Seis - Adote Um Gato Escondida

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A casa de Fernando é, simplesmente, a mais fofa do mundo. Primeiro, porque sua mãe é a mãe mais fofa, que tem o gosto mais fofo para decoração; segundo, porque a família dele é fofa e perfeita, fazendo do seu lar um lar feliz e confortável. Exagerei nos fofos, eu sei.

A casa é azul claro por fora, como o céu. As janelas e portas de tudo são feitas de madeira, e parece uma casa de bonecas de apenas um andar. O quintal tem um caminho que vai desde o portão até a entrada da sala de estar, onde há um tapete de "Bem-vindo" na entrada. As paredes da sala são beges, com quadros espalhados por todos os lados. Também possui um com fotos da família, incluindo uma de meu amigo pelado. Os dois sofás são marrons, como os móveis de madeira. Em cada canto consigo ver uma planta - até mesmo nas janelas. O quarto de Fernando parece não fazer parte da casa de tão diferente que é. Sempre foi do mesmo jeito: paredes, cômoda e cama brancos. Os pôsteres cobrem a parede paralela à cama, e o teclado preto é a melhor parte do quarto. Primeiro porque fica no centro, segundo, porque é lindo.

Sou a primeira a chegar lá, apesar de sempre ser a mais atrasada. Me livro do peso do baixo colocando-o encostado na parede e me sento em sua cama incrivelmente confortável. Sua mãe me traz cupcakes. Sim, cupcakes! Estou no céu.

Ele se joga ao meu lado na cama, e sua mãe nos olha com uma cara desconfiada.

Dona Jane sempre quis que namorássemos. Minha mãe também. E a mãe de Larissa. Todo mundo, menos nós dois – e a Gabriela. Não posso dizer que nunca tocamos no assunto, porque já. Às vezes brincamos que somos um casal, mas não passa disso. Nossa amizade consegue chegar a esse nível sem problema algum, e é por isso que eu o amo e ele é meu melhor amigo.

— Estava pensando... Por que você não escreve uma música pra banda? — ele me pergunta, enquanto brinco com seus pés. Meu amigo ainda comia seu cupcake, o que me fez perceber que eu tinha devorado o meu em fração de segundos e nem me dei conta. Eu pareço uma máquina de comer.

— Você sabe que não sou muito boa em escrever o que sinto.

— Bem... O que você está sentindo agora? — ele se senta, me encarando de perto. O conheço bem o suficiente para saber que ele quer tirar algo de mim, alguma informação. Mas qual? Realmente não sei.

— Desconfiança. — respondo com seu sorriso. Bagunço cabelo dele, e ele volta a me olhar sério.

— Escreva sobre essa desconfiança. — Fernando diz, me entregando um caderno velho com um lápis. A capa do caderno é um V dentro de um círculo, ambos vermelhos. Escrevo bem grande e o mostro.

"O que você quer saber?"

Ele sorri mais uma vez. Tem covinhas nas bochechas que sempre aperto quando ele fica sem graça, mas agora ele não está sem graça, então apenas o encaro esperando uma resposta. — Esse brilho nos seus olhos. — ele responde.

— O quê? — pergunto, sem entender. Eu não entendia muitas coisas. Como quando Jorge, na quinta série, disse que gostava de mim e eu não entendi. Pensei que ele me odiasse, porque um dia ele me deu uma tartaruga. Eu odeio tartarugas.

— Deixa de ser lerda, Lia. Sou teu melhor amigo, te conheço. — ele diz.

— E eu sou tua melhor amiga, e ia dizer a mesma coisa. — Larissa irrompe no quarto, jogando a mochila no chão e sentando diretamente ao meu lado. Estava sob pressão. Agora me sinto uma assassina sendo interrogada por dois policiais: um de cada lado, me enchendo de perguntas que não sei – ou não quero – responder. "Você é a assassina ou não é?", fico rindo pensando.

— Eu juro que não sei.

Meu cabelo é totalmente bagunçado após minha resposta nem um pouco satisfatória, e recebo um beijo de Larissa, dizendo que estava morrendo de saudades da minha lerdeza. Só que seu cabelo me faz cócegas no nariz e a empurro, o que faz piorar minha situação. Sim, os dois começaram a me fazer cócegas. Dez minutos depois, Gabriela chegou. Fui espremida – ou abraçada, como preferir – por longos minutos e, enfim, começamos a conversar sobre o ensaio.

O Que Não Fazer Antes de Morrer (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora