Fernanda

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Saimos do clube rindo muito da cara que os rapazes ficaram ao se deparar com a Nelci de camisa aberta.

- Você é maluca.

A Nat e eu estávamos agora no meu quarto relembrando a cena da tarde.

- Maluca é você de aceitar a proposta indecente daqueles idiotas.

- Bom, o que importa é que você foi muito esperta e agora temos quinhentinhos para aproveitar a noite.

Ela balançou as cinco notas de cem que segurava.

- Ótimo. Mas eu não estou afim de sair hoje, meu pai tá carente de mim e eu estou sentindo falta dele também.

- Mas hoje é sábado amiga. Bora para balada pegar uns gatinhos, amanhã você vive seu momento família.

- Acontece que amanhã ele vai estar no pelotão e eu já combinei de ir comer com ele, aproveitar que a vaca da minha madrasta saiu com suas amiguinhas e que a Fabiana também. Hoje será a noite minha e do meu pai apenas, deixa eu curti. E a propósito, nem quero esse dinheiro. Pode ficar pra você. Não quero nada daqueles idiotas.

- O correto não seria, não quero nada daquele idiota gostoso Ryan.

Joguei uma almofada nela que ficava imitando a minha voz.

- Some daqui sua traidora. E agradeça pela minha existência, ganhou R$ 500,00 sem fazer nada. Da próxima vez que quiser mostrar meus peitos para um bando de idiotas você me paga.

Ela se levantou e fez um movimento de reverência e saiu rindo do meu quarto. Eu ria também, quando meu pai entrou, logo depois da Nat sair.

- E então risonha, quer sair ou quer comer em casa mesmo?

Ele sentou ao meu lado na cama.

- A gente pode sair e ir num restaurante japonês, estou louca para conhecer um que abriu lá perto da faculdade.

- Ótimo. Só vou tomar uma chuveirada e a gente vai.

- Ok.

Ele me deu um beijo na testa e saiu.

Eu me joguei na cama, olhando para o teto.

Eu amo o meu pai.

Ele é tudo o que eu tenho.

Minha mãe morreu quando eu nasci, meu pai que cuidou e cuida sempre de mim. Minha infância foi um pouco complicada, a Darlene, esposa do meu pai não aceitava a minha existência, afinal eu era fruto de uma traição, embora meu pai sempre me dizia que a minha mãe era uma boa mulher, a Darlene insistia em falar quando estávamos a sós, que a minha mãe era uma prostituta e que muito provavelmente eu nem era filha do meu pai.

Eu e a Fabiana sempre tivemos um bom relacionamento, ela é cinco anos mais velha que eu e sempre me viu como a irmãzinha mais nova, em que ela cuidava na escola até a adolescência, pois a medida em que crescíamos eu me tornei mais responsável que ela e acabei ajudando a garota a se livrar de inúmeros problemas com a mãe dela.

Hoje o nosso relacionamento dentro de casa (eu e Darlene) é baseado no silêncio, não nos falamos com frequência, apenas quando é realmente necessário. As brigas somente acontecem quando ela tenta se meter na minha vida, fora isso ela fica na dela e eu fico na minha.

[...]

- Eu acho que está na hora de você arrumar um namoradinho, meu anjo.

Eu estava concentrada no meu prato quando o meu pai sai com essa. Paro de olhar para a comida e encaro ele com espanto.

Ele ri da minha reação.

- Não pai, não vou falar da minha vida amorosa com você. É estranho.

- Não vejo estranhisse ( sim, meu pai é uma figura e às vezes inventa umas palavras malucas), afinal eu sou seu pai e na ausência de uma mãe, eu posso fazer isso. Pensei em falar com a Darlene, mas acho que você não gostaria.

Balancei a cabeça confirmando. Definitivamente não gostaria de falar com a Darlene sobre nada da minha vida.

- Bom pai, entendo a sua preocupação, mas é um exagero. Não estou pensando em arrumar um namorado no momento. Estou mais concentrada nas minhas provas finais e na minha formatura, não há espaço para relacionamentos sérios na minha vida. Mas suponho que você tem algo em mente e pai, eu nem quero saber o que você está pensando, então desista.

Ele ergueu as mãos em rendição.

- Eu sabia que você estava pensando em alguma coisa, você não tem jeito né Neves.

Eu o repreendo, mas não consigo segurar a risada.

- É que eu estou ansioso para ter netinhos, cada vez que entro numa casa encendiada saio com vontade de viver.

- Então faça você mesmo suas crianças, tenho apenas 22 anos pai, não quero filhos. Essa conversa você tem que ter ou com a Fabi, que é a mais velha ou com a sua esposa.

- Você sabe que eu não controlo aquelas duas. Mas não mude de assunto mocinha, estamos falando em arrumar um namorado para você. E eu sei o cara certo para isso.

Novamente eu o olho assustada, sinto vontade de rir, mas me controlo. Sei que se eu parecer séria ele irá parar com essas maluquices.

- E quem é o pretendente?

Falo com ironia, mas meu pai não percebe. O que me deixa irritada e significa que essa conversa boba ainda não acabou.

- O Ryan.

Eu começo a tossir. Depois que paro começo a rir. Os olhos do meu pai assustados em minha direção, faz a minha risada sair mais alto.

Meu pai é um doido varrido. Sério.

Eu e o Ryan, vê se tem cabimento nisso?



Paixão em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora