Capitulo 13 - Thomas

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Eu estou dirigindo pra casa, depois de deixar Bianca na casa dela, quando Alice começa a fazer perguntas um pouco difíceis de responder, mas dei à ela respostas vagas e isso não estava deixando ela nem um pouco feliz.
- O que a diretora queria com você afinal? - ela falou e pude sentir a impaciência em sua voz, fiquei um pouco nervoso, porque ela iria saber se eu estivesse mentindo, então tentei ser o mais vago possível.
- Ela queria falar sobre alguns trabalhos extracurriculares. - Isso não era mentira, mas ela me olhou desconfiada.
- Se era sobre a gente o que Bianca estava fazendo lá? E por que eu não participei?
- Porque quando seu pai não está aqui, eu sou responsável por você. - Eu queria acabar com aquela conversa, mas acabei desviando a conversa para um terreno delicado.
- Ele é seu pai também. - Alice falou em uma voz baixa, mas audível o bastante pra mim perceber a tristeza em sua voz. Ela virou o rosto pra pra janela me impedindo de ver suas expressões.
- Ele é seu pai, meu padrasto. Não vou discutir isso com você de novo. - Ela não falou nada por um tempo, mas eu sabia exatamente o que ela estava pensando.
Dois dias depois que a minha mãe morreu, Valter me disse que não era pra contar à Alice o que realmente aconteceu minutos antes do acidente. Ele inventou uma história e contou a ela e a imprensa, mas quando ela tinha 13 anos ouviu uma discussão entre mim e Valter.
Ela pediu uma explicação, mas ainda assim Valter insistiu em não contar a verdade à ela, eu não tentei contesta-lo, apesar de me sentir culpado por não contar, mas ao mesmo tempo com medo de contar.
Alice se vira de repente com uma expressão de mágoa no rosto.
- Porque vocês nunca me falam a verdade? - Ela falou, em um tom baixo e com a mágoa presente, mas já sabendo que eu não iria responder. - Eu só queria a verdade.
- Às vezes o melhor é não saber a verdade. - Eu falei de repente, surpreendendo ela e à mim mesmo.
- Você fala isso porque já sabe a verdade. - Ela fala com o ressentimento estampado na voz, ela continua olhando pela janela, mas agora com a testa encostada e o rosto de lado o que me permite ver ao menos um vislumbre das suas expressões - Ela era minha mãe também.
Vejo uma lágrima escorrer em seu rosto enquanto percebo que o mesmo acontece comigo.

Assim que chegamos em casa, Alice se trancou no quarto. Eu pensei em ir falar com ela, mas não tinha ideia do que iria dizer, pois se contasse ela poderia ficar com ódio de mim e nunca mais olhar na minha cara, porém se não fizesse nada ela também iria me odiar, então resolvi dar um tempo a ela.
Perto da hora do jantar fui ver se ela estava acordada e me surpreendi quando vi que a porta estava destrancada, à abri com cuidado pra não fazer barulho, ela estava sentada na cama fazendo o dever de casa, de costas pra porta. Fui até ela em silêncio e olhei por cima do seu ombro. O dever era de cálculo, resolvo então começar nossa reconciliação por um assunto mais calmo.
- Você nunca foi boa de cálculo, quer ajuda? - Ela quase pulou da cama de susto, mas não se vira pra responder.
- Não quero ajuda, sei me virar sozinha.
Ela começa à fazer uma conta que eu já sabia a resposta. Sempre fui bom com números, mas Valter diz que é uma habilidade inútil, pois como vou trabalhar na editora, quando terminar a escola, preciso ser bom com letras.
- O resultado é -5. - Ela olhou pra mim como se quisesse me matar, mas logo depois sua expressão se suavizou.
- Eu preciso das contas, eu já to aqui à mais de uma hora e ainda não consigo entender nada. - Ela para e olha pra mim em um tom de aviso - Só vou aceitar a ajuda porque estou precisando, mas isso não significa que está tudo certo entre a gente.
Dou à ela um sorriso de lado e me sento atrás dela, com suas costas encostada em meu peito e minhas pernas ao seu redor.

Começamos a fazer a lição de casa faz algum tempo, já terminamos, mas Alice ainda parece ter dificuldades, mas é aquele tipo de dificuldade que acaba com a prática então resolvo dar a explicação como terminada.
Não me levantei da cama e Alice também não me expulsou do quarto ainda, ela está com a cabeça encostada no meu ombro respirando calmamente (sempre que estou com ela procuro prestar atenção na sua respiração, que é a primeira coisa que muda quando ela está em crise).
- Eu sinto falta dela. - Alice não cita nomes, mas sei de quem esta falando.
- Eu sei, também sinto. - Ela não pareceu disposta a começar uma briga.
- Você acha que... que... - ela estava com a voz embargada, mas não falei nada. - Acha que existe um céu? E se existe, ela está lá?
Algumas semanas depois da minha mãe morrer descobrimos que Alice estava com depressão, por isso não falamos da mamãe com frequência e por essa razão me espanto com sua pergunta. Nunca fomos religiosos, nunca fomos a igreja, eu nunca acreditei em deus e sempre pensei que Alice não acreditasse, a verdade é que nunca falamos sobre esse assunto. 
Antes de responder eu hesito, pois não posso falar o que tenho em mente, ela percebe, olha pra mim e me analisa por um instante, depois volta a posição que estava antes, mas começa a acariciar minha mão com o polegar.
- Me fala o que está pensando, por favor.
Eu penso por um segundo e resolvo ser sincero.
- Ali, eu não acredito em Deus. Mas se existe um céu tenho certeza de que ela está lá. - Eu não menti, mas também não falei tudo o que pensei (se Deus existisse não teria tirado ela de mim, penso comigo mesmo), porém logo completei - Outra certeza que eu tenho é que se ela estivesse aqui, teria muito orgulho de você.
Ela ficou em silêncio por um tempo e depois balançou a cabeça.
- Você está errado, ela teria orgulho de você; você é centrado, tem mais talentos do eu posso contar, e não é todo errado como eu, acho que a última coisa que sentiria se ela estivesse viva seria orgulho.
Assim que ela terminou de falar, fiz ela olhar nos meus olhos e falei de um jeito que não deixasse dúvidas.
- Alice Thompson, não ouse falar esse tipo de coisa novamente, esta me ouvindo? A mamãe teria muito orgulho de você sim. Você não é toda errada, você só está passando por dificuldades... - Ela se levanta de repente e começa a andar de um lado pro outro me interrompendo.
- Dificuldades? Tom, eu não posso sair sem te falar onde estou indo, porque posso ter uma crise a qualquer segundo e até onde a gente sabe essas crises nunca vão sumir... - Ela continuou enumerando seus defeitos e problemas, inconscientemente percebi sua respiração mais rápida do que o de costume, ela não pareceu perceber, então sem fazer alarde me aproximei dela enquanto estava de costas e a abracei por trás prendendo seus braços junto ao corpo. Mas pra minha surpresa ela não tentou se acalmar, ela começou a chorar baixo com soluços. Virei ela de frente pra mim dei um abraço nela. Sabe quando tudo que você precisa é um abraço? Alice sempre era questionada, durante a depressão, do porque de estar chorando, mas com o tempo aprendi que, às vezes, tudo o que precisamos são de abraços, sem palavras e sem promessas.
- Eu queria tanto que ela estivesse aqui... - Ela falou depois que se acalmou, mas logo olhou pra mim como se tivesse dito algo errado e completou a frase com rapidez - Não que não seja bom ter você aqui, mas não...
- Eu sei. Eu queria que ela estivesse aqui tanto quanto você. Quanto aos seus defeitos e problemas... Alice eu te amo e a mamae também, não importa quantos defeitos você tenha, o que importa é o seu coração. - Ela acente e eu continuo - Só tem uma coisa... eu sei que você quer saber sobre a noite que a mamãe morreu, mas preciso que confie em mim, vou te contar tudo que quiser saber, mas não agora.
Eu sabia que provavelmente Alice iria me odiar depois que eu contasse, por isso tinha decidido que só iria contar à ela quando fosse maior de idade, assim não iria depender mais de mim.
Ela olhou pra mim intrigada, seus olhos estavam um pouco borrados de maquiagem, por causa do choro, mas continuavam negros como a noite.
- Pode me contar quando vai ser a hora certa e por que?
Neguei com um aceno de cabeça. Ela entendeu e não fez mais perguntas sobre o assunto.
- Eu estou com fome, posso pedir a comida hoje, por favor... - Achei justo deixar ela escolher a comida hoje, eu não iria comer de qualquer forma.
- Está bem, o telefone do restaurante tailandês está na porta da geladeira. Depois que acabar, direto pra cama porque tem aula amanhã.
Dei um beijo na sua testa e fui saindo do quarto.

Estou deitado na cama à alguns minutos... não já faz vinte minutos que estou olhando o teto, os pensamentos vagando da minha mãe, pra minha guitarra que está guardada no sótão, intocada a seis anos. Em um salto levanto da cama e vou para o corredor, olhando para o teto. Depois de alguns segundos avisto uma forma quadrada com uma corda um pouco curta demais, estico o braço e puxo a corda. Quando o alçapão se abre uma escada de corda desce pra mim subir.
Quando chego lá em cima, depois da minha visão se adaptar,  esquadrinha o lugar, o alçapão fica bem no meio do sótão, à minha esquerda tem duas janelas o que permite que a luz da lua (que estava cheia) meus olhos tornam a analisar o lugar, não tem nada perto das janelas suspeito que seja pra não molhar. Do outro lado do lugar tem algumas caixas, pastas e reconheço a capa da minha guitarra que está encostada na parede do sótão, vou até lá e passo a mão pela alça e diversas lembranças da minha mãe me atingem em cheio, pego na alça com força. Quando estou saindo me surpreendo ao perceber que tinha um pouco de poeira, mas não vi sinais de teias de aranha, o que significa que a última pessoa que morou na casa deu uma limpada geral. Esse pensamento me faz lembrar que tenho que contratar uma empregada.
Quando desço pela escada prendo as alças da capa da guitarra nos braços, como uma mochila.
Depois de fechar o alçapão e entrar no meu quarto, tiro minha guitarra da capa e ela se parece ainda como nova.
Minha guitarra era um preto fosco, linda. Passo um pano e à afino, a devolvo para a capa e coloco em um canto do quarto. Feito isso, me lembro que Alice tinha aula amanhã e tinha que ir dormir, antes de ir vê-la faço minha higiene.
Assim que saio do banheiro ouço batidas na porta e ela se abre.
- Oi achei que já estivesse... - Alice para abruptamente na porta e vejo seu olhar ir da minha guitarra pra mim e de volta pra guitarra. - Você voltou a tocar? Faz anos que você não toca.
- Achei que estava na hora de dar uma segunda chance a ela. - Ela me analisa atentamente, mas logo dá de ombros.
- De qualquer forma, só vim te dar um beijo de boa noite... agradecer pelo abraço de mais cedo, eu estava precisando... e agradecer também por ter me deixado escolher a comida. - ela falou me dando um beijo na bochecha depois de cada frase.
- Boa noite, baixinha. Eu te amo... - dei um beijo na bochecha dela, ela por sua vez me deu sorriso agradecido e saiu do quarto.
Eu me deitei na cama e me deixei vencer pelo cansaço.
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FELIZ ANO NOVO!!!!
Olá leitores, espero que tenham passado um ótimo ano novo, pois eu passei e sabem qual foi o meu desejo pra 2016? Ver o meu livro bombando!
Recadinho: estou precisando de nomes para personagens novos (garotos e garotas). Se vocês puderem ajudar.
Enfim boas férias (pra quem não está de férias... bom trabalho) e que vocês tenham um ótimo 2016, com alegria, prosperidade, saúde e muita paz.

Amo vocês, bjs ;)

Ps: Me indicaram um livro e eu quero recomendar. O nome do livro é "Lembranças de um amor" a autora é dudalira888.
Amei o livro, muito bom mesmo.
Ps2: Me desculpem se tiver erros, o capítulo não foi revisado.

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