Do início

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Vou me construíndo aos poucos, partindo dos pedaços menores, mais difíceis de serem catados e colados no meio da bagunça de espelhos quebrados, rotas destruídas, chegadas e partidas... Sempre pelos pedaços menores.

Caminhando descalça, vez ou outra corto os pés. Às vezes noto o brilho suave, refletido, e vejo que encontrei outro pedacinho, pronto para ser recolhido novamente antes que eu acabe por me machucar. Sou um desastre tentando evitar acidentes.

Quando faz muito calor, eu descanso um pouco à sombra. Não tenho condicionamento físico para esforço maior do que aquele que faço para continuar mantendo meu coração batendo. Então, ponho uma música que me arrepia a alma e me faz ter vontade de chorar, porque é a única forma de não me sentir insensível a tudo.

Depois dos detroços, não sou capaz de sentir muita coisa.

Então, começo a juntar os pedaços grandes, que sempre ficam por cima, abafando qualquer tipo de medo que esteja aprisionado em mim dessa vez. Sou uma colecionadora, com as paredes repletas de manchas escuras e objetos que não possuem mais tanto valor assim.

Quando eu estiver quase inteira outra vez, quando você olhar para mim e eu sorrir de verdade... quando você souber que está tudo bem e que estou seguindo, não volte a visitar meus cômodos. Sinto em lhe dizer que apenas a cor das cortinas continua a mesma. Tenho um céu sobre a cabeça e novas colchas de cama, em tons de azul, que nada me lembram você. Os móveis foram trocados de lugar, assim como as prioridades. E se antes a sua chegada era bem vinda, te peço também para que erre a esquina, esqueça meu nome, minha vida. Eu esquecerei de como me destruiu e depois de forma lenta e dolorosa, me ajudou a crescer. Mas me deixe sozinha, aproveitando a vista em mais uma noite escura. Quero gravar cada momento antes da próxima queda. Me distrair e destruir aos poucos...

- Dia par

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora