Vinte e quatro - Ouça Sua Mãe

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Acordo com a voz da Esperanza Spalding cantando, como meu despertador. Pela primeira vez sorrio ao acordar. Automaticamente faço uma breve lista do que devo fazer:

· Gabaritar a prova de Inglês (para qual não estudei);

· Me despedir dos meus professores favoritos;

· Assinar meu uniforme;

· Dizer para o garoto do primeiro ano que ele é um babaca por não ter um Death Note;

· Correr para os preparativos do Show de Talentos;

· Ganhar um prêmio.

Ok. Acho que já está tudo na lista.

A não ser, é claro, acordar entupida. É realmente necessário, nariz? Sério? Não, não é. Foi apenas impressão minha, e agradeço a Deus por isso. Porque realmente, não seria nada maneiro estar entupida no último dia de aula do último ano do ensino médio. Talvez, daqui a dez anos, em 2025, minha turma teria um reencontro. Eles estariam lembrando de mim mais ou menos, assim:

"Lembra daquela garota estranha da turma de 2015?" "Qual delas?" "Aquela que ficou entupida no primeiro e no último dia de aula" "Ah! Aquela tal de Abélia? Claro! Garota mais esquisita não há." E então, eu entraria com uns lenços de papel, porque provavelmente estaria entupida mais uma vez, só para não perder o costume.

- Lia, vai se atrasar pro último dia de aula! – minha mãe grita e eu acordo de meu devaneio em frente ao espelho. Preciso cortar esse cabelo de novo, está horroroso. E fazer um bronzeamento artificial, sim, isso. Oh, besta! Você mora na Região dos Lagos! O que menos falta é um praia. Como eu poderia ser tão pálida, morando quase em frente à praia?

Visto pela última vez o uniforme mais ridículo desse Brasil imenso e divido as últimas migalhas do cereal com Remo – que vai para a casa da nossa tia, pois o sortudo já está de férias e minha mãe trabalha de manhã.

- Boa sorte, Amélia. – dona Maria diz calmamente, enquanto vou em direção à porta. – Torne esse dia inesquecível. É seu último dia.

- Obrigada, mãe.

Beijo sua testa e vou para a tortura. Tortura, lê-se colégio.

Grupinhos. Como eu odeio grupinhos. Eles ainda estão aqui. Mas eu não sou mais uma loba perdida, agora eu tenho minha própria alcateia. E mesmo que eu ainda odeie grupinhos, amo o fato de estar em um.

- Bom dia, muito bem-vinda ao seu último dia de aula. Como está se sentindo nesta incrível manhã, querida Abelha?

Apolo pergunta com voz de apresentador, fazendo seu celular de microfone. Eu começo a rir e o abraço. Tento imitar a voz ao respondê-lo. – Sinto-me terrivelmente bem, e isso é no sentido bom. Muito obrigada.

Dou um abraço apertado em Carlos e Matheus. Júlia chega logo depois de mim, com os olhos colados no celular. Quando se aproxima de nós, levanta a cabeça e sorri.

- O Arthur vem pra cá.

- O garoto do Twitter? – Matheus pergunta.

- Ele é seu namorado mesmo? – Carlos coça os olhos ao perguntar e Júlia ri ao confirmar, porque não consegue esconder a felicidade.

- Ele vem passar dezembro aqui. Eu nem sei o que dizer!

Nós a abraçamos sorrindo, mas nossa felicidade foi cortada pelo sinal que indicava não só que era hora de entrar, como também, que era hora da prova de Inglês. O que, para mim, significava fazer uma reza forte para gabaritar a prova.

O Que Não Fazer Antes de Morrer (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora