Capítulo 9 - Thomas

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Acordo em um domingo nublado, um pouco antes das oito da manhã e fico me revirando na cama, me lembrando da minha discussão com Bianca à dois dias.
Eu fui ingênuo, acreditei nela, acreditei que podíamos ser amigos, mas ainda assim ela agiu como todos os meus antigos amigos e namoradas, me julgando e me chamando de riquinho mimado. Evitei ela durante as aulas, mas ela não saia da minha cabeça, eu não consigo entender o porque. Não é novidade me ofenderem, quando acontece eu simplesmente esqueço, mas com ela é diferente, tento esquecer esses pensamentos confusos e me levando para fazer minha higiene e tomar um banho.

Estou assistindo tevê à duas horas quando Alice desce e vai direto para a cozinha, "Essa menina não muda" .
- Bom dia pra você também!!! - digo tentando chamar sua atenção, mas sou ignorado completamente.
Ela vai no balcão, pega um pote de biscoitos e se senta comigo no sofá.
- Bom dia. - ela fala sem nenhuma emoção na voz.
- Nossa quanto ânimo! - falo com um tom de ironia.
- É, e sua cara é o reflexo do meu humor. - eu fico surpreso com sua resposta, ela deve estar com um péssimo humor - Agora pode me contar porque de uns dois dias pra cá você anda de tão mau humor, e não adianta falar que não está porque eu sei quando está de mau humor. - ela fala colocando ênfase no 'você'.
- E como é que eu fico quando estou de mau humor, senhorita Alice? - falo um pouco irônico.
- Viu? Você fica assim, irônico. - ela falou apontando pra mim.
- Eu estou normal, não estou de mau humor. - falo tentando colocar um ponto final no assunto.
- Thomas eu te conheço dês dos meus 4 anos, acho que tive tempo suficiente para saber como fica quando está de mau humor! - ela fala exigindo uma resposta, me deixando sem saída, então respiro fundo tentando pensar em uma explicação decente.
- Lembra da Bianca? Ela me levou até você, quando teve a crise essa semana. - ela acente com a cabeça e eu continuo encurtando a história - Nós nos aproximamos um pouco e ela me chamou de riquinho mimado.
- Isso não é novidade, tenta esquecer isso.
- Eu sei, estou tentando esquecer... - não consegui terminar a frase, pois as palavras "eu não me importo" não conseguem ser pronunciadas. 
- Devia dar uma volta pela cidade, você sempre volta melhor depois que dirige um pouco.
- Você tem razão, mas quando eu voltar quero que me conte o porque de estar com essa cara! - falei esperando que ela fosse negar, mas ela simplesmente acena com a cabeça.

Faz vinte minutos que estou dirigindo, pensando no que Bianca falou quando um sentimento ruim, mas famíliar, começa a se agitar em meu peito, ele parecia querer sair de qualquer forma, mas ele estava preso, sufocado por anos.
Sou tirado dos meus pensamentos (sem esquecer da dor que parece estar comprimindo minha garganta) pelo toque do celular e atendo sem ver quem é.
- Alô. - falo tentando segurar as lágrimas, que deixam minha visão turva, com a voz embargada, mas tentando me recompor.
- Thomas, preciso que faça um relatório pra mim com os números que minha secretária vai lhe mandar, preciso dele para segunda, entendeu? - fala meu padrasto com o que parece ser tédio na voz.
Eu encosto o carro no acostamento, pra me acalmar e tentar pensar com clareza.
- Claro. - tento responder no mesmo tom, mas não sei se dá certo.
- Mais uma coisa, a diretora da escola me ligou, disse que Alice teve uma crise, ela está bem? - ele fala em um tom preocupado, mas eu o conheço bem o suficiente pra saber que é fingimento.
- Ela esta ótima. - falo com uma ponta de raiva na voz. Faz mais de quatro dias que ela teve a crise e ele só liga pra saber dela agora!
- Que bom, não esqueça de fazer o relatório. - ele desliga sem cerimônias.
Ligo o carro e recomeço à dirigir, pensando nos relatórios.
Uma vez por mês, Valter me dá alguma tarefa da empresa, normalmente trabalho que ele deveria fazer ( ele me assumiu como filho depois que se casou com minha mãe, à pedido dela, por isso eu tenho a 'obrigação' de assumir a empresa, o que só vai acontecer depois que ele morrer).
Pensar em Valter, me faz pensar na minha mãe, que traz uma nova onda de dor ao meu peito.
Depois de um tempo começa à chover forte, então acho melhor voltar pra casa. Neste meio tempo percebo o quanto dirigi,  estou perto daquele restaurante em que estive com Bianca, esse pensamento trás nossa 'briga' de volta à memória, balanço a cabeça para afastar esses pensamentos. Mas isso só faz com que novas perguntas surjam na minha mente, mas dessa vez, dúvidas sobre quem ela é. O que na vida dela foi tão difícil? Por que ela me tratou daquela forma? Que é você Bianca?
O sentimento de raiva e dor foi substituído por curiosidade.

Assim que abro a porta de casa, vejo Alice dormindo tranquilamente no sofá com a tevê ligada. Chego mais perto, sento no chão ao lado da sua cabeça e à observo enquanto dorme. Começo à relembrar nossos momentos juntos, apesar de não sermos irmãos de sangue temos uma relação de cumplicidade e sinceridade. Por um tempo, tento imaginar minha vida sem ela, mas não consigo, percebo então que ela faz parte da minha vida, da mesma forma que respirar. Sou tirado dos meus pensamentos com alguém acariciando meu cabelo. Olho para ela:
- Não te vi chegando, desculpa. - ela fala com uma voz de sono.
- Oi dorminhoca, não faz muito tempo que eu cheguei. Quer conversar agora ou vai dormir mais um pouco?
- Não, estou precisando mesmo falar com alguém. - ela faz uma pausa e imagino estar pensando em como falar. - Vou fazer uma pergunta, mas não é pra ficar bravo, está bem? - ela falou um pouco receosa.
- Vou tentar... - minha expressão passou para cauteloso, quando ela fala coisas assim eu geralmente fico assustado.
- Você não iria se opor se eu começasse a namorar, não é? - ela fala com um pouco de receio na voz.

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Olá leitores, espero que gostem do cap.
Eai o que acham que vai acontecer? O que será que Thomas vai fazer? Vai deixar Alice namorar ou não.
Bjs, amo vocês, até o próximo cap! :)

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