14

1.2K 67 4
                                    

Eu estava bastante apreensivo. Óbvio que quem me visse jogado no sofá e com um monte de porcarias comidas pela metade não acharia isso. Mas eu estava.

É que na escola eu fiquei tão louco pra chegar em casa e, ao mesmo tempo, não atrapalhar Rebeca que acabei dando a chave do meu carro, do meu bebê, para ela sem perguntar o principal: se ela sabia dirigir.

Já pensou se ela bate meu Carrera GT em um poste? Eu iria enfartar, com certeza.

Se ao menos Tom estivesse aqui... poderíamos jogar vídeo game e eu relaxaria um pouco. Entretanto, sua mãe ligou e ele saiu daqui feito um louco, se desculpando e dizendo que precisava chegar rápido em casa.

Então, o que me restava senão encher a barriga de um monte de besteiras? Logo, logo eu me livraria desse corpo mesmo, poderia fugir da minha dieta saudável nesse período.

A minha cabeça até que não doía mais, porém perto do corte eu começava a sentir dor. Acho que a anestesia estava passando. Levantei-me sentindo-me uns cinco quilos mais pesado. Olhei em volta procurando meu celular para ligar para a farmácia e pedir um analgésico.

Mas, para minha surpresa: ótimo! Eu não tinha a receita. Srta. Gomez até tinha me dado uma, prescrita pelo médico é claro, mas eu esqueci na enfermaria.

Acabei decidindo por me deitar novamente e tentar dormir. Talvez a dor passasse.

Acordei umas horas depois, o que eu suponho, com o barulho da televisão. Eu não lembrava de tê-la deixado ligada. Fui me sentando devagar e quase tive um ataque cardíaco quando vi Rebeca sentada na poltrona ao lado do sofá.

— É um grande erro colocar uma das chaves da sua casa no mesmo chaveiro das chaves do carro. Vai que você perde — ela sorriu.

— Eu tenho cuidado com ele então não corro este risco — pisquei. — Você ta aí há muito tempo?

— Cheguei há... — ela olhou o relógio — umas duas horas.

Eu arregalei os olhos. Caramba ela já estava aqui há um tempo e eu dormindo, todo largado no sofá.

— Por que você não me acordou? — perguntei, tentando ajeitar os cabelos com as mãos.

— Ah, você parecia cansada, não quis te acordar. — ela deu de ombros. — E você esqueceu sua receita na enfermaria. Eu peguei e já comprei os remédios. Você me paga depois — ela piscou.

A tarde inteira ficamos conversando. Rebeca me contou suas idéias novas para o baile, como foi a reunião, o que tinham decidido e em como fora difícil pregar os cartazes pela escola sem a minha ajuda.

Tenho certeza que essa parte ela falou só para me irritar. Tinha gente suficiente na comissão para pregarem os cartazes e nem sentirem minha falta.

Falamos por tanto tempo que nem percebemos que já era noite. Rebeca resolveu ir embora, mas insisti e ela resolveu ficar para jantar.

Pedi comida japonesa (isso já estava virando rotina) e nós rimos e conversamos mais um pouco.

Quando finalmente terminamos de jantar e ela levantou-se para ir embora, lá fora começou a cair uma tempestade absurda, indicando que qualquer pessoa sensata não se atreveria a dirigir nesse momento. Não precisei nem abrir a boca, pois Rebeca já estava pegando seu celular para ligar para sua mãe. Ela ia precisar passar a noite na minha casa.

As duas conversaram um tempo e acho que a sua mãe estava insistindo para ela voltar para casa ou algo assim.

— Mãe, ta chovendo, é perigoso.

Mais um pouco de conversa e ela me passou o telefone.

— Fala com a minha mãe. Ela quer saber se é seguro ficar aqui — ele disse, com a mão no telefone para que sua mãe não escutasse.

Como Ser Uma GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora