Capítulo XIV

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Lauren POV

Um formigamento invadia minhas pernas, mas recusava-me mexer e estragar aquele momento. Meu lado esquerdo doía, mas ainda resistia em permanecer naquela torturante posição. Sorriso cansado no rosto, cara inclinada para direita, cabelos caindo em cascata, sentada sobre as pernas, com as mãos entrelaçadas em cima das coxas. Mesmo sentindo meu corpo reclamar, não ousava um simples movimento, pois um pequeno desenhista de cabelos ondulados, que se encontrava totalmente revoltos, havia decidido me desenhar. Algo no fundo me dizia que me encontrava nessa posição desconfortável há mais de quarenta minutos e ainda estava disposta em permanecer por mais tempo, desde que eu fosse à única pessoa existente no mundo para ele.

Taylor saiu da cozinha com um copo de suco e sorriu divertida com meu sofrimento mudo.

- David, eu acho que Lauren não está muito confortável nessa posição. - comentou, enquanto subia as escadas. David inclinou a cabeça um pouco para o lado e arqueou a sobrancelha.

- A senhora não quer mais brincar? - perguntou. Eu memorizava cada gesto que ele fazia e eu simplesmente babava quando ele fazia aquilo, pois eu fazia o mesmo. Era fascinante.

- Estou ótima! - menti descaradamente forçando um sorriso no lugar de uma careta. David sorriu e voltou a desenhar, olhei rapidamente para o lado e vivi Banana dormindo sem se importar com nada ao redor. Uma cãibra adormecia o meu pé. Respirei fundo para ignorar o desconforto que minha coluna reproduzia, minha cara começava a avermelhar-se pela dor.

A campainha tocou e David correu para atender. Meu corpo sorriu ao sentir-se livre para mover-se, rapidamente me levantei para fazer o sangue circular pelas minhas pernas.

- Papa. - escutei o grito do David, minha cara se fechou. - O que o senhor perfeição faz na minha casa? - resmunguei. Caminhei desconfortavelmente até a porta, o formigamento na perna esquerda me incomodando.

- O senhor veio me buscar? – passou a palma da mão pela testa afastando alguns cachos que teimavam em cair pelo rosto. Seth sorriu envergonhado e se abaixou.

- Lembra quando eu disse que eu viajaria para ajudar os outros em um lugar pequeno onde às pessoas não tem acesso a dentista? – David afirmou com a cabeça. – Eu tive que antecipar a viagem. – não estava próxima a porta, mas podia escutar a conversa perfeitamente bem.

- Por quê? – choramingou, mesmo não vendo seu rosto sabia que David tinha um bico e a cara abaixada, sempre fazia isso quando estava triste com algo.

- Hey campeão. – Seth chamou. – Não fique triste... – aproximei mais e fiquei atrás do David na porta, Seth acariciava suas bochechas. – Motivos maiores me levaram a fazer isso. Eu vim me despedir e dizer que... Olhe para mim. – David levantou o rosto e meu coração se partiu ao ver uma lágrima cair do rosto do pequeno. – Eu quero que você cuide da sua mãe. Eu confio em você... Não dê trabalho a ela, e a proteja do bicho papão todas as noites. – David concordou e sorriu tímido, percebi que aquela frase era uma piada entre eles e meu coração se acelerou em uma inveja. Seth o abraçou forte e sussurrou algumas coisas que me roí para ouvir, depois se levantou e olhou nos meus olhos.

- Podemos conversar? – pediu, assenti. – David eu e sua... – olhou para mim e depois para o menino. – Lauren e eu vamos conversar. – David o abraçou mais uma vez, beijou seu rosto e depois saiu, percebi lágrimas caindo desgovernadamente por sua face. Seth caminhou até o seu carro e eu o segui sem ter a mínima ideia qual assunto eu poderia ter com ele.

- Eu estou indo embora. – falou.

- Eu percebi. – retruquei sem paciência.

- Esse gênio é de família... – negou com a cabeça. – Espero que David não o herde. – toda minha autoconfiança escorregou como água por um bueiro. Ele sabia. – Não se surpreenda, pois Camila me contou há algum tempo. – explicou-se. Troquei o peso dos pés desconfortavelmente. – Mas eu não vim discutir sobre isso. – ele colocou as mãos do bolso, acho que procurava um jeito de começar. – Eu terminei com Camila. – soltou de uma vez, minha mente girou entre surtar de felicidade ou desconfiar de suas palavras. Aquelas palavras pareciam tão libertadoras, mas tão traiçoeiras. Ele entendeu meu silêncio como um consentimento para continuar a falar. – Acho que sou covarde... Ou talvez eu tenha entendido todo o sentido para esse confuso triângulo... Eu estou saindo do seu caminho.

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