Bilhete de suicídio

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Eu lembro de como costumava conversar com as pessoas. Lembro de quando sorria por tudo, e de como brigava por tudo. Lembro do sorriso doce, do batom vermelho, das explosões. Lembro de quando não precisava esconder meus segredos. De quando um abraço era o suficiente para esquecer das coisas ruins. Naquele tempo, eu não suportaria o estado em que me encontro. Naquela época eu não precisava pensar em quem era ou não meu amigo. Hoje eu tenho medo do que as pessoas diriam se tivessem conhecimento dos meus pensamentos. Do meu diário. Tenho medo de que não consigam me acompanhar, e me achem apenas mais uma garota que precisa de atenção.

Eu só quero saber que alguém se importa. Mesmo que as lágrimas abafem as palavras não confessas.

Todos os dias, todos os dias eu sinto que devia falar. Sinto que não deveria guardar essas coisas dentro de mim. Sinto que seria mais fácil se eu simplesmente pudesse contar para alguém. Mas não é fácil. Principalmente para quem não tem esse alguém. Qualquer um. Então eu me calo, como ontem, como antes. Como tem sido desde que desisti de tentar fingir que estou bem. Como tem sido desde que decidi que não valia mais a pena viver. Vocês sabem do que estou falando.

E eu me perco sozinha, procurando alguém como eu. Alguém que possa me ouvir e não me julgar, alguém que não pense que essas coisas estejam apenas na minha cabeça. Porque é este o problema: as ideias estão todas lá. Traçando planos, linhas, fugas. Seguindo por caminhos cada vez mais frios, caminhos escritos nas palmas das minhas mãos. Caminhos que as pessoas não conseguem ver. Eu tento pedir socorro. Tento fazer com que me ouçam. Passo dias tentando criar coragem para colocar para fora poucas das palavras que sufoco, e mesmo assim, elas não percebem. E eu me sinto extremamente egoísta por pensar somente em mim. No quanto a minha vida é um daqueles precipícios cheios de perguntas, com a mesma resposta no final. Estou gritando que preciso de ajuda.

E eu sei que assim como a maioria, ninguém vai entender. É poesia dilacerada, é um coração partido. É mais que isso. É falta de vontade.

Falta de mim mesma, dentro de tudo

Sinto muito.

Quando o travesseiro não for mais o suficiente, eu continuarei tentando ficar de pé. Continuarei pelo pouco que consigo ver do céu, mesmo que as estrelas estejam se apagando de uma vez só. Continuarei sem motivos, porque quero ser mais forte do que sou uma vez na vida. Uma vez em toda a minha vida, quero ser o que as pessoas veem em mim. Mesmo que nunca tenha sido verdade, e eu seja só uma menina triste.

- Dia par

Mesmo em SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora