Despedidas

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E em todas as vezes eu escolhi partir para não ser partida. Escolhi acreditar na realidade, mesmo que dura: não fui feita para amar ou ser amada.

Pode parecer meio triste, de primeira ou segunda. Mas a afirmação é verdadeira. Eu afasto as pessoas de mim. É aos poucos, e nem todos percebem. É uma música aqui, uma imagem ali. Um canto isolado, uma piada sem graça. Um humor ácido, um riso sarcástico. Sem aquele adeus tão temido, sem discursos ensaiados na frente do espelho, até porque eu nunca soube o que falar. Sem shows ou segredos, sem cobranças. Eu simplesmente arrumava as minhas coisas e saía de fininho esperando que ninguém notasse, e por sorte, quase ninguém dava falta.

Nunca soube o porquê de realmente fazer isso. Em todas as vezes só quis sair e esquecer de todo mundo. Tentar um novo começo, em outro lugar, com um novo eu. E em como todas as vezes, eu escrevi meus sentimentos mais absurdos. Meus abismos. Me aprofundei em mim mesma. Tentei decifrar minha alma. Tentei entender o que acontecia comigo, sem nunca encontrar uma resposta boa o bastante. Até hoje não encontrei.

Eu vejo as pessoas andando por aí, felizes, como se o mundo fosse algo bom. Como se as pessoas fossem boas. Mas eu olho o reflexo no espelho onde não há nada disso e me pergunto porque não escolho ser feliz como eles. Porquê?

Então eu lembro do que ele me chamava. Destruidora. Entendi que nunca poderia ser como eles. Eu gosto de ficar sozinha. De me sentir sozinha. De olhar para as paredes e deixar minha marca nelas, ao invés de fazê-lo em pessoas. Eu gosto de sorrir da minha loucura, diariamente sagrada, e de me entregar a tristeza de vez em quando. Gosto de sentar sozinha e olhar o céu estrelado. Eu também soube amá-lo uma vez, mas quando comecei a transbordar, me esvaziei. Chovi sozinha na calçada, sentindo o coração gelado, que se recusou a bater.

- Dia ímpar

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora