Voltamos do bar.

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Quando chegamos ao hotel eu já me sentia um pouco melhor, mas me vai suja precisava de água quente para ver se com as gotas minha lembranças iriam juntas.
Gabriel abriu a porta do carro para mim e passou a mão pela minha cintura.
Passamos pelo Lobby do hotel e fomos em direção ao elevador.
Quando chegamos ao andar de nossos quartos, Gabriel me guiou em direção ao seu quarto. Não protestei.
Ele abriu a porta e eu entrei primeiro.
Era absurdamente lindo, mas lindo do que o que eu e Ingrid estávamos hospedadas.
Na sala às paredes eram de um vermelho vinho, os dois sofás marrom chamavam atenção. Andei para me sentar em um sofá, e dali dava para ver a cozinha, com uma parede preta onde o armário branco se encontrava. As outras paredes da cozinha eram brancas com uma mistura de móveis branco e pretos.
Gabriel se sentou ao meu lado.
- Como você está? - Perguntou ele.
- Bem. - Forcei um sorriso. - Só preciso ir para o meu quarto tomar banho lá.
- Está bem mesmo? - Gabriel ergueu uma de suas sobrancelhas
- Sim estou. - Menti; pois eu ainda estava apavorada.
Me levantei.
- Vou para o meu quarto. -Falei.
- Toma banho aqui Lis, e quando você sentir sono pode ir. - Dava para ver Gabriel se esforçando para mim ficar ali.
- Tudo bem, mas eu preciso das minhas roupas. -Digo.
- Eu pego. - Ele sorriu.
Então Gabriel se levantou e me levou até o corredor perto da cozinha. Paramos em frente a porta branca.
Gabriel me abraçou inesperadamente, tão forte e demorado que senti que as lágrimas iriam cair ali mesmo.
Quando ele me soltou nós rimos.
- Está muito doce. - Falei.
- Só por hoje, então não se acostume. - Disse ele firme.
- Claro. - Concordei e entrei no banho.
Tirei minha roupa peça por peça, liguei o chuveiro e amarrei o cabelo em um coque. Enquanto a água caia até o chão deixei que minhas lágrimas descessem pela última vez.
*******
Quando sai do banho Gabriel estava sentado no sofá, enrolei mais a toalha em meu corpo.
- Pensei que ia acabar com a água toda. - Ele sorriu.
- Não tem nada melhor pra fazer do que cuidar da minha vida? - Suspirei e sorri também.
- Claro que tenho! Tirar sua paciência.- Ele disse friamente.
- Onde está a roupa? - Perguntei.
- Para que roupa? Você fica tão bem assim. - Seus olhos percorriam meu corpo.
- Eu sei que fico, e também sei que você adora isso. - Me curvei um pouco e passei a mão por minha perna que ainda estava húmida, subi com os dedos em volta dela e quando cheguei perto da toalha Gabriel já não tinha nem reação além de me olhar.
Voltei a ficar reta e ele soltou um ar de decepção.
- Sem showzinho? - Falou ele fazendo bico.
- Sem showzinho. - Gargalhei com sua expressão. - Onde estão minhas roupas?
- Na porta a sua direita. - Gabriel virou agora para um jornal que estava ao seu lado e começou a lê-lo.

Abri a porta que Gabriel tinha dito. Percorri meus olhos pelo o ambiente e então aquele era o quarto de Gabriel.
Uma enorme cama estava ao centro do quarto. Havia uma imensa parede atrás da cama de cor preta. E as outras estavam em um branco mais neutro do que no resto do lugar.
Tinha uma televisão ao canto do quarto que era imensamente grande. Os móveis estavam tão alinhados em seus lugares que era impressionante.
Segui até a cama de Gabriel e vi minhas roupas em cima da cama.
Roupas íntimas e um short absurdamente curto, com uma blusa que além de muito decotada, parecia que faltava pano.
Sorri, isso era coisa do Gabriel.
Vesti às roupas íntimas e o shorts. Fui até o guarda-roupa de Gabriel e peguei uma Blusa preta de longas mangas.
Vesti ela e soltei meu cabelo.
Voltei até a sala onde Gabriel ainda estava sentado. Ele olhou para mim e sorriu com a blusa.
- Ficou ótima em você, mas acho que você é um pouco mais magra que eu. - Sua voz ainda era firme de um jeito que eu sempre adorei.
- Um pouco? Estou parecendo um palitinho dentro de um balão. - Falei sorrindo.
- A roupa que eu tinha separado pra você também teria ficado legal. - Disse ele com um meio sorriso.
- Você sabia que esse seu jogo pode ser jogado a dois? - Perguntei.
- Desde que você sabia as regras, que por acaso são as que eu criei. - Falou ele.
Sentei ao seu lado no sofá com as pernas de índio.
- Eu não sigo regras. - Digo.
Ele soltou uma risada tão gostosa de se escutar.
- Do que você está rindo? Perguntei.
- Você não segue regras? Logo você tão certinha. - Gabriel passou a mão por seus cabelos os bagunçando.
Senti vontade de arrumar o cabelo dele mas Gabriel continuava perfeito assim.
- Não corta meu barato tá. - Falei fazendo bico.
- É meu passatempo preferido. - Disse ele.
- Tô com fome. - Fiz bico.
- Posso pedir para trazerem batata frita se você quiser. - Gabriel pegou o telefone.
- Pra que pedir pro serviço de hotel, sendo que você tem uma cozinha bem aqui? - Perguntei curiosa.
- Porque é mais fácil. - Disse ele.
Gabriel discou o número um e clicou em ligar.
- Boa noite, pode trazer duas porções de batata frita por favor? - Gabriel esperou alguns instante. - Okay, obrigado. - Então ele desligou.
- Você nem disse seu nome, ou o número do quarto. Como eles vão saber? - Enrolo uma mecha do meu cabelo no dedo.
- Eles tem identificador, conseguem saber que sou eu. - Respondeu Gabriel.
- Uau. - Digo impressionada.
Ele sorriu e passou a mão em meus cabelos.
- Está bem mesmo Lis? - Perguntou Gabriel olhando em meus olhos.
- Estou melhor. - Suspirei.
- Que bom. - Diz ele.
- Me conta uma das suas aventuras. - Digo me apoiando mais no sofá.
- Daqui de Atlanta? - Perguntou.
- Sim. - Falo.
- Quando eu era mais novo, por volta dos vinte anos, eu ia todo final de semana para um barzinho bem conhecido aqui em Atlanta. Só que nesse bar eles não se importavam com sua idade, se você tivesse de quinze para cima estava bom. - Gabriel passou a mão pelos cabelos. - Tinha um grupo de garotas frequentes lá, acho que eles tinham uns quinze anos mas todas muito bonitas.
- Você ficou com uma delas? - perguntei rindo.
- Posso continuar garota? - Gabriel sorriu também.
Fiz que sim com a cabeça e então ele continuou. - Uma delas tinha se interessado por mim, a garota era muito legal, educada e muito tímida. Só que eu tinha vinte anos, jamais ficaria com uma garota tão mais nova.
- Ela era só cinco anos mais nova que você. - Falo.
- Deixa eu continuar, pelo o amor de Deus. - Pediu Gabriel.
- Tudo bem. - Soltei um leve riso.
- Um dia eu estava apoiado na mesa e ela veio por trás e pegou na minha bunda. - Gabriel e eu gargalhamos. - Mas ela pegou mesmo, abriu a mão e apertou com vontade. Então quando eu olhei para ela, ela disse que só estava limpando. Depois saiu falando para as amigas que minha bunda era durinha mesmo e isso e aquilo.
- Você deve ter ficado feliz, ela ajudou seu ego a inflar. - Digo.
- No mesmo dia, o grupo de amigas dela estavam sentados com o meu. E ela estava junto. Começaram a falar sobre uma festa que iria ter sei lá a onde. Mas era aquele tipo de festa de casal. Lembro, que eu perguntei para ela se ela iria ir, mas ela disse que não ia ficar de vela lá. Então eu disse para ela que ela deveria arrumar uma companhia la, e ela respondeu " Vai estar todo mundo de casal, e quem eu quero que me acompanhe já namora". - Gabriel fazia aspas com os dedos.
- Bem dramática ela né? - Pergunto.
- Um pouco. - Respondeu ele e continuou. - Não dei muita bola pro comentário dela, mas depois, ela me perguntou se eu ia levar minha namorada. E eu disse que se eu arranjasse uma até lá, eu levaria. Então ela me olhou e perguntou " mas você não namora mesmo?". E eu disse que já que ela tinha me colocado como comprometido, que me mostrasse minha namorada para mim aproveitar um pouco. Ela riu e disse que me encontrava então no evento.
- E você foi? Ficou com ela? - Digo interessada.
- Você é muito curiosa, calma. - Gabriel sorriu. - No dia do evento ela me tirou para dançar, e dançamos boa parte da festa. Ela deu um pouquinho em cima de mim, mas eu fiquei na minha. No fim da festa ela pediu carona, e eu dei. Só que quando chegamos na casa dela ela disse que os pais dela não estavam lá, então pediu para mim esperar com ela. Porque ela não queria ficar sozinha, eu disse que sim. Depois entrei e sentei no sofá. Ela foi para o quarto e depois de alguns minutos, ela voltou completamente nua.
- Nua? Nua? Nossa! E você fez o que? - Perguntei espantada.
- Não deu tempo de fazer ou pensar em nada, ela começou a dançar, e ela dançava bem. Porém enquanto eu olhava, o pai dela apareceu. Ele ficou louco de raiva, disse que eu era um pedofilo, que eu deveria ficar longe da filha dele. Meu Deus eu fiz foi ir embora dali, daquela família de louco. - Disse Gabriel.
- Meu Deus! Nossa. Mas e o pai dela não disse nada para ela? - Digo.
- Sim, mas não tanto quanto ele falou para mim. - Respondeu Gabriel.
- Então o final da história é, você saiu como safado mas nem pegar a menina você pegou. - Falo com ar de professora.
- Pior que eu peguei, eu fiquei com tanta raiva do pai dela não ter visto que era ela que estava nua, não eu. Esperei que ela fizesse dezoito anos, e foi aí que eu fiquei com ela. - Disse Gabriel.
- Nossa você é muito vingativo. Mas porque esperou tanto tempo? - Perguntei.
- Porque eu já disse, não fico com garotas mais novas. Você foi uma exceção. - Gabriel me olhou firme.
Sorri para ele. - E qual era o nome dela?
- Paloma. - Respondeu ele.
- Paloma, a Paloma que eu conheço? Ela é nova assim? Nossa a Paloma? - Perguntei incrédula.
- Sim ela. - Falou ele.
Antes que a conversa continuasse a campainha tocou e Gabriel foi atender.
O serviço de quarto chegou com bandejas cheias de pratos com duas porções de batatas fritas, risoto e duas taças.
O rapaz alto e de cabelos raspados me olha serenamente, do pés a cabeça. E depois abre um sorriso tímido, com seus olhos verdes mais claros que os meus.
- Algum problema? - A voz de Gabriel sai dura e ríspida para o rapaz.
- Não... não senhor. - O garoto gaguejava. Ele era bonito de aparência adolescente de dezoito anos.
O rapaz continuava a me olhar, agora fixamente em minhas pernas.
- Por acaso seu trabalho é trazer a comida ou ficar cobiçando a minha mulher? - Gabriel continua ríspido.
Puta merda! Gabriel disse " minha mulher". A cada vez que ele insinua que sou sua, algo em mim formiga feliz.
- A comida senhor. - O garoto recuperou a voz, mas parecia tão pequeno perto de Gabriel.
- Qual é seu nome? - Gabriel o estudava.
- Willian senhor. - O rapaz tinha uma postura frágil.
Senti pena dele, queria pedir para Gabriel parar. Seu ciúmes já estava indo longe de mais.
- Eu posso te despedir por essa sua inconveniência, Willian. - A voz firme de Gabriel era ilegível.
- Desculpe senhor. - Willian olhava para o chão.
- Estou pensando em qual a sua utilidade neste hotel, garoto Willian. E ainda não pensei em nada. - Gabriel parecia estar em uma luta, onde ele só desistiria quando Willian estivesse a nocaute.
Willian estava nervoso, com medo e anseio de perder o emprego. Gabriel estava indo muito longe.
- Gabriel, por favor... - Parei de falar quando Gabriel me olhou frio.
- Pode ir rapaz. - Gabriel disse para Willian.
- Sim senhor. Desculpe me de novo senhor. - Willian deixou as bandejas ali e foi até a porta com a cabeça baixa. - Com licença.
Willian passou pela porta, a fechando atrás de si.
- Não precisava ter tratado o rapaz assim. - digo séria.
- Pense nisso, da próxima vez que quiser flertar com um funcionário do meu hotel. - Gabriel estava em pé me encarando.
- Eu não estava flertando com ele, seu maluco. - Respondo fazendo careta.
Ele vira de costas para mim e vai até um mini frizer perto da televisão.
- Quer vinho? - Gabriel pergunta.
Ele tem problema só pode, começa uma discussão e depois muda de assunto. Essa mudança de humor dele é tão impossível de acompanhar.
- Quero. - digo calma.

Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora