Capítulo 2

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Passando pelo portão, fui até a administração da faculdade fazer a minha inscrição pras aulas do dia, escolhi seis matérias. Faria três de manhã e três a tarde, assim seria mais fácil.

Na Sullivan você decide em quantos anos termina seus estudos, se você tiver assistido todas as aulas da sua grade acadêmica, você se forma.

Os professores estarão em suas salas dando suas aulas, e você decide quando quer assistir.
Havia pessoas que terminavam em 2 ou 3 anos, e outras demoravam até 8.
E eu pretendia fazer tudo com calma, não queria só me formar simplesmente, mais aprender aquilo que eu precisava, levando o tempo que fosse.

Meu intuito não era de fazer amizades ali, não queria distrações, não queria amigos me chamando para matar aula ou passar a noite em um barzinho bebendo, o que não garante que as pessoas não se aproximassem de mim. Mesmo que fosse pra me fazer mal.

Enquanto eu verificava uns anúncios em um quadro colado no corredor do primeiro andar, um garoto alto, magro, de óculos e com os cabelos encaracolados, passou por mim, ele usava roupas 3 vezes maior que ele, e uma pochete aonde ele guardava vários remédios diferentes.

Andava sempre com a cabeça baixa e arrastando os pés, logo na direção oposta veio um grupo de garotos, não eram bonitos e nem fortes, mais eram muitos, talvez uns 8.

Eles passaram pelo menino e derrubaram sua pochete no chão, enquanto o empurravam para as mãos de outros garotos, que estavam em uma roda.

O menino sussurrava bem baixinho, para que eles parassem, e quanto mais ele falava mais eles faziam. Não houve violência física, mais muita violência verbal, pelo fato do menino ser bem diferente de todos.

Fiquei extremamente irritada com aquela cena, acontecendo bem embaixo do meu nariz, as pessoas passavam e simplesmente ignoravam o que estavam fazendo. Até mesmos alguns professores, apenas o olhavam de longe.

Não podia mais deixar aquilo acontecer, eu sofri por muitos anos com bullyng, e pode ter certeza , guardei marcas daquelas agressões verbais até hoje. Dói de verdade.

- Parem com isso!

Gritei com fúria, ficando de frente para os garotos, que pararam de puxar a mochila do menino e jogar seu material no chão. Todos me olharam com cara de poucos amigos, e um magrelinho cheio de espinhas, que deduzi ser o chefe do bando veio até a minha direção.

-E você vai fazer o quê se a gente não parar. Hein gatinha?

Senti seu hálito nada cheiroso bater em meu rosto. E ele deu um sorriso de canto, mostrando seu dentes metálicos.
Eu não queria arrumar briga, não no meu primeiro dia de aula. Porém não podia ver uma injustiça como aquela na minha frente.

Respirei fundo tentando não voar no pescocinho daquele magricela, uma coisa que eu aprendi era que, depois de ter que ouvir tantos apelidos, a gente aprende a repetir eles.

-Olha aqui seu pau de virar tripa! Se eu fosse você, não falaria nenhuma gracinha pra esse garoto, porque o que difere ele de você, é que ele não tem esse cheiro de gambá molhado, que acabou de sair do esgoto e nem essa voz de gravador estragado, então você merece ser muito mais zoado do que ele.

Os garotos que estavam com ele, soltaram uma gargalhada que foi difícil não rir junto, o menino olhou pra trás, com o rosto mais vermelho do sua espinha da testa, e riu sem graça.

-Olha aqui manezão! Bullyng é crime, e não é nada legal quando é com a gente né? portanto recolho a sua insignificância e saia da minha frente. Falei e fui na direção do menino que estava deitado no chão, com seu material espalhado pelo corredor.

Os outros sairam em grupo, zuando aquele estranho que eu havia acabado de botar em seu devido lugar.

- Você está bem? Perguntei para o garoto que estava no chão, oferecendo minha mão para ele se levantar. Ele fez que sim com a cabeça e começou a recolher seu material, com a minha ajuda.
- Você não precisava ter feito aquilo. Ele falou finalmente.
-agora eles vão pegar no seu pé! Eu já estou acostumado com essa zoação.

- Não se preocupe, eu sei me cuidar! Falei sorrindo brevemente, na verdade eu não sabia não, mais eu não iria mais me deixar ser humilhada por nenhum idiota que se acha o maioral.

- Meu nome é Bélgica! Mais pode me chamar de Bel. Falei estendendo uma mão em sua direção. Ele parou o que estava fazendo e apenas encarou a minha mão, como se não conhecesse o simples hábito de apertar as mãos.

Franzi a testa e esperei que ele respondesse a minha delicadeza, depois de alguns segundos de vácuo, ele apertou minha mão se apresentou educadamente.

-Prazer Bel! Meu nome é Alfie!
Ele falou quase que sussurrando, e continuava olhando para baixo muito tímido.

Resolvi puxar assunto antes de minha aula começar, não custava nada passar um pouco o tempo.

-Então Alfie. Você tá cursando o quê?

-Literatura antiga! E depois a contemporânea.
É um curso mensal.

Os cursos mensais eram menos corridos que as aulas diárias, e a pessoa poderia escolher estudar um pouco mais sobre alguma matéria do seu curso normal.
Por exemplo, se eu estivesse em dúvida sobre uma matéria de direito, eu comprava um pacote extra de aulas, e recarregava meu cérebro.

-E você? Alfie perguntou ainda sem me olhar nos olhos, ele parecia ser muito tímido e evitava contato direto comigo.

Quando abri a boca para responder, o sinal sonoro tocou, anunciando o início das aulas. Alfie se virou e foi na direção de sua sala, sem esperar minha resposta ou se despedir.

Agora eu entendi porque ele só vive sozinho.

Fui em direção a minha sala qie ficava no segundo andar. Chegando nela, quase cai dura pra trás, quando vi quem estava na minha sala também.

O magrelinho que eu tinha encontrado no corredor, ele me viu também assim que entrei na sala e me deu um sorrisinho de canto. Que por sinal eu não gostei.

Fiz uma cara de lutador de MMA e entrei na sala, me sentando na primeira fileira, para poder ficar bem perto do professor.

A aula foi bem produtiva, o professor ja começou nos emchendo de matéria, e passando três livros para ler em casa. Para entregar em dois dias.
Nada muito alarmante para o primeiro dia na Sullivan.

Após o término, resolvi ir andando para casa, que não ficava muito longe, o caminho não era muito bonito, mais era tranquilo e o sol estava agradável.

Passei por algumas lojas que estavam fechadas pela grande crise econômica que pairou em nosso país.

Os nobres não faziam nada a respeito, por isso ouvi rumores de uma rebelião contra a monarquia. Não sabia ao certo, também não gostaria de saber.

As pessoas nunca sabem protestar civilizadamente, sempre quebram patrimônios públicos, achando que assim vão conseguir chamar a atenção dos reis. Mais no fim eles mesmos são os prejudicados.

Chegando na minha casa, meu pai já estava preparado o almoço, passei alguns minutos com ele enquanto comíamos, e logo me tranquei no meu quarto para ler os livros da aula de hoje. E já preparando os resumos para entregar.

Acho que agora em diante minha vida vai ser sempre assim, estudando sozinha e me esforçando para não perder minha chance de estudar na Sullivan.

As Voltas Que A Vida DáOnde histórias criam vida. Descubra agora