Capítulo 26 - Thomas

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Volto a realidade quando Seth passa por mim, me dando um tapinha nas costas e dando tchau antes de ser puxado pra fora por uma Sarah apressada (eles tem uma relação estranha). Ouço Bianca rir atrás de mim, essa é a primeira vez que a ouço rir essa semana, percebo como senti falta desse som.
Zack não veio hoje, ele não me explicou detalhadamente, só me disse que estava com problemas em casa e que não poderia vir por esse motivo, foi o que ele disse para Bianca também. Sendo assim estamos só eu e ela no studio.
Ela disse ao Seth que tinha que resolver algumas coisas no centro e que por isso não iria precisar de carona.
Quando ela chega a porta e a encontra trancada se vira na minha direção com a intensão de me pedir para abrir, vê que eu a observo e que já teria aberto a porta se quisesse.
Eu desvio o olhar e falo olhando pro chão:
- Nós precisamos conversar, não acha?
Não recebo uma resposta então direciono meu olhar pra ela, que está olhando fixamente para a maçaneta da porta. Depois de dois segundos ela fala.
- Não. - Ela fala categórica, mas sua sua voz falha.
Eu me sento em uma cadeira que está ao lado da mesa de som.
Coloco a mão perto do botão que abre a porta, dando a entender que nenhum de nós iria sair sem que nosso conversa acontecesse.
Ela entende o recado e coloca as suas costas na porta, mas não me olha.
- Me perdoa... - Não foi a primeira coisa que pensei em falar, mas é a primeira que sai.
- Eu realmente estou disposta a tentar esquecer o que aconteceu, mas porque você tem que tornar as coisas tão difíceis? - Ela só me olha no final da frase.
- Não gosto do modo como você quer esquecer se esse modo é me esquecendo também.
- Eu não estou me esquecendo de você... - Levanto minha sobrancelha.
- Sério? Porque eu estou surpreso de você ainda se lembrar de quem eu sou depois que me evitou os últimos dois dias, não atendeu minhas ligações e cortou todas as minhas tentativas de tentar conversar com você. - Ela escorrega lentamente, até se sentar no chão e olha para algum ponto a sua frente. Eu caminho e me sento ao seu lado. Engulo em seco antes de falar. - Eu entendo que esteja chateada comigo ou até mesmo com raiva, mas se não quiser que sejamos mais amigos eu vou entender e vou respeitar sua decisão, só peço que me diga pra eu não ter que ficar esperando. Ok?
Me levando e vou a mesa pra continuar desligando tudo. Não ouço seus passos, mas sinto sua mão em meu ombro, me retesso automaticamente, mas relaxo porque sei que é ela.
Ela aperta meu ombro chamando minha atenção. Me viro pra ela e espero por suas palavras, mas sou surpreendido por seus braços rodeando meu pescoço, suspiro de alívio e envolvo meus braços ao seu redor parando eles na base da sua coluna, e ela cabe perfeitamente entre meus braços, nem tão grande, nem tão pequena. Seus cabelos estão soltos e exalam um leve cheiro de limão.
- Não queria ter me afastado, mas eu não vi outra solução e eu quero que entenda, somos só amigos não vai passar disso, tudo bem? - Meu peito dói como se estivessem o perfurando com garras afiadas. - E bom, não é todo dia que alguém me defende. Se você esquecer que te evitei nos últimos dois dias, eu esqueço o que aconteceu... - Fico um pouco triste por ela querer esquecer o nosso quase beijo, mas se essa é a única parte dela que posso ter agora, vou me contentar com isso.
- Tudo bem... - Ela me abraça mais forte escondendo seu rosto no meu pescoço em resposta aperto-a um pouco trazedo-a mais pra perto, mesmo que nossos corpos ja estejam colados. Porém assim que a aperto sou surpreendido por um gemido de dor, me assusto e levo me tronco um pouco para trás desfazendo meu abraço e segurando na sua cintura. Ela ainda está fazendo uma careta de dor quando a olho, mas ela tenta disfarçar e falha miseravelmente.
- Está machucada? Jack voltou na sua casa e bateu em você? - Falo já ficando furioso com ele. Ela levanta a cabeça e responde apressada.
- Não! Jack não voltou, só o vi na escola e ainda sim ele me evita de todas as formas. - Quando ela termina a frase minha cabeça já está imaginando possíveis agressores, mas não preciso ir muito longe, porque ela mora com uma.
Em uma busca rápida pelo seu corpo vejo que não à um pedaço de sua pele descoberto apesar de não estar fazendo muito frio, está até fresco.
- Fora aqui... - Eu coloco a mão por cima da base de sua coluna sem apertar. - Onde mais ela te machucou? - Contínuo falando de uma forma séria e contida. Ela olha para os lados de forma nervosa antes de responder e sei que está procurando uma saída, uma mentira.
- A verdade, Bi... - Ela suspira e responde com um pouco de hesitação.
- Depois que eles chegaram do passeio, ela viu a caixa da comida chinesa no lixo e me colocou no armário de baixo da escada, só que no caminho eu esbarrei em algumas coisas, só isso... - Massageio minha tempora com a mão direita evitando seu olhar. Ela apanhou por minha causa. Ela adivinha meus pensamentos e fala com a cabeça novamente no meu pescoço.
- Sei o que está pensando, não foi culpa sua, não foi culpa de ninguém.
Volto a colocar minha mão na base da sua coluna novamente. E ficamos assim por alguns minutos.
- Você não está atrasada para o seu compromisso aqui no centro, senhorita? - Digo em um tom leve, na tentativa de fazê-la relaxar um pouco.
- Na verdade não dá pra eu me atrasar porque a farmácia é 24 horas.
- Farmácia? - Pergunto de forma curiosa.
- É, minha pomada pra hematomas acabou. - Ela fala um pouco rapido, no automatico, fico com raiva só de pensar nela tendo que passa pomada em todos os hematomas, a aperto sem perceber e ouço seu gemido de dor mais uma vez.
- Desculpa! Não pensei no que estava fazendo.
- Tudo bem. - Ela suspira e se solta do meu pescoço, está sorrindo. - Você pode me levar até a farmácia? É a minha vez de fazer as perguntas... - Eu balanço a cabeça em negação, suspirando, mas sorrindo também. Essa garota me surpreende todos os dias.
Então, a pedido dela fomos à farmácia.
Quando entramos no elevador me lembro de algo.
- O que achou da comida chinesa? - Pergunto quando ela encosta na parede do elevador.
Ela sorri um pouco antes de responder.
- Eu gostei, mas acho que faltou um pouco de pimenta. - Levanto a sobrancelha.
- Então eu acho que vou ter que te levar em um restaurante mexicano, já que não gostou da comida oriental. - Seguro a porta para ela passar, saindo logo depois dela.
- Eu nunca comi comida mexicana, pelo menos não que eu me lembre. - Ela está falando mais com ela mesma do que comigo, mas eu não ligo, só o som da voz dela já é o bastante pra mim.
- Então, escolha um dia, eu busco você, pago o prato que você quiser e te levo pra casa sã e salva. Pode ser? - Ela levanta a sobrancelha em questionamento, quando abro a porta do carro pra ela. - O que?
- Nada. É só que ninguém abre a porta do carro pra uma mulher hoje em dia.
- Os guardas da rainha da Inglaterra fazem isso... - Falo fechando a porta assim que ela entra.
- Você não é um guarda e eu estou longe de ser a rainha da Inglaterra.
- Toda mulher deve se sentir uma rainha da Inglaterra todos os dias.
Dou a volta e entro, quando termino de colocar o cinto de segurança, ela está me olhando de um jeito que não consigo identificar. Eu apenas ligo o carro e saio do estacionamento do subsolo. Já do lado de fora do prédio vou para a farmácia 24 horas mais próxima.
- Queria entender você...
- Achei que você fosse me fazer perguntas para chegar a esse resultado.
- E vou, - Ela se ajeita um pouco no banco para ficar de frente pra mim - O que vai fazer quando acabar o colégio?
- Vou fazer faculdade de Administração e Letras. - Falo sem nenhum tipo de emoção, apenas no automático. Ela pensa um pouco e depois fala:
- Você não quer fazer nenhuma dessas faculdades. - Ela não perguntou apenas afirmou.
- Não... - Falo em meio a um suspiro.
- Então porque vai fazer se não é disso que você gosta? E não me diga que você só tem dinheiro pra essas faculdades.
Não consigo evitar e solto uma risada.
- Tem razão, tenho dinheiro pra fazer qualquer faculdade que eu quiser. Mas preciso fazer esses cursos porque vou assumir a empresa de Valter quando ele morrer.
- Então você vai fazer por obrigação. - Só aceno confirmando - Mas o que você faria se tivesse uma escolha?
- Ciências Contábeis. - Digo com convicção.
- Então se você não fosse cheio do dinheiro seria um simples contador...
- O que posso dizer? Minha relação com os números é inimaginável - Digo levantando uma sobrancelha.
Eu consigo tirar dela uma gargalhada gostosa.
Ela está feliz e eu adoro ser um dos fatores que compõem esse sorriso.

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