Perdida

235 14 0
                                    

Ela não consegue mais desbloquear a tela do celular sem lembrar da falta que ele faz. Até parece que agora só escreve sobre a saudade. É triste nunca ter revelado aquela fotografia dos dois, e agora ela se arrepende. Se arrepende de não ter negado. De ter se entregado. De não ter dito. De não ter escrito. Se arrepende do sonho que acabou. E de ter deixado para lá como se não fosse importante. Talvez por achar que não fosse sentir tanta falta.

E o pior não foi ver ele ir. O pior foi expulsá-lo dali, como em tantas outras vezes, foi mandar que ele fosse e não voltasse. O pior foi ver que apesar de não querer ir, ele foi com toda a razão. De queixo erguido, enquanto ela fingia não ter um coração. Enquanto não se importava se estava matando ou não os dois, dentro de corpos que já sem ninguém, não transbordavam como antes.

Ela lembrou de quando apagou a conversa, o contato, as ligações e as músicas. Lembrou das coisas idiotas que um havia dito para o outro, em noites de silêncio e também no calor das discussões. Lembrou do jeito como ele sorria do seu cabelo e da forma estranha que sempre pronunciou seu nome, apenas para não ser igual ao resto. As brincadeiras, o cafuné... tudo havia ficado sem ele. Sem a voz e a compreensão que ele tinha com ela, e somente com ela, porque ele dizia que ela era especial como nenhuma outra e que jamais deixaria de amá-la.

Ela não sabe se é verdade. Não sabe se as promessas de amor serão eternas, mas a de estar junto já foi, algum dia. Então, mesmo que acabe, não terá sido verdadeira? Um, por acaso, não terá amado ao outro com todas as forças até o último fio de cabelo?

O problema é só que as coisas vão mudando e nem sempre mudamos junto. Ela voltou a escrever sobre ele e ele voltou a escrever em outras. Ela sente falta e ele faz. Ela está aqui. Ele, onde está?

Seu coração também se foi.

- Dia par

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora