Surpresa!

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Já era tarde quando eu e Charlote demos um jeito naquelas roupas. Fizemos novos modelos com as peças que tinham lá. Eu sempre fazia esse tipo de coisa. Agora eu só tinha que fazer algo que Luan usasse. E eu consegui. Não ia deixar a Dagalinha me humilhar sem bater de volta. Ela que me aguardasse. Pode atirar minha filha, eu vou sambar na sua cara.

Mas quando eu estava acabando, meu celular começou a tocar loucamente. Era minha mãe.

Droga!

O jantar do meu pai. Eu precisava terminar logo, ou ela ia me matar.

_Lote - digo, falando com Charlote - Podemos terminar amanhã?

Ela soltou um suspiro, e seus cabelos curtos e loiros balançaram.

_Podemos sim. Estou morta! - ela riu - Você não fez isso, fez? Digo. Cortar as roupas.

_Claro que não. O que eu ia ganhar com isso?

_Nada. - ela diz - Mas então quem fez?

_Não sei - respondo - Mas é melhor tomarmos mais cuidado. Desculpe por não ter tomado conta daqui o suficiente.

_Tudo bem. - ela levantou e se esticou - Vamos embora.

Eu levantei, e arrumei minhas coisas, e fiz questão de lembrar do meu celular. Trancamos a porta com os modelos novos, e saímos ao mesmo tempo, e eu fui embora antes de conseguir falar com Luan. Queria agradecer a ele por ter me dado outra oportunidade, mas meu celular estava quase morrendo de tanto que chamava.

Assim que cheguei em casa, tomei um banho, e coloquei meu vestido azul. Justo em cima, soltinho em baixo, e decotado. Soltei meu cabelo comprido em ondas pelas minhas costas.

Assim que terminei de me arrumar, desci, e fui colocar a mesa de jantar pra esperar meu pai chegar.

Quando estava quase tudo pronto, a campainha tocou.

Ué. Porque meu pai ia tocar a campainha pra entrar em casa?

Corri até a porta, e estava pronta pra dar um abraço no meu pai, mas quem eu vejo parado na porta é nada mais nada menos que ele.

Está com uma blusa social, e calça jeans, daquelas apertadas que ele tem. Cabelo penteado, uma caixa nas mãos, e aquele sorriso que acaba com a minha vida.

_O que você tá fazendo aqui? Quem te chamou?

_Eu. - disse Dona Beatriz, risonha, e eu olhei pra ela - Pode entrar, filho, fique a vontade, Marcelo já deve estar chegando.

_Obrigada - ele disse, e entrou, e eu fiquei parada.

Mas que diabos estava acontecendo aqui? Isso é carma? Só pode ser.

Mas aí me senti injusta. Eu queria mesmo falar com ele. Ainda mais depois do que tinha acontecido na empresa. Então eu entrei, e deixei minha cara feia de lado.

_Posso ajudar em alguma coisa? - ele perguntou.

_Ah, já está tudo pronto.

_Me ajuda a trazer as duas últimas travessas, por favor - digo, com a voz calma e comportada.

_Claro - ele responde e vem atrás de mim.

Pela primeira vez não vejo maldade em sua voz. Ele parece tranquilo, até.

Quando chegamos na cozinha, eu me viro pra ele.

_Luan. - eu começo - Eu queria te agradecer por ter... Acreditado em mim. Eu...

_Ei, não precisa disso. Quando você falou comigo eu só... Soube que você tava falando a verdade, nega.

Eu ri. Não me importei que ele me chamasse assim, porque a sinceridade que transparecia dele era comovente.

_Obrigada, de qualquer jeito.

Ele chegou perto de mim, e olhou bem no fundo dos meus olhos. Eu ia desmaiar. Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, e acabou fazendo um carinho no meu rosto, mas não tive vontade nem forças pra pará-lo.

_De nada - ele disse.

Mas então seus olhos baixaram pro meu decote, e a cozinha ficou pequena demais.

_Temos que levar as travessas, Luan.

_Certo. As travessas.

Encontramos minha mãe na sala, e agora sim, tudo já estava pronto, e era só esperar meu pai chegar.

Quando ele chegou, gritamos surpresa, e nos sentamos com ele pra comer. Foi estranho ter o Luan ali. Meu pai o tratou como se ele fosse algo meu, o que foi muito inconveniente, mas acabei relevando.

Na hora de ir embora, levei Luan até a porta de casa. Ele colocou as mãos no bolso, e sorriu pra mim.

_Porque não me disse que morava no mesmo condomínio que eu?

_Ahn?

_Alphaville. Não sabia que eu morava aqui?

_Como nunca nos encontramos?

_Sei lá. - ele deu de ombros. - O jantar foi ótimo.

_Obrigada.

_Obrigada você - ele tirou uma das mãos do bolso e segurou a minha - Você tá linda.

_Obrigada de novo.

Ele riu.

_O que exatamente você pensa de mim, ne... Manuela?

Eu o encarei.

_Como assim?

_Tá achando que quero me aproveitar de você?

Pensei em dizer que sua amiga Dagalinha estava me fazendo acreditar nessa possibilidade, mas desisti.

_Não é isso. Eu só não quero me meter em relacionamentos, ou quase relacionamentos agora. Só quero um pouquinho de paz.

_Eu não quero atrapalhar suas vida. - ele diz sério, e de novo me olha nos olhos - Eu gosto de você Manuela, eu já disse isso.

_Eu sei...

_Tentar me afastar não vai me fazer desistir. Eu sou insistente quando cismo com alguma coisa.

_Então é isso? Está cismado comigo?

_Estou profundamente interessado em você - ele foi direto, muito mais do que eu esperava - Em te conhecer. - ele chegou bem perto de mim, do meu rosto - Só preciso de um sinal seu.

Não consegui responder. Eu estava estática enquanto ele me olhava, pro meu rosto, pro meu corpo, então por causa do meu silêncio, que ele interpretou como um sinal, ele enlaçou minha cintura e me puxou pra um beijo.

Não um beijo qualquer, foi o beijo. Ele invadiu minha boca, como se estivesse faminto. Suas mãos corriam pelas minhas costas, e pela minha nuca, ele me segurava como se não fosse me largar nunca mais. Eu passei meus braços pelo pescoço dele, e durante aqueles minutos esqueci do mundo. Só havia eu e ele. Ali, na minha porta.

Na minha porta.

Meus pais em casa.

Droga.

Me separei dele de má vontade, e o olhei. Eu ofegava, e ele também, me olhava como se não tivesse sido o suficiente. E não tinha, nem mesmo pra mim.

_Luan...

_Tudo bem - ele disse. Depois riu - Boa noite, nega.

_Já disse pra não me chamar assim. Foi nosso trato.

_Muitas coisas vão mudar no nosso trato.

Ele disse descendo, já de costas, enquanto se afastava.

Agora sim eu estava ferrada.


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