Treze - Domine a Arte de Ignorar

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- Que sorriso é esse? – pergunta minha mãe, assim que entro em casa. Ela incrivelmente está acordada com Remo deitado em seu colo. – Senta aqui. – ela dá três tapas no sofá. – Conta tudo!

Minhas bochechas coram, mas eu sento e continuo a sorrir, na verdade, não consigo tirar o sorriso do rosto. – Ramon é muito fofo. Foi ótimo! Ele pegou isso pra mim. – mostro Kowalski e ela o pega.

- É tão fofinho! – ela o abraça.

- Eu sei! – pego de volta, antes que ela roube de mim.

- Que bom que você gostou desse rapaz, Amélia. Já estava na hora.

Não precisava jogar na cara que estou sozinha há aproximadamente dezessete anos, não é mesmo? Mas quem é que se importa, já que irei ficar novamente? Ramon não vai ficar tanto tempo assim aqui, na verdade, seus pais tiveram problemas e ele só irá ficar uma semana. Preciso aceitar que daqui a seis dias não terá mais Ramélia – Cecília, enteada do meu pai, tem uma ótima habilidade de criar uma coisa que ela chama de "shipp" e juntou nossos nomes assim.

- Ei! – protesto e começamos uma guerra de cócegas, Remo acorda e nós o atacamos e acabamos cochilando por ali mesmo.




Hoje, em pleno domingo, estamos na casa da minha melhor amiga. Enquanto os outros estavam resolvendo algumas coisas, Larissa agarrou meu braço e me pressionou, para que eu contasse sobre o beijo – que aparentemente ela havia visto de onde estava. Depois me abraça, quando conto que Ramon já irá embora. "Assim será melhor", ela diz.

- Toma. - Fernando me entrega o mesmo caderno que eu havia escrito "O que você quer saber?" na casa dele. Olho-o confusa e vejo que todos os meus amigos também estão com um caderno. – O lance de tentar escrever música... – ele diz e eu concordo recordando não só disso, de como eu também era péssima e com certeza o caderno ficaria em branco.

- Que tal Love In Time? – Larissa sugere para que comecemos a ensaiar. Logo depois olha para mim, mas não sei se é por ser uma música da Esperanza Spalding, ou pela própria música.

"We can't rush a happy ending // That's not in our destiny's plan"

Minha melhor amiga canta, me encarando com uma sobrancelha levantada. Pois dane-se se gosto da Esperanza, ela queria me dizer algo com a música, porque é assim que as coisas funcionam com Larissa quando eu não entendo o que ela fala. E dessa vez, nem com a música eu entendi.

***

Hoje é quarta, vulgo pior dia da semana. Por algum motivo, está sendo pior do que todas as outras quartas. Talvez seja porque voltamos de férias e desde segunda, os professores estão nos maltratando com tantos trabalhos que seguirão no mês. O sinal do intervalo me faz ter borboletas no estômago.

O sol nos aquece do frio de Julho, enquanto deitamos na pequena grama do colégio. Carlos está contando sobre um episódio de Arrow que não vimos e Júlia está gritando com ele, ao mesmo que Matheus tampa os ouvidos para não ouvir os spoilers.

Estamos sorrindo e de relance vejo Apolo. Samanta está distraída com as amigas e o pego nos observando. Faço um sinal para que venha até nós, mas estranhamente ele me ignora torcendo o nariz e olhando para sua namorada e gangue. Será que ele fez de propósito, ou simplesmente não percebeu que o chamei? E se fez de propósito, por que o fez? Eu disse algo? Ai, meu Deus, eu disse, não disse? Sempre falo as coisas erradas nas horas erradas. Sou uma negação.

O Que Não Fazer Antes de Morrer (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora