Saudade

399 27 1
                                    

Ela fecha os olhos e deixa que os pensamentos a tomem de encontro ao penhasco. Eles a guiam, no escuro, através das palavras que gritam em sua mente, tecendo teias e mais teias de lembranças que ela preferiu não esquecer.

Seu cabelo é uma bagunça no travesseiro, ao lado dele. Ela sabe que se permanecer de olhos fechados, entre os seus braços e cheiro, pode cair no sono. Mas continua de olhos fechados.

Ele observa seu rosto relaxado, com a luz que entra pela janela e esquenta a pele dos dois. Acaricia os cabelos jogados e a alma de menina que nunca soube o que quis.

Ela sabe que ele a lê em silêncio. Que outros segredos está a descobrir? Ela abre os olhos e encara a cor de chocolate que a fita, como se nua, e a faz esquecer seus medos. É fácil ser com ele, quando as coisas estão em seus lugares mesmo nessa confusão. É preto no branco. Basta ouvir a sua voz.

Ele precisa ir. Mergulhou fundo demais em toda a menina e descobriu não conseguir mais respirar com e sem ela. Era um impasse, daqueles que não se sabe quando chega, mas que chega e fica, trazendo devastação. E ela sempre foi isso. Destruidora.

Já estava escuro quando ele a abraçou e ela apenas baixou o olhar para seus pés. Não sabia da dor que a acolheria naquela noite. Não sabia que quando chegasse em casa, ele haveria de chorar por ela e o fim deles dois. Ela só sabia que precisava seguir em frente, com todas as memórias deles. Ou o que sobrou delas. Só precisava fechar os olhos...

- Dia ímpar

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora