problemas como um verdadeiro homem, minha mãe enfim voltou para dentro de casa. Não por seu sermão ter acabado - ela poderia levar horas detalhando cada defeito de meu pai - e sim porque seu cabelo perfeito começava a grudar em sua testa devido ao calor.

Eu precisava desesperadamente tirar umas férias daquele lugar.

¥

Eu a vi assim que saiu do carro. Ela tentou andar com confiança, mas depois de dar uma olhada pelo lugar, sua a determinação se evaporou. O cabelo cacheado era lindo, nunca conseguiria fazer aquilo no meu com babyliss. Os olhos eram tão grandes que poderia ser facilmente confundida com uma garota de quinze anos conhecendo o local. Ela não se vestia exatamente bem, analisei por hábito assim como a minha mãe. O jeito meio desengonçado como andava delatava que devia ser a primeira vez que usava os saltos.