Três - Ame Seu Professor de Artes

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Meu contrabaixo me encara do canto da parede amarela. Não pego nele desde mês passado e provavelmente serei enforcada com meu próprio cabelo se meus amigos souberem. Eu não tenho tempo, estou muito ocupada tentando entender o porquê de Samanta me odiar.

Sim, Samanta me odeia. Sim, a bolada foi proposital.

Descobri o nome da ruiva da minha turma quando cheguei na sala e sentei em seu lugar. Ela disse que eu estava sentada no lugar da Samanta. Aí eu perguntei quem era essa tal de Samanta, porque não tinha o nome dela escrito ali. Bom, claramente ela era a tal, já que todo mundo me olhou estranho e ela ficou esperando que minha bunda saísse de lá. E eu levantei, porque sou trouxa. E me sentei novamente ao lado de Apolo, pois o lugar estava incrivelmente vago, visto que era na frente e ninguém gosta de ficar ali quando a diretora Geralda aparece – pode parecer estranho, mas é que ela cospe quando fala.

Ele me deu bom dia e sorriu ao me ver, fazendo umas pequenas pregas na bochecha.

— Bom dia. — respondi.

— Foi expulsa? — ele perguntou, apontando disfarçadamente para Samanta. — Talvez seu lugar seja sempre aqui.

Eu não sei se citei anteriormente, mas Apolo está na minha lista de Top 5 Colegas de Classe Bonitões. Se não disse, estou dizendo agora, porque ele é muito bonito. Muito mesmo. Do tipo que você quer pegá-lo para você e trancar em seu armário para que ninguém mais o veja e o roube. Mas eu não psicopata não.

Então, imagine um Chris Hemsworth da vida dizendo que seu lugar seja ao lado dele, mesmo que seja apenas como colega. Pois é, eu também estou babando. E babei na hora. Acho que Samanta percebeu, já que me olhou de cara feia para logo depois enviar um olhar daqueles pra ele. Como ela parecia tão legal no outro dia e hoje parece uma megera?

— Talvez seja. — eu disse, arrumando minhas coisas na mesa.

Peguei meu quadro de horários, porque ainda não havia o decorado, e provavelmente só decoraria quando mudasse. O primeiro tempo seria Artes, o que me lembrava que simplesmente não sei desenhar. Nem palitos, nem nada. Parece que é uma missão impossível para mim. Geometria recebeu minhas piores notas em matemática, com eu passando a maior parte do tempo tentando fazer mais aqueles desenhos mega difíceis, do que acompanhando a aula.

Ao redor do quadro, ajeitei e reforcei algumas palavras de uma letra de música que havia escrito ontem. Quando estou entediada costumo fazer isso. Ou faço listas. Ou os dois.

— Ai, meu Deus! — uma garota japonesa, de franja e óculos, gritou me olhando. Não sabia seu nome. Na verdade, nem havia a visto no meu outro lado. Percebi que ela estava encarando o papel na minha mão e não a minha cara.

— O que foi? — perguntei, confusa.

— Adele!

— O QUÊ? Cala a boca! Você gosta?

— Garota?! Emmy 2012, "21", melhor álbum do ano? — ela falou animada, e eu respondo do mesmo jeito, porque realmente estava desesperada para virar amiga dessa garota, já que ela é uma raridade nessa espelunca.

— "Skyfall", Oscar 2013? — continuei. Quase levantamos da cadeira para cantar no mesmo instante. - This is the end...

Ela me olha com um sorriso de orelha a orelha.

Hold your breath and count to ten...

A essa altura, Apolo já nos olhava atônito. O restante da turma também. E o professor, que havia acabado de entrar na sala. Demos um sorrisinho sem graça pra ele, que respondeu fazendo um sinal com um polegar pra cima. Pelo canto do olho, pude ver que Apolo ainda me observava, agora com uma caneta na boca.

O Que Não Fazer Antes de Morrer (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora