Mesmo em Silêncio

Pesadelos

Tenho estado em silêncio por tempo demais, percebo.

Cada dia novo, assim como no anterior, sento no mesmo lugar, ouço a mesma música, admiro a mesma cor que se espalha entre as nuvens no céu, vejo o sol se pôr e a noite cair, as estrelas surgirem, a tinta manchar o papel... e continuo sozinha.

Ainda apreciando a calmaria dentro de mim, resguardada do resto. As pessoas passam, e nem notam. E eu passo cada vez menos, no mesmo buraco em que me enfiei, despercebida nesse vazio.

A solidão nunca me assustou, ao contrário das pessoas

O engraçado é que antes eu falava muito. Hoje, apenas escrevo, apago e esqueço neste diário. Ou nem escrevo. As memórias estão cada vez mais fracas. E é difícil tentar contar para alguém o que acontece dentro de mim, quando eu mesma não consigo entender ou mudar as coisas de lugar.

Conto as horas para apenas tomar um banho frio e deitar na cama, olhando pela janela o escuro lá fora, com uma roupa limpa e o medo de pegar no sono. Medo de acordar chorando mais uma vez, por não ter controle sobre nada e desejar desesperadamente a segurança dos braços de alguém. Medo de tudo se tornar realidade. Medo das mesmas coisas, que nunca tem um fim.

- Eu irei escrever, apagar e esquecer

Ninguém nunca irá entender os meus surtos, as minhas tremedeiras matutinas, a minha desconfiança. Ninguém vai entender os meus versos, minhas olheiras e o cansaço. E apesar de querer desesperadamente me desligar de tudo, tenho medo dessas noites. E das pessoas.

A luz continua fraca, com o dia raiando e o desespero tomando conta de tudo. O meu travesseiro continua encharcado. Minha mente permanece barulhenta, e eu muda, me despedaço. Me refazendo antes de levantar mais uma vez, finjo que está tudo bem.

Mas essas coisas me afetam, parecendo nunca ceder nem por um minuto. Me atormentando, tirando-me de mim. Eu só consigo sorrir e balançar a cabeça, enquanto uma lágrima escorre pelo canto do olho sem que ninguém realmente veja.

- Dia ímpar