Agitação

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Acenei para Kenny ao descer e, suspirando, olhei para frente, a procura da minha mãe. Ela estava alguns metros a frente, parecia mais irritada agora ao passo que não me encontrava. Sorri um pouco, mas eu estava chorando.

Respirei fundo e contive minha vontade de voltar para dentro da van, não podia nem olhar para trás, com receio de que fosse demais para meu autocontrole. Dei dois passos e senti uma mão em meu braço, me impedindo de andar. Assim que me virei meu queixo caiu. Era o Justin?

Meu sorriso gigantesco foi instantâneo ao mesmo tempo em que fiquei confusa.

— Tive a impressão de que você saiu um pouco triste, eu não poderia admitir isso — ele me abraçou de novo enquanto meu coração disparava — Você é especial, Isa, posso te chamar assim? — Assenti com a cabeça escondida em seu peito. Meu apelido. Ele me chamando pelo meu apelido?! — Não quero que fique triste. Vocês são minha força. Pode apostar que vou me lembrar de você. Foi um prazer enorme te conhecer. E lembra que, quando você sorri... — ele levantou meu queixo e olhou nos meus olhos sem piedade nenhuma — Eu sorrio.

Um sorriso se espalhou pelo meu rosto e ele refletiu-o.

— Heloísa? Heloísa? — Ouvi a voz da minha mãe e me virei. Ela estava a alguns passos de mim, quase tendo um enfarto.

— Mãe! — A abracei quando ela se aproximou mais.

— Menina! — Ela disse pegando em meus ombros, mas seus olhos foram para trás de mim e se arregalaram. Ela me cutucou como se tivesse visto um fantasma.

Virei-me para um Justin sorrindo. Quase desmontei, mesmo que soubesse que ele estava ali antes.

— Mãe, — me soltei dela e fui para o lado do Justin, grudando em seu braço — esse é o Justin — anunciei muito emotiva. Ainda não conseguia acreditar que ele havia descido da van só para me dar outro abraço de despedida por ter me sentido triste. Fiz o máximo para não demonstrar o sentimento ingrato. Mas, depois daquilo, estava feliz que ele tivesse notado.

— Ah meu Deus — o queixo dela caiu e nós dois rimos — Prazer, Justin — ela disse estendendo a mão para ele, que pegou em seguida. Essa era uma das únicas palavras que ela sabia e ele sorriu pelo esforço dela.

— Prazer — respondeu sorrindo.

— Como...? — Ela me olhou assustada.

— Depois explico, mãe. Vou só me despedir dele. — Aliás, Scooter deveria gostar um pouco menos de mim agora.

Ela assentiu e ficou nos olhando desnorteada.

Abracei ele forte no mesmo momento.

— Eu sei que você tem que ir. Não se esqueça de sorrir, nem que eu amo você — murmurei bem mais feliz pela consideração dele.

Ele emitiu um ruído fofo do fundo da garganta e afagou minhas costas. Esse menino faz a mínima ideia de como fica extremamente fofo assim? 

— Não vou, e você também. Sorria e não se esqueça que te amo.

Balancei a cabeça, meus olhos ainda úmidos por aquele momento fantasioso. Sem vontade, mas tomada por um instinto responsável, afastei-me dele e tomei a liberdade de beijar sua bochecha macia de novo.

— Tchau, Justin.

— Tchau, Isa.

Seus dentes faiscaram com um quê de missão cumprida e logo em seguida, ele entrou na van. Eu não havia prestado muita atenção em Kenny logo atrás, mas, quando o notei, trocamos um aceno antes que ele subisse também.

November [REVISANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora