Quatorze - Compre Um Estoque de Absorvente

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Tenho uma lista para coisas que odeio. Uma delas é ser menina. Para ser mais exata, odeio ser menina por muitos motivos que não vem ao caso, mas principalmente por três famosos dias no mês. Todo mês. Todo ano. Desde meus doze anos, e eu sinceramente sinto uma vontade louca de me matar toda vez que essa época chega.

Acordo com uma dor infernal que vai da minha barriga até minhas costas, e se espalha pelo meu corpo todo, me deixando enjoada e sem me mover. De uma coisa eu tenho total e absoluta certeza: eu queria ter nascido homem.

- Mãe! – grito, com as mãos na barriga, numa tentativa de forçar a dor voltar para onde ela estava antes de se manifestar desse jeito abusado.

- O que foi, Amélia? – Dona Maria vem correndo até mim e quase pisa no gato, dando um grito. Droga, fomos descobertos. – Isso é um gato? – ela me olha furiosa. Remo entra no quarto,com seu tablet na mão, olha para nós; depois para Haroldo.

- Oh-oh... – ele diz e dá a volta, tentando sair do quarto. Minha mãe o puxa pela blusa e olha para nós dois.

- Há quanto tempo ele está aqui?

- Vai fazer três meses.

- Tem um gato nessa casa há TRÊS meses? – sua mão na cintura mostra o quanto ela está furiosa, o bater do pé no chão mostra o quanto ela está confusa.

- Vai fazer três meses. – Remo repete o que eu disse, eu arregalo os olhos para ele, mandando-o calar o bico mentalmente.

- Quem... Como... –ela balança a cabeça tentando entender - Vocês esconderam esse bicho de mim por tanto tempo assim?

- Ele se chama Haroldo. – eu digo. Remo devia ter dito isso, não eu. Dona Maria me olha. – MÃE, EU TE CHAMEI PRIMEIRO. - Tento fazer com que ela se esqueça do gato, mas claramente ela só irá esquecer por alguns segundos. Ela pergunta o que eu tenho. – Cólica... Muita... Cólica...

- Pelo menos não está grávida. – ela diz, eu olho para meu irmão, que ainda está nos observando com seu Subway Surfers pausado no tablet.

- Mãe!

- Eu sei o que vocês fazem para ficarem grávidas. – ele diz, minha mãe e eu nos entreolhamos.

- Sabe? – perguntamos assustadas. Ele tem dez anos, ainda tem tempo o suficiente de vida para desfrutá-la sem saber desses detalhes meticulosos dos humanos.

- Claro que sei. Papai que me contou. – ele se senta, colocando o tablet ao seu lado no chão e começando a fazer gestos com a mão. – A menina e o menino se beijam... – minha mãe tampa a boca dele, antes que termine.

- Está bem, querido.

Ela sorri nervosa e sussurra "Irei conversar com Pietro sobre isso" para mim. Recebo meu comprimido - que demoro dez minutos para tomar, tentando engolir aquele troço sem que me dê vontade de vomitar - e minha mãe se deita na minha cama, sem me deixar sozinha. Enquanto ela provavelmente está pensando em quais insultos irá usar assim que ligar para meu pai, estou tentando pedir a Deus para que leve essa cólica embora junto com minha vontade de viver. Mas, pensando bem, com certeza ela está super brava com Pietro em relação a Remo, então isso quer dizer que provavelmente sua raiva por eu e meu irmão termos escondido um gato dela – e na casa dela – por quase três meses tenha diminuído. Vamos lá... Ele é o gato preto mais bonito e fofo que existe! Ele está engordando e seu pelo está mais brilhoso, está tão diferente de quando o peguei na garagem de Fernando...

- Podemos ficar com Haroldo? – pergunto, enquanto assistimos Três Espiãs Demais. A propósito, eu sou a Alex e ela a Chloe. Dona Maria pensa por alguns instantes, e se vira para mim, me abraçando.

O Que Não Fazer Antes de Morrer (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora