Estranhos

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Existe dor pior que a saudade de alguém que está longe. É a saudade de alguém que continua aqui, pegando ônibus e rindo com você. Acho estranho essas partidas, que no final, só acabam dentro de nós. A pessoa continua ali do seu lado, contando as mesmas piadas e fugindo dos mesmos medos. Cometendo os mesmos erros. Mas já não é quem um dia fez parte de você. E você agora, também, não faz parte dela. Vocês apenas dividem as horas e alguns momentos comuns, que um tempo atrás, seriam aqueles momentos que você gostaria de guardar.

E dói no começo. Olhar as fotos, as cartas. Analisar os começos e inventar histórias onde talvez pudesse ser tudo diferente. Dói ouvir a voz e sentir como essa pessoa se afasta, à medida que o tempo passa e esquece que vocês formavam um belo par. Depois dói mais, mas não tanto, e você sente saudade das conversas e brincadeiras, do carinho, da vida compartilhada. E essa dor vai diminuindo até que você não sinta mais nada. Até que você olhe para essa pessoa e passe a ver o que ela realmente se tornou: uma desconhecida. Mas isso não quer dizer que você deixe de lembrar dos momentos bons. Não quer dizer que pense, nem que só por um momento, no que poderia ter acontecido se tivesse tomado decisões diferentes. Você simplesmente aceita que acabou tão depressa como começou, e que não tem direito de exigir da vida uma nova chance. Nós erramos sempre, e nos construímos assim, em cima de histórias que não deram certo. E daquelas que nunca darão.

- Dia par

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora