Nada demais.

122 9 0
                                    

Eles assistiam filmes juntos, jogados no sofá dele a tarde inteira. Também conversavam deitados na cama dela durante o dia. Jogavam video game e discutiam sobre quase tudo, o que nem era ruim. Aprendiam um com o outro.

Pena não terem crescido

Ele provava da comida dela e ela lia as letras de músicas bonitas que ele lhe mostrava. Se declarava assim, e foi bom nisso. Convenceu-a de que era tudo o que precisava

(Pelo menos por um tempo)

Possuiam várias piadas internas e viviam juntos pelos corredores, pelas salas e pela vida, sem paredes ou distâncias que pudessem impedir um riso. Davam as mãos, se abraçavam e passavam horas apenas um olhando dentro dos olhos do outro, tentando descobrir os segredos que ainda não haviam sido contados. Eles eram até bonitos juntos, e quase foram.

Ele mostrou a ela seus pensamentos infames. Ela lhe curou as feridas. Quando ele estava mal, ela sentia. Esquecia de si e tentava a todo custo arrancar uma gargalhada dele, porque o sorriso dele era a coisa mais importante da vida dela

Às vezes, parece que ainda é.

Ela continuou fazendo a comida, sorrindo de tudo o que ele dizia, mandando mensagem... acabou caminhando sozinha também. Deu errado.

Ela precisou ser forte.

Eles acabaram ficando, em uma tarde dessas. Faltando aula, juntos, no sofá dele. E outra vez mais, na cama dela. Era confuso, mas ainda sim bom por ser com ele, que lhe fazia bem. E para ele, para ele era gostoso. Ela a entendia e havia cuidado dele em seus momentos de fragilidade que todos desconheciam. Ele se abriu com ela, não temendo que o que sentia acabasse. Se sentiu. Mas ela compreenderia: era apenas uma amizade colorida, nada demais.

Com o tempo, ele parou de responder as mensagens. Deixou claro o cansaço, a chatice. Construiu aquelas barreiras que a impediram de prosseguir. Cantou as músicas tristes, apagou-as e trocou por novas, mais alegres, que não o faziam mais lembrar dela. E o tempo foi passando, cada qual no seu canto, aceitando o fim daquilo que jamais poderia ter começado.

Hoje ele não divide mais o fone, nem sorri para ela. E ela dá bom dia, com aquele sorriso forjado no rosto que todo mundo conhece e finge não perceber. Ele anda para lá, ela para cá, e quando se cruzam parecem não se conhecer. São dois estranhos com pedaços um do outro colados no peito. Estranhos com memórias em comum

Nada demais.

Ele a fez ficar, prometer que jamais o deixaria. Ela, não querendo, ficou por mais tempo do que deveria. Hoje ela fica, fica sem rumo, sem direção. Sem o coração também. Fica sem chão, sem vontade. Sem ele.

- Dia par

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora