One Less Lonely Girl

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— Mas que droga de fila. — Grunhi, revirando os olhos.

— Calma. — Minha mãe disse ofegante, se abanando pelo calor.

Eu não estava exatamente reclamando por estar na fila, era a ansiedade para entrar que me incomodava. Os portões já estavam abertos há alguns minutos e eu tinha acabado de ir ao banheiro de uma lanchonete ali perto. Minha mãe havia ido antes. Havíamos chegado umas sete horas e durante o dia nossa maior atividade foi comer salgadinho, bolacha, e uns lanchinhos que minha mãe fez. Preocupei-me remotamente com a possibilidade de termos dor de barriga. Seria hilário. Ou desastroso. E é claro que a fila já estava giga enorme quando chegamos.

— Calma. Tá passando rápido. — Ela repetiu ao ver minha agitação, mentindo.

A coitada estava quase morrendo com o calor, suando as bicas. Eu que estava de preto, mal percebia a temperatura sufocante, completamente focada no prêmio: entrar  de uma vez na Arena Anhembi. Contudo, ao ir ao banheiro passei água com sabonete nos braços, pescoço e rosto, refutando a possibilidade de ficar fedorenta — muito disposta a contrariar a física ou química, fosse lá a matéria idiota que estuda o suor. Por um milagre, o perfume que passei ainda exalava de alguma parte do meu tronco, ao passo que meu cabelo exalava seu cheiro de Elséve.

Naquele momento, a fila começou a andar de novo. Amém!

— Tenho que fazer uma ligação! — disse apressada ao me lembrar, pegando meu celular. Minha mãe mal me deu atenção, compenetrada na tarefa de se abanar.

Chamou duas vezes e ela atendeu.

— Alô?

— Feeer! 

Fernanda, minha melhor amiga de infância alta, de cabelos encaracolados e olhos castanhos me respondeu com cautela:

— Fala Isa. Como tá? Quer que eu dê uma passadinha aí hoje? Sei como é difícil pra você.

— Obrigada Fer, mas não estou em casa.  — Disse animada.

Em minha defesa, eu havia sido surpreendida com a notícia menos de 24 horas atrás, foi praticamente inumanamente possível ligar para ela a fim de contar as novidades.

— Ah é? Está a onde então? — Indagou desconfiada.

— Adivinha... — Fiz suspense, já satisfeita por imaginar a reação dela.

— Hm... o shopping?

— Não.

— Mercado?

— Não.

— Parque?

— Não. — Conforme ela errava eu ficava ainda mais empolgada.

— Casa do Justin? — Ela brincou.

— Quem me dera. Mas não.

— Sei lá, fala aí. — Desistiu, a voz saturada de curiosidade por toda a minha cerimônia.

— Se prepara... Estou...na — Pausa dramática porque eu nasci para dramatizar — fila...da... Believe Tour! — Gritei empolgada.

A minha volta não houve nenhuma reação pelo meu projeto de escândalo, todas ali estavam tão eufóricas quanto eu por aquele mesmo motivo.

— Aaaaai meu Deus! — Guinchou ela — Parabéns, menina! Vai entrar de penetra?

— Não. Consegui os ingressos. Na verdade, meu pai e minha mãe compraram pra mim secretamente, dá pra believar?! — Berrei, saltitando no mesmo lugar. Captei um olhar presunçoso da minha mãe.

November [REVISANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora