Como Ser Uma Garota

18

Eu acordei agitado. Tive um daqueles sonhos terríveis que te fazem rolar a noite inteira.

Assim que cheguei à escola fui recebido por Tom que estava com cara de poucos amigos.

— Não sei se quero falar com você hoje!

Eu arregalei os olhos. Ou ele estava maluco ou eu tinha feito algo e não lembrava. Mesmo.

— Ei,o que foi? É por que não te esperei ontem? Ah espera...

— Não é nada disso — ele me interrompeu. — Me ferrei hoje por sua causa.

— Será que dá para ser mais claro.

Ele bufou um pouco e passou a mão nos cabelos.

— Eu beijei a Dana.

— O quê? — eu soltei uma gargalhada alta. — Grande Tom. Mas, o que isso tem a ver comigo?

Ele parou e me olhou nos olhos. Parecia irritado e triste ao mesmo tempo.

— Tem a ver que sou seu “namorado”. Ela me deu um tapa e me chamou de safado. Falou que não quer mais me ver.

Eu, por um instante, não consegui verbalizar nada. Não prejudicar a vida amorosa de Tom era um dos itens daquela minha lista idiota. E, pelo visto, era justamente isso que eu estava fazendo.

— Tom... caramba eu nem sei o que dizer...

— Não diga nada ta bom. Deixa assim. Vamos logo fazer a prova que é mais importante.

Nós caminhamos para a sala e por mais que Tom não quisesse admitir eu sabia que ele estava chateado. Mas o que eu podia fazer?

Eu ainda precisava da ajuda dele. Enquanto estivesse nesse corpo de Barbie eu não podia me arriscar.

E, bom, essa Dana bem que podia ser mais flexível não é? Ah, fala sério, foi só um beijo cara, um beijo e ela já fica toda cheia de fricote. O cara gosta dela, ta na cara e se ele tem namorada é questão de tempo. Ele não pode terminar com ela de uma hora para outra...

Ei, espera um pouco. Eu sou a “namorada” do tal cara. Essa mania de falar como se fosse outra pessoa está mexendo com a minha cabeça. Só pode. Sem contar que se Dana agiu desse modo é porque é uma boa garota.

Se eu tivesse descoberto que gostava de Rebeca quando ainda era homem e namorava a Summer, tenho certeza que ela agiria do mesmo modo. Eu acho.

Não consegui me concentrar tanto quanto deveria nas provas. Tudo bem, era geografia e história e eu tinha facilidade, mas mesmo assim acho que corria o risco de tirar um C.

Eu realmente estava me sentindo mal com a situação de Tom, poxa o meu amigo finalmente encontra alguém legal e pela primeira vez parece estar realmente apaixonado, mas eu estou no caminho.

Mas ao mesmo tempo eu me preocupo comigo. Afinal, é minha honra e reputação que está em jogo. Já pensou se alguém viu o beijo? Já pensou se de uma hora para outra ele resolve terminar comigo? O que as pessoas vão dizer e pensar? Esse colégio, às vezes, é um ninho de cobras. E, bom, minha passagem por aqui pode ser curta, mas tem que ser marcante.

Certo, os hormônios femininos realmente estão mexendo com a minha cabeça.

À tarde eu e Tom fomos comprar nossos smokings. Como eu esperava, a brincadeira saiu meio cara e eu já contava com uma bronca do senhor Toddy e da senhora Margareth, mais conhecidos como meus pais. Ótimo!

Tom até que se esforçou, mas era nítido que ele ainda estava triste e/ou chateado comigo. Procurei evitar seu olhar a todo custo e nem toquei no assunto “Dana”. Sim, eu sou um covarde às vezes.