Tarde Demais

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Ultimamente eu tenho pensado demais em mim. Tanto no que eu sou hoje, quanto há alguns anos, e principalmente, em todas as coisas que eu quis ser. Coisas que eu sei que nunca conseguirei, pois de tentativas frustradas, uma parte de mim se foi. Como por exemplo, eu sei que nunca conseguirei tomar conta das pessoas que amo já que não consigo tomar conta de mim mesma. Também nunca irei amar o meu corpo ao me olhar no espelho. Não vou aprender a tocar violão, cobrir as paredes do meu quarto com jornal ou fazer uma tatuagem. Nem mesmo vou aprender a ficar.

Quando eu era mais nova, sonhava muito alto. Acreditava em mim mesma, e pensava que se eu me esforçasse muito, conseguiria a família feliz que eu sempre desejei. Mas a vida tem uma forma engraçada de fazer você sangrar por dentro, e eu acabei esquecendo desse sonho também. Eu conheci pessoas que não quis conhecer, gostei de algumas, me afastei de outras, e logo depois me afastei daquelas das quais havia gostado. Simplesmente por querer um tempo pra mim, ou um tempo em outro lugar... nunca soube bem o que acontece comigo.

Também havia uma pessoa que sempre esteve comigo. Duas, na verdade. E das duas eu fugi, mas uma delas ainda continuou por algum tempo. Essa pessoa gritava comigo e tentava dar sentido as coisas que eu fazia. Dizia que me amava, e eu a sentia distante, talvez porque eu mesma estivesse distante de tudo. E tudo aconteceu rápido demais. Hoje eu sinto que, mesmo que ela queira ficar, e mesmo que eu queira que ela fique, o fim está cada vez mais próximo. Mas eu ainda amo, sabe? Amo essas duas pessoas, e muitas outras com as quais convivo. Mesmo que por um instante pequeno, eu sempre tento me lembrar o que fez com que eu me apaixonasse por elas.

Mas depois de conhecer, gostar, amar, conhecer mais e sentir, eu me afastava. Dessa vez eu fui um pouco longe demais e acabei me afastando de todos. Não achava problema nenhum em querer ficar sozinha. A realidade é que minha individualidade sempre me levou para esses momentos de solidão, e eu me sentia livre. É como se meu coração houvesse tirado férias, e eu apenas acordava e fazia o que tinha que fazer. E não era ruim. Eu não me preocupava com ninguém.

E eu continuei assim por alguns dias, que se transformaram em semanas e meses. E eu não conversava mais com ninguém realmente. Era tudo meio superficial e eu gostava de dar bom dia. Mas comecei a passar noites acordada. Eu penso demais, sempre foi um dos meus problemas, e não sabia como colocar tudo aquilo que eu estava sentido pra fora. Tinha medo, frustração, covardia e medo. E um pouco mais de medo. O problema eram as pessoas, os afazeres, as dificuldades, os sonhos e depois a vida. A droga da minha vida. Passei a me sentir invisível, e a culpa era minha. Então provocava. Mesmo inconscientemente, fazia coisas que pudessem chamar atenção das pessoas (como sempre fiz). Mas parei de esperar que as pessoas reagissem a mim. Eu era só uma garota que queria atenção.

Desculpe. Na verdade, eu sou uma garota que só quer atenção. Sabe as coisas que escrevo? Vaidade. As roupas que visto? Vaidade. O corte de cabelo, a falta de jeito, as músicas... tudo isso, tudo isso nunca foi pra mim. Era pelo reconhecimento. Era pelo sentimento. Era para que eu tentasse me sentir bem comigo mesma.

Eu fui "vivendo" e buscando alguma emoção. Qualquer coisa que pudesse acender uma centelha em mim, qualquer coisa poderia gerar uma explosão que me manteria viva por mais algum tempo. Eu tentei encontrar uma saída, poderia ser a dor, a tristeza, qualquer sentimento. Comecei a fazer coisas erradas, coisas das quais me envergonho. Comecei a pensar e dizer coisas nas quais não acredito, e que bem no fundo, abomino com todo o meu ser. E nada foi o suficiente.

Mas eu não consigo mais. Hoje, para isso que eu me tornei, é tarde demais.

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Oi... kk
Sei que não são muitas as pessoas que acompanham este 'projeto de livro' aqui, mas eu queria realmente agradecer aqueles que leram (e comentaram kk), e dizer que foi um sonho realizado escrever um livro meu (mesmo que não seja um daqueles livros de papel e capa bonita). Como os capítulos são pequenos, eu planejava escrever até ter umas cinquenta poesias, mas infelizmente, não poderei continuar. Espero que tenham gostado (e meu ego espera que sintam saudade, haha).

Obrigada mesmo. Por tudo.

Gabriela Cardeal

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora