OIMA - Capítulo 09 - Rolando Para o Abismo.

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Martha Guimarães estava em coma aproximadamente há oito meses após o acidente. Com uma aparência pálida, doente, sem vida e muito magra; coberta por equipamentos, fios e tubos. Pensei na minha mãe, pensei no tempo que não falava com ela ou com meu pai. A família é uma parte essencial na nossa vida que muitas vezes é abalada na hora da revelação da sexualidade de um filho.

― Mãe! Esse é o Oliver. Ele esta me ajudando com o Edu ― disse indo ficar ao lado dela ― Eu sei faz tempo que não apareço aqui, mas as coisas estão muito difíceis na empresa, ainda não estou cem por cento integrado nos assuntos, mas estou conseguindo. Papai ficaria feliz em saber que eu estou pegando o jeito dos negócios. ― ele deu uma pausa, respirou e logo se alegrou ― Mas tenho ótimas noticias. O Dudu melhorou na escola. Graças ao Oliver.

Ele olhou pra mim e sorriu. Meu coração quase sai pela boca nesse momento. Ele continuou falando com ela. Alguns especialistas dizem que pessoas em coma podem ouvir as outras e acho que ele acreditava nisso, que era o ponto seguro dele. Eu sentei no sofá do outro lado do apartamento e fiquei observando a conversa, que durou bastante. Assuntos sobre como a casa, o Edu a empresa foram os temas principais. Então depois de um tempo considerável ele me chamou.

― Eu sei que para você pode parecer estranho, mas... ― Ele começou a dizer meio sem graça.

― Oi Dona Martha. Eu sou o Oliver ― disse segurando a mão dela ― É um grande prazer em lhe conhecer. Desculpe não vim antes. Eu quero lhe dizer que seus filhos estão bem. O Edu, que é meu aluno na escola, é um menino muito especial. Tirou notas maravilhosas esse bimestre e esta estudando muito. Não ser preocupe que eu vou cuidar dos nossos meninos.

Eu olhei pra ele e a felicidade que eu vi naqueles olhos foi o maior presente que eu poderia ganhar aquele dia. Ele sussurrou pra mim "Obrigado" e tudo valeu a pena.

Depois da visita ao hospital ele me perguntou ser eu queria fazer um lanche.

― Bem... Eu estou sim com fome ― disse indo em direção ao carro dele.

― Eu conheço um restaurante estilo bar... ― ele começou a dizer, mas eu interrompi.

― Ah não! Posso escolher o lugar dessa vez? ― eu perguntei.

― Hum! Aonde você que ir? ― ele perguntou.

― É surpresa! Eu posso dirigir? ― eu perguntei.

― Dirigir? O meu carro? ― ele parecia incrédulo com a proposta.

― Sim! O seu carro ― disse.

― Cara eu tenho um grande ciúmes do meu carro, ninguém dirige ele. Só o meu grupo de mecânicos e com muitas restrições. ― disse ele.

― Linkin é só um carro ― eu disse revirando os olhos.

― Não bebe, ele não quis dizer isso, Não! Não! ― disse ele abraçando o carro com uma voz manhosa.

― Vamos logo e deixa de besteira homem ― eu disse ― é só um carro.

― Não é só um carro. É um Sonata. Assim como a musica de Beethoven ele é uma obra de arte ― disse ele, eu apenas olhei serio e estiquei o braço pedindo a chave. Ele me olho por uns 10 segundos. Respirou e cedeu.

― Não se preocupe, você vai gostar ― ele sorriu. Fui guiando o veiculo até a saída da cidade.

― Você não está pretendendo me sequestrar ou nada do tipo não é? ― disse ele rindo.

― Isso é uma ótima ideia. Vou pedi um resgate milionário ― disse e nós rimos ― Não sabia que você gostava de Beethoven! ― disse logo em seguida.

― Eu odiava. Achava muito chato, porém minha mãe adora. E depois que ela entrou em coma eu comecei tocar pra ela no hospital e com o tempo passei a gostar. Assim como eu fiz com a sua Adele. ― ele disse. Nós formos conversando sobre a mãe dele pelo resto do caminho, ele me contou o quanto ela é maravilhosa, com isso não demorou muito para chegarmos no local que era um restaurante na estrada que tinha um lago próximo, daqueles "Pesque e Coma".

― Além de pagar eu ainda vou de que pegar a minha comida? ― Perguntou dele quando saímos do carro.

― Ah, deixa de ser chato e dá uma chance pro local. Sei que você vai adorar ― Nós entramos e pegamos as varas de pesca e o guia nos levou até lago. Então começamos a preparar as varas e ele não tinha jeito para a coisa. Não mesmo. Nós rimos bastante dele. Mais foram momentos maravilhosos. Depois que finalmente ele colocou a isca no anzol nós sentamos no meio da ponte que cortava ao lago em quatro partes e ficamos em silêncio, afinal pescaria requer silêncio.

― Eu me sinto muito culpado. Eu tenho certeza que a culpa é minha ― disse ele olhando fixo para o lago. Eu apenas ouvir o que ele tinha a dizer, afinal o que mais eu podia fazer? ― Eu não deveria ter deixado ele dirigir naquele estado.

― Era aniversario do meu avô ― ele continuou ― ele estava completando noventa anos. Toda a minha família estava reunida na casa dos meus avôs e meu pai passou a noite bebendo. Já que minha mãe tinha pedido para mim dirigir. No meio da noite nós brigamos feio. Eu dei um soco nele, a confusão foi feia. Saí da festa muito puto, peguei a moto do meu primo e voltei pra cidade. No dia seguinte eu soube que eles tinham sofrido o acidente.

Sua voz vinha com um misto de sofrimento e culpa. Ouvi aquilo dele era como sentir uma bala entrando no corpo e indo direto ao meu coração.

― Em minha opinião você não teve culpa. Na verdade eu tenho certeza, não podemos mudar os planos da vida, se não fosse daquele jeito seria de outro. Mas nada que eu fale vai mudar a sua opinião. Você que tem que pensa e ver que a culpa não é sua. Você precisa se perdoar ― eu disse colocando a mão no ombro dele em gesto de conforto. Mas ele deixou a vara de lado e me deu um abraço bem forte. Sentir as lagrimas dele, que foram poucas molharem os meus ombros.

― Obrigado ― disse ele. ―Muito obrigado por tudo Oliver.

Depois disso o tema foi o quanto ele era ruim na pescaria. Foi muito divertido. Ele não pescou nada, contudo eu peguei três peixes. Levamos para o restaurante e pedimos para assá-los. Porem enquanto estávamos esperando os peixes ficarem prontos ele ficou pensativo e depois disse.

― Eu vou me casar com a Patrícia ― disse ele.

***

Amo vocês demais

X.O

Oliver Porscher





O Irmão do Meu Aluno  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora