Como Ser Uma Garota

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Era segunda-feira e eu acordei com uma dor de cabeça absurda. Talvez fosse consequência do ciclo menstrual, não sei ao certo.

Passei a mão pelos cabelos e percebi que eles tinham crescido um pouquinho. Ta bom, talvez nem desse para perceber ainda, mas eu era muito paranoico com cabelo comprido. Antes, sempre que ele estava tocando a orelha eu já queria cortar. Agora não era diferente.

Levantei ainda tonto de sono. Havia passado a noite de domingo inteira estudando. Sim, nem eu conseguia acreditar nisso. Mas as provas estavam chegando e eu precisava tirar notas boas. Simples.

Demorei bastante no banho já fazendo uma preparação para aguentar a aula do Sr. Black.

Como o verão já dava suas caras e o dia estava quente demais, vesti uma bermuda. Não era curta. Não mesmo. Era na altura do joelho e isso já era o suficiente. Coloquei uma regata branca, calcei as sandálias e tratei de me encaminhar para a escola como se estivesse indo à praia.

Chegando ao colégio percebi que os demais não estavam tão diferentes de mim. Exceto as líderes, que não desciam do salto por nada.

Encontrei com Tom que estava com seus cabelos castanhos altamente bagunçados. Perguntei-me se seu pai o vira sair assim, já que o homem era sempre tão rígido e, como bom empresário, pregava que a aparência é tudo.

Quando ele chegou perto, falei:

— Você foi assaltado ou o quê?

— Eu perdi a hora. Meu despertador não tocou hoje — ele passou a mão nos cabelos tentando controlá-los.

— Cara, essa sua mania de chegar cedo acaba com você!

Ele não respondeu. Tomou minha mão livre e me puxou para a sala do Sr. Black. Não queria sentar atrás.

Entramos e o professor já estava lá. Cara, acho que no dia em que eu chegar antes do Sr. Black na escola, vai chover muito.

Para meu alívio a aula de história passou sem maiores traumas. Respondi um ou duas perguntas daquela rodada que o professor sempre fazia quando as provas estavam se aproximando. Ele dizia que era pra ver se estávamos estudando, mas eu duvido. Ele queria nos ferrar mesmo.

Na verdade, a coisa mais proveitosa que eu fiz foi uma lista com as coisas que eu quero fazer antes de voltar a ser menino. Porque eu estou cansado de ficar me lamentando o tempo inteiro e, como Tom me disse logo no início disso tudo, eu tenho que encarar as coisas pelo lado positivo.

1.      Passar o máximo de tempo permitido no vestiário antes da aula de educação física.

2.      Convencer Rebeca de que eu sou cara legal.

3.      Rever meu relacionamento com Summer.

4.      Tentar não atrapalhara a vida amorosa de Tom.

5.      Estudar o máximo que eu puder.

6.      Surfar bastante.

7.      Tentar entender um pouco mais as mulheres.

Parei no sete porque não veio mais nada à cabeça. Mas deixei em aberto para completar depois.

Olhei para Rebeca e ela parecia bastante concentrada na aula. Na verdade, acho que eu era um dos únicos que não gostava e nem se importava em estudar espanhol o que, para um morador de San Diego, era um absurdo.

Mas o interesse dela pela aula tinha menos a ver com nossa proximidade do México e mais com o tema do baile de formatura.

O tema seria Uma Noite no México. Ideia de Rebeca, claro. Montaríamos um ambiente totalmente latino e por isso ela estava tão interessada pela cultura hispanoamericana.