Capítulo 34 - Bianca

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Suspiro sentindo um leve incômodo na perna, só então percebo que minhas costas doem pela posição desconfortável em que fiquei desde ontem.
Ao levantar a cabeça vejo Tom acordado, olhando fixamente pra cima.
- Há quanto tempo você está acordado? - Falo com a cabeça em seu peito.
Depois de algum tempo, ele ainda não respondeu. Levanto a cabeça faço sua cabeça ficar em linha reta, seu olhar ainda está fixo, porém apagado, desfocado.
Sua respiração rasa. Um possibilidade passa pela minha cabeça. Me levanto com dificuldade, me atentando aos seus olhos.
Há algum tempo, Alice me disse que Tom tinha crises de pânico na infância. E durante essas crises ele ficava em um tipo de estado catatônico, o problema é que ela não me disse como fazer ele voltar ao normal.
Após tentar acorda-lo de diversas formas começo a entrar em desespero.
Tento ligar pra Alice, mas ela não atende....
- Percy, amor, fala comigo! Por favor! Eu vou tentar ligar pra Alice de novo.... - Falo mais pra mim mesma do que pra ele.
- Alô - Ela fala depois de alguns toques.
- Alice, graças aos Deuses! Onde você está?
- Bianca, eu realmente não quero conversar, se o Tom mandou você me ligar....
- Não! Ele não mandou, mas ele está precisando de você... - Ela não fala nada, mas posso escutar sua respiração do outro lado - Eu acordei hoje e ele estava do mesmo jeito que você descreveu, quando me contou das crises de pânico...eu preciso da sua ajuda Alice, ele precisa...
- Eu vou chegar em 15 minutos. - Depois tudo o que consigo escutar é o som indicando fim da chamada.

oOo

Escuto o som da porta se abrindo e Alice aparece com Lucas logo atrás dela.
Ela está aflita e eu estou aterrorizada, ela percebe e me dá um abraço.
- Desculpa...eu não sabia o que fazer, sei que você quer espaço, mas....
- Tudo bem, na verdade eu já estava com saudade, eu ia voltar hoje mesmo, não consigo ficar longe desse idiota. Nós vamos resolver isso, ok? Fica tranquila, ele já passou por isso antes.
Confirmo com a cabeça e nós vamos pra sala. Tom ainda está na mesma posição e isso está me matando, até onde eu sei ele pode estar revivendo memórias ruins, não quero que ele passe por isso novamente.
Alice vai até ele, senta em seu colo e o abraça, parece estar falando algo em seu ouvido. Eu e Lucas estamos um pouco mais afastados, ele parece um pouco desconfortável.
- Bianca, você acha que eles ainda vão brigar depois que ele sair disso, seja lá o que for? - Eu respiro fundo antes de responder, pois espero realmente que eu esteja certa.
- Não, eles vão se acertar. Eu espero.... - Ele se mantém ao meu lado e apesar de nervoso, parece firme em relação à algo.
Depois de alguns minutos em que eu quase tenho um filho de ansiedade a porta é aberta e por lá entra Valter Thompson, que ao meu ver é a causa de todo esse problema, desde o início.
Ele está de camisa social branca e gravata fina preta, o terno está apoiado em seu braço esquerdo, enquanto com a outra ele carrega uma pequena mala preta de rodinha.
Pelo canto do olho vejo Lucas ir até Alice e sussurrar algo pra ela. Eu o sigo até a poltrona e fico ao lado esquerdo do Tom enquanto Alice fica na frente dele em posição de proteção, Lucas fica ao lado de Tom.
Ele nos olha e fica com uma expressão desconfiada.
- Eu posso saber o que está acontecendo, aqui? - Ele dirige seu olhar para Alice.
Não olha nem pra mim nem para Lucas.
- Ele me contou tudo sobre aquela noite! Não precisa mais mentir pra mim, papai. - A última palavra sai de forma sarcástica e sua voz parece embargada - Eu entendi porque você sempre mentiu pra mim! Você machucou a mamãe, o Tom e a mim! - Agora as lágrimas são visíveis em sua voz que está exaltada.
Valter fica receoso e em seguida fica com uma expressão suspeita.
- Ali, seja lá o que esse moleque falou pra você não é verdade. Eu sempre cuidei dos dois, eu amava Sally. - Ele não parecia muito convicto.
- Você bateu na mamãe, no Tom e ainda coagiu ele a mentir! Fez ele se sentir culpado por algo que estava além do alcance dele! Você é um monstro! - Ela grita pra ele a plenos pulmões.
- Você não pode falar comigo dessa forma, eu sou o seu pai querendo ou não!
- Você nunca vai ser o meu pai! Eu tenho nojo de você, eu tenho vergonha de ser sua filha! Tem ideia de como me senti quando fiquei sabendo?! O medo da possibilidade de Tom ter me deixado naquela época?! A possibilidade dele sentir raiva de mim?! Você nunca vai saber porque você nunca teve e nunca vai ter um coração!
Nesse momento tudo fica em câmera lenta, vejo a reação de Valter, o vermelho em seu rosto aumenta, seu punho se fecha e ele o levanta e prepara um soco direcionado a Alice e o meu único pensamento racional foi "ferrou".
Porém nesse exato segundo sinto uma movimentação ao meu lado e vejo a mão firme que me sustenta a cada beijo e a cada dificuldade aparar a tentativa de Valter.
Tom está de pé atrás de Alice, sua expressão é decisiva e beira a raiva, mas ele parece estar no controle.
- Você nunca mais vai bater em ninguém, entendeu? Chega! - Sua voz sai firme, Alice olha pra ele e eles parecem ter uma conversa silenciosa, fazendo ela ir até Lucas.
Ele segura a mão de Valter com mais força e o empurra fazendo ele perder o equilíbrio, porém não é o suficiente para fazê-lo cair. Ele olha com raiva para Tom, até eu fico com medo. Eles se encaram por um tempo e nenhum deles parecia disposto abaixar a guarda.
- Eu não sou mais um moleque, não preciso aguentar calado tudo de novo! Pra mim chega! - Ele para de encarar Valter e olha pra Alice - Eu sinto muito Ali, mas não posso mais fazer isso. Sempre vou ser seu irmão, mas não posso conviver com isso.
Ele corre para a escada, eu já estava indo atrás dele quando Alice segura a minha mão em um pedido mudo para eu esperar.
Ela encara os olhos do pai e fala de forma séria.
- Acho justo dizer que perdeu sua filha ontem. - Com isso ela diz algo para Lucas que sai da casa, enquanto Alice vem até mim me puxando para o quarto do irmão, porém antes de abrir a porta ela me encara e dessa vez não tem máscara, ela está em desespero.
- Só você pode fazer ele me levar, por favor! - Sou pega de surpresa quando ela me abraça.
Ela está certa, não pode ficar aqui com esse monstro, acho que não vou precisar de muito esforço pra convencer Tom desse fato.
- Vai dar tudo certo, ok? Peça pra ele te levar, se ele negar eu o convenço. Vai dar tudo certo! - Falo ainda abraçada a ela.
Assim que abro a porta vejo Tom sair do closet com uma pilha de roupas nas mãos. Nem vejo quando Alice parte pra cima dele e o abraça. As roupas agora esquecidas no chão.
Eles murmuram algo entre si e eu aproveito o momento para pegar a roupa do chão e ver a mala do moreno que está uma bagunça.
Desisto de arrumar a mala e me sento na cama, observando os dois a minha frente.
Assim que se afastam, Tom me olha e parece receoso, está mordendo o lábio inferior.
- Você viu eu tendo uma crise de pânico, deve está me achando estranho...e agora eu não tenho casa e fiquei pobre, eu vou entender se você não me quiser mais com você.... - Ele fala um povo devagar, mas eu estou chocada por ele achar isso de mim.
Eu nunca estive interessada no dinheiro dele, nem no que ele tem. Acredito que se ele fosse um mendigo eu iria gostar dele do mesmo jeito.
Vou até ele e seguro em sua mão olhando dentro de seus lindo olhos verdes que me fazem flutuar.
- Namorada é para as horas ruins também. Nunca estive interessada no seu dinheiro estou interessada em você, no que você é! E de te consola acho que você pode dormir na sala da minha casa. - Ele sorri e me dá um beijo na bochecha.
- Acho que não vou precisar do seu sofá por um tempo. Tenho um dinheiro guardado, vou conseguir me sustentar por algum tempo, mas obrigada.
- Tom? - Alice se pronúncia e já sei o que é.
- Sim?
- Me leva com você? Eu não vou conseguir conviver com um monstro dentro de casa e não quero ficar longe de você!
- Ali, não acho.... - Eu nem deixo Ele terminar e coloco minha boca em seu ouvido pra que só ele me escute.
- Não pode deixá-la! Você viu! Ele quase bateu nela, pode tentar de novo.... - Sei que peguei pesado, mas o que eu poderia fazer?! Deixar ela nessa casa horrível?!
- Tem razão! Ali pega suas coisas, só uma mala.
- Não pode ser uma mala e uma mochila? - Ela tenta convencê-lo e ela caí. Ela precisa me ensinar esse truque.....
E assim saímos em 20 minutos, Valter não estava em nenhum lugar ao alcance das nossas vistas e para a minha surpresa Lucas ainda estava do lado de fora da casa.
Ele nos esperava e disse que poderíamos ir pra casa dele até Tom achar um lugar próprio, já que os país dele tinham viajado o deixando com a governanta da casa.
É....acho que vai começar um novo capítulo em nossas vidas....

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