O reencontro

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Eu acordei, e meus olhos embaçados viram o teto branco e as luzes fluorescentes, e a primeira coisa que fiz foi tentar levantar o braço pra tocar minha cabeça. Foi impossível. Eu estava cheia de borrachas prendendo meus braços. Soro por todo o lado. Será que eles estavam me dando remédio?

Eles não podiam. O bebê.

O bebê. Meu sangue gelou. Eu lembrei da minha queda, e pude ouvir o som do meu coração acelerado. Logo alguém entrou no quarto em que eu estava.

_opa, calma mocinha. – o médico disse – Você está bem. Seu filho também, embora precise de mais cuidados a partir de agora.

Senti que algumas lágrimas desceram pelo meu rosto.

_Estou vendo que está meio anêmica. Sua amiga Júlia e seus pais disseram que não tem se alimenta bem. – ele diz, e me olha em repreensão.

_Foi só um momento difícil.

_Claro. Seu noivo está aí fora, bem preocupado. Não saiu daqui desde ontem.

_Estou aqui há um dia inteiro?

_Sim. – ele diz, normalmente, e mexe no balão do soro – Você poderia ter perdido o bebê. Mas o modo como caiu protegeu o pequeno de algum modo. Ou Deus, se for devota.

_Deus, com certeza – eu disse.

_Seus pais não sabiam que estava grávida, mas percebo que você sabia. – ele me olha outra vez, e dá uma risadinha.

_Ainda não tinha tido a oportunidade.

_Sim. Bom, quem quer que eu mande entrar primeiro?

Eu pensei um tempo. Estava em dúvida entre Ju e meus pais, mas decidi deixar meus pais. Eu teria que acabar logo com isso e contar a verdade de uma vez.

_Meus pais, por favor.

Ele assente e sai do quarto, pra minutos depois, eu ver meus pais chorando, com um misto de alívio e raiva.

_Por que não nos disse? – minha mãe perguntou.

_Foi recente que descobri. – menti – Não sabia ainda como dizer.

_Luan está aí fora. Ele nos disse o que houve entre vocês. – meu pai falou – Eu quis mata-lo, mas... ele não saiu de perto de você um minuto, filha. Acho que ele está arrependido.

Comprimi os lábios. Infelizmente isso não me amolecia agora. Talvez ele estivesse se sentindo culpado. Afinal, eu caí na frente dele, depois de sua visita. Mas a verdade é que eu nem o culpava mais por isso. Eu sei que ele quer meu perdão, mas não vou conseguir dar isso a ele. Não vou conseguir dizer que desculpo quando não é verdade. Estou irredutível, e não sei por quanto tempo isso vai durar, e dessa vez não estou esperando que ele me espere.

Não estou porque já sofri pela perda dele. Pelo abandono dele. E estou longe de estar bem, ou de estar conformada, mas eu tinha esquecido o único motivo que eu ainda tinha pra seguir em frente. Tinha esquecido a ponto de quase perde-lo. Mas não quero mais cometer esse erro.

Eu tenho pessoas incríveis ao meu lado, e tenho todas as condições pra cuidar do meu filho. E é isso que eu vou fazer. E se no fim, essa criança for tudo que me sobrar do Luan, então que seja.

Depois dos meus pais foi a vez de Ju entrar. Ela estava com Dudu. Ela me abraçou de mal jeito, e chorava como uma criança. Dudu se aproximou e deu um beijo na minha mão, e alisou minha barriga. Ele era um grande amigo.

_Ele ainda está ai – Julia disse – Você vai deixa-lo entrar?

Eu olhei para o lado, e suspirei. Eu precisava deixa-lo entrar. Precisava acabar com isso.

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