Capítulo XX

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Lauren POV

O novo dia nos traz a oportunidade de começar novamente, nossos sonhos, nossos projetos, nossa caminhada ou nossa jornada. O universo nunca conspira com seus planos, pois de um jeito melancólico ou masoquista ele desarranja sua jogada apenas para mostrar quem manda no jogo.

Um dia comum pode torna-se magnífico dependendo da óptica que você olha os obstáculos a se enfrentar. Nem tudo segue o planejado, às vezes saí melhor. Eu estava naqueles dias em que até o sol sorri para o desenho animado. Mesmo sem sair de casa, sem levantar da cama eu sabia que o mundo sorria para mim. O céu antes nublado e tempestuoso, na minha perspectiva encontrava-se limpo e calmo, sereno como o sono de Camila.

- Você e sua mania de me encarar pela manhã... – Camila resmungou. Sua voz rouca mais que o comum enviando vibrações por todo o meu corpo. Ela permanecia com a cara enterrada no travesseiro e a única parte que me era visível era suas costas nuas e marcadas por minhas unhas, seus longos cabelos negros e volumosos caindo por seu corpo.

- Meu esporte preferido. – respondi divertida enquanto meus olhos fixavam-se em suas nádegas coberta pelo lençol. Percorri meus dedos calmamente por suas costas, traçando suavemente cada marca expressiva de minhas unhas em um tom avermelhado misturando-se a sua cor natural tão latina, que quando o sol tocava sua pele ficava em dourado apaixonante.

Camila virou o corpo, os cabelos desgrenhando-se por seu rosto, os olhos inchados e comprimidos.

- Velhos hábitos nunca mudam! – concordou antes de apertar meu nariz sapecamente. – Bom dia. – sorriu, antes de beijar minha testa.

- Bom dia. – cumprimentei adequadamente. Meus olhos presos aos seus ansiando por seu veredicto. Esperando a confirmação que eu tinha acesso liberado ao seu coração ou que tudo não passou de um desejo ardente devido à carência. – O que isso significa? – perguntei nervosa enquanto Camila permanecia estudando minha face, meu rosto borbulhando em um tom avermelhado em resposta ao seu olhar penetrante.

- Seu problema é que você pensa de mais, Jauregui. – imitou minha voz para depois gargalhar.

- Eu não sei o que pensar e como agir. – murmurei envergonhada. – Ontem foi tão intenso e tão íntimo que tenho medo de estar sonhando. – confidenciei. Camila acariciou meu rosto, fechei meus olhos para sentir o toque delicado de seus dedos traçando caminhos por meu rosto.

- Eu estou apenas seguindo as ondas... – comentou, franzi o cenho sem entender suas palavras. – Eu tenho pensando e pensado por um bom tempo, mas percebi que inevitavelmente as coisas não seguem nosso esquema, nosso planejamento ou a ordem que queremos para acontecer. – seu polegar esquerdo acariciando meus lábios. – Ontem a noite significou muito para mim...

- Então quer dizer que... – Camila pôs o indicador em meus lábios para me silenciar.

- O que significou para você eu não sei, mas posso apostar dez dólares que talvez tenha sido mais do que para mim. – meu rosto me traiu mostrando toda a minha tristeza ao ouvir aquelas palavras. – Não fique triste com o que eu digo, pois também significou muito para mim, mas apenas a título de comparação, eu sei que você depositou mais fichas que eu... – Camila acariciou minha testa antes de colocar uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. – Em palavras, se você quer saber se voltamos, a resposta é não, mas também estaria mentindo se dissesse que não te quero por perto, pois quero... Eu apenas não quero rotular nada, aprendi que quando finalmente as lágrimas secam é quando você pode começar a se reerguer. – sentia o peso de suas palavras rondando em meu cérebro. – Eu estou me reerguendo da segunda queda e não quero me jogar no precipício novamente. Eu estou disposta a deixa o caminho desimpedido e cabe a você encontrar a rota até meu coração. – meu coração bateu mais forte com suas últimas palavras. – Eu apenas quero ir devagar, bem devagar, pois não tenho mais o pique que tinha para grandes turbulências em minha vida. – Camila riu divertida, sua língua presa entre os dentes da forma que eu amava. – Talvez a caminhada seja longa, mas não estou te obrigando a seguir comigo. Estou apenas te avisando dos perigos e barricadas que pode encontrar durante o percurso.

- Você acredita que eu posso chegar ao seu coração? – as palavras escorregaram da minha boca antes de as filtrarem, o peso delas sendo visível no olhar de Camila, que se concentrava para uma resposta mais adequada, eu imaginei.

- Eu tenho medo de perceber que meu coração ainda é capaz de amar alguém, de se apaixonar. – permiti em silêncio para que ela pudesse terminar seu pensamento. – Amar te torna humano, mas é tão doloroso que às vezes acredito que o castigo do homem aqui na terra pelo pecado de Adão e Eva é o amor. O amor é simples, mas totalmente ilógico, é a percepção do sentido ampliada sem sentir, pois tudo se embaralha em uma nuvem incerta de pensamentos e sensações. – acariciou minha bochecha, fechei os olhos com o toque. - Uma vez David me perguntou o que era o amor e eu respondi que o amor era aquilo que se encontrava acima das estrelas. Você sabe que existe algo, mas não sabe o que é. A mágica está nisso, em acreditar no que não se vê, mas sabe que existe e é também nesse ponto que se encontra a maldição, a fragilidade que nos encontramos de sermos expostos para o outro, nossos medos e sonhos entregues de bandeja para outra pessoa usar da forma como quiser... O amor é dádiva e maldição. – minhas palavras ficaram presas na garganta, envergonhadas em sair por não serem capazes de estar à altura do discurso de Camila.

- Eu não vou desisti. – sussurrei para mim mesma, mas Camila ouviu.

- A batalha pode não ser curta... – respondeu. Camila levantou-se e meus olhos focaram-se em seu corpo nu. – Gosta do que vê? – arqueou a sobrancelha. Pigarreei tentando recuperar a fala.

- Os anos... Eles te fizeram bem... – cocei a nuca, um calor familiar preenchendo minha intimidade. – Quando você tirou a parte de baixo? Você sabe ontem... Você estava vestida. – gesticulei confusa. Meus pensamentos estavam desordenados porque Camila Cabello estava nua na minha frente, seu corpo exalando um perfume natural de sexo.

- Eu odeio dormir vestida. – resmungou. – Na verdade odeio roupa. – ri com seu comentário.

- Não acharia ruim não se você resolvesse ficar pelada. – disse de forma galante, engatinhando pela cama para chegar perto de onde ela estava.

- E eu diria o que para minhas visitas?

- Não receba mais ninguém em casa!

- E para nosso filho? – sorri abobalhada como a palavra nosso soava como música aos meus ouvidos quando ela pronunciava.

- Você tocou em um ponto realmente válido. – cocei o queixo fingindo pensar. – Talvez minha proposta não tenha sido pensada adequadamente.

- Talvez! – piscou os olhos.

- Mas não acharei ruim se decidir ficar sempre nua para mim. - esclareci. Levantei e tentei seguir Camila, que se dirigia ao banheiro, mas ela se virou e me parou. – Aonde pensas que vai? – questionou divertida.

- Tomar banho! – respondi de forma inocente. – Estou toda grudenta de Coca-Cola. – torci a cara ao sentir minhas coxas grudando uma na outra.

- Você não pareceu se importar ontem. – retrucou.

- Ponto para você, Cabello! – dei mais dois passos para encurtar nossa distância. Camila fez que não com os dedos.

- O banheiro dos hóspedes fica ao lado do quarto de David. – me apontou a direção. – Mas acho que já está familiarizada com ele. – constatou. Revirei os olhos.

- Qual é Camila. – resmunguei decepcionada. – Eu fui torturada ontem, deixe-me banhar com você para compensar todo meu sofrimento. – coloquei um bico no rosto. Camila selou nos lábios rapidamente, mas tempo suficiente para as malditas borboletas remexerem-se feliz.

- Banheiro. Lá. Fora. – falou pausadamente antes de entrar no banheiro, para minha infelicidade pude ouvir o som da porta ser trancada. Revirei os olhos, mas me divertindo com a situação. Camila disse que a caminhada seria lenta, mas tempo eu tinha de sobra e motivação também, pois no fim a recompensa seria minha família no lugar de onde nunca deveria ter saído. Ao meu lado. 

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