Vinte e cinco - Torture o Deus Grego

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"O beijo é um adorável truque inventado pela Natureza para interromper a fala quando as palavras se tornam supérfluas."

Ingrid Bergman


Suas mãos largam meus braços; uma se aloja em minha cintura, apertando-me contra seu corpo, a outra vai até a minha nuca. Há pressa, há necessidade. Sinto seu gosto e tento aproveitar ao máximo, envolvendo seu pescoço e saboreando cada cantinho de sua boca. Não há como decifrar o quão realmente ele me deixa sem ar, até que nos separamos. Nossas testas encostada uma na outra e nossos sorrisos dizem tudo.

Sua mão atrás da minha cabeça faz um carinho no meu cabelo, enquanto meu nariz brinca com o seu. Respiro fundo, respiro em paz. Finalmente pude entender que o melhor beijo é aquele que foi trocado mil vezes entre os olhos antes de chegar à boca. Deslizo minhas mãos e as paro em seu peito.

- Preciso ir.

- Não... Não vá.

- Eu tenho um concurso, esqueceu?

- Droga.

O ar de sua risada se mistura com o meu e nos beijamos mais uma vez. Obrigo meu corpo a se mexer e a ir embora, resmungo por realmente precisar deixá-lo. Faço carinho em sua bochecha e em seu queixo, então corro.

***


- Ok, você está muito adiantada. Eu ainda nem almocei.

- Apolo e eu nos beijamos.

- O quê?

- Apolo e eu...

- Cala a boca, eu ouvi! Vamos combinar que já estava mais do que na hora, né?

Larissa me puxa com força e me abraça. Eu digo que a amo, mas que preciso correr para casa e aprontar minhas coisas. Ela concorda e eu corro em disparada, sentindo o vento bater no meu rosto ao tentar digerir o que havia acabado de acontecer entre mim e meu amigo.

Como será hoje à noite, quando nos encontrarmos? Será que fizemos a coisa certa? Será que ele sentiu a mesma paz que eu senti? Que ele sentiu algo, ele sentiu, isso eu tenho certeza. Ninguém beijaria daquele jeito se não houvesse algum tipo de sentimento envolvido.

Acordo pra vida ao perceber que já estou em casa, sentada à mesa e almoçando com minha mãe e meu irmão. O bife com fritas me faz sorrir ainda mais do que eu já estava sorrindo.

- Ansiosa para o concurso?

- Sim. Muito. Demais! – exclamo. Ela mal sabe que o entusiasmo não tem nada a ver com o Show de Talentos em si, mas a comida. E, ah, claro, o beijo. O beijo com a minha paixão secreta nem-tão-secreta-assim. Começo a rir sozinha e Remo ri de mim. – Ai, ai...

- Ai, ai... – ele repete.

- Está bem, tenho que me arrumar.

- Não esquece o desodorante, da última vez que você ficou ansiosa desse jeito, eu tive que mandar Remo até...

- OK, mãe, entendemos.

Saio do banho e ando pelo quarto de toalha, quase caindo ao tropeçar em Haroldo. Abro meu armário e vejo uma fileira interminável de roupas pretas. Preciso fazer compras, penso. Não faço ideia do que vestir para esse tal concurso, mando uma mensagem urgentemente para Larissa, que me responde um "Você fica bem em qualquer coisa". Digo que não sou ela, e mando-a se ferrar, porque não me falou nada de útil. Ela ri e diz para usar qualquer coisa. Mando um dedo do meio. Peço ajuda para Gabriela, que me diz para usar minha saia de veludo, porque ninguém mais usaria.

O Que Não Fazer Antes de Morrer (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora