Como Ser Uma Garota

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No domingo eu acordei pior do que no sábado. Se é que isso é possível.

Fiquei bastante tempo deitado na cama, olhando para o teto, pensando no que fazer da minha vida dali para frente.

Bom, o futebol era melhor eu desistir. Com esse meu novo corpo de Barbie eu não aguentaria nada. Um escorão e quebraria um braço.

Mas, poderia ter uma vantagem. Com minha beleza (sim, até em versão feminina eu sou absurdamente lindo) eu poderia distrair os zagueiros adversários enquanto Brian, segundo melhor do time (porque eu sou o primeiro né) faria um touchdown.

Não viaja Josh, ainda não são permitidos times mistos. Povo sexista.

A bolsa da faculdade então... Era melhor esquecer.

Eles tinham oferecido a bolsa para jogar futebol, não para ficar desfilando pelos corredores da universidade, que provavelmente era a única coisa útil que eu poderia fazer com meu novo eu (que gay isso, cara).

Fora outras coisas, como... Summer! O que eu diria a ela? Não poderia simplesmente aparecer e dizer: “Oi Summer, sou uma garota agora, você é bissexual?”

Tudo bem. Isso foi péssimo. E do jeito que Summer é provavelmente eu levaria um tapa e iria parar no subsolo da lista dos populares.

Fora todas as outras vantagens relacionadas à escola.

E meus pais? Caramba, eu não podia simplesmente ligar e falar isso para eles.

Sem contar que eu não tinha nem como explicar. Nem eu estou acreditando ainda e muito menos aceitando.

E, com certeza, meu pai aproveitaria para me dar uma lição de moral daquelas, com suas velhas palavras “tem que ter cuidado com garotas, ainda mais com essas que você sai”.

É, eu realmente estava ferrado.

— Você precisa de dicas de moda sabia? — Tom disparou, assim que entrei na cozinha, para tomar café.

— E você precisa voltar para casa, sabia? — Disse, sendo um pouco cruel.

Ele não se abalou, apenas riu e continuou comendo seu cereal.

Sentei-me perto dele, no balcão da cozinha, e também enchi uma vasilha com cereal e uma caneca com chocolate.

Liguei a televisão e fui mudando de canal aleatoriamente.

Olhei para a pia e percebi que tinha muita louça suja. Ainda bem que tinha um lava-louças.

— Então, o que você vai fazer? — Tom me perguntou, de boca cheia, e eu quase dei um tapa nele.

— Eu ainda não sei — falei a verdade.

— Você sabe que não pode abandonar a escola.

— E você sabe que não posso aparecer lá desse jeito.

Ele ficou me olhando, por tanto tempo que me incomodou.

Levantei-me e coloquei a louça suja na pia e ele continuava lá.

— Sim, por que ta me olhando assim?

— Eu acho que você deve ir à escola sim — ele piscou. — Tenho uma ótima idéia, que vai salvar seu boletim e sua reputação, até tudo isso se ajeitar.

Eu sorri e o olhei com uma expressão de: “ta esperando o que para me contar?”

Ele pareceu adivinhar meu pensamento, dizendo:

— Calma, primeiro temos que dar um jeito no seu visual.

Concordei e em pouco tempo já estávamos indo para o shopping mais próximo.