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Minha pueril mente infantil e minha criação num convento católico tornaram minha base espiritual muito forte, eu havia aprendido desde muito nova a ficar quieta. Desde que me entendo por gente, estive no convento São Benedito, um pequeno e organizado convento no sul do pais, lembro sempre do frio, naquele mausoléu feito de pedra, parecia congelar até meus ossos e alma.

Não apenas o ambiente era frio, como minha criação também havia sido. A freira que cuidava de mim se chamava Joana, uma ruiva alta e bela, suas feições angelicais contrastavam com a personalidade cruel e gélida.

Joana me olhava com tédio e me destinava pouquíssimo do seu tempo e paciência.

-Acho que você deveria aprender a lavar essas roupas mais rápido! Está frio!

Ela ralhou.

-Eu sei bem o quanto está frio Joana, eu estou encharcada, lavando suas roupas!

Ela pegou uma vara que sempre trazia presa em seu cinto de corda e me bateu com aquilo na nuca.

-Cale-se e termine logo isso!

Meus dias eram assim, eu acordava cedo e ajuda as irmão Maria Eunice e Kátia no café da manhã, depois limpava meu quarto e o quarto de Joana, ainda pela manhã deveria ajudar as irmãs com o almoço. Na parte da tarde lavar as roupas de Joana e depois ajudar no jantar, antes de finalmente me deitar e dormir.

Eu estava descascando batatas numa tarde, a freira Maria Eunice me deu um chocolate, apenas um pequeno pedaço. Aquele foi o melhor dia da minha, eu sorri por um mês depois daquilo, não me importando com as crueldades e serviços domésticos que me destinados.

Os padres eram gentis, me ensinaram a ler, escrever e a cantar. Neles não havia hostilidade, eles eram servos fieis a sua fé e crença em bondade e amor. Eles me ensinaram a amar a leitura e Padre Gustavo sempre me trazia um livro novo, nos sábados depois da missa.

Apesar do convento ficar num lugar em que o frio nos tomava por quase seis meses do ano, quando esquentava tudo ficava lindo, claro e fresco. Eu amava, me banhava no rio e brincava com os cachorros. Os jardins ficavam cheios de flores lindas e cheirosas e todos os dias eu colhia algumas e espalhava pelo convento, deixando o lugar mais alegre e leve.

Eu sempre me pegava pensando sobre meus pais, no pq de eu estar naquele convento, na minha história antes de estar naquele lugar. Todas as noites eu perguntava a Deus, depois de minhas orações, o pq de eu estar ali.

Criança deve ser tratada bem, ter uma casa, mãe, pai e bons cuidados. Eu tinha Joana e apesar de suas maldades, também tinha as outras freiras e os padres, mas, aquilo estava errado. Eu deveria ter um lar.

Joana entrou no meu quarto, numa noite, eu estava sentada perto de minha pequena lareira, esquentando as mãos e pés.

-Você anda mais quieta que o normal!

A olhei.

-Estou do mesmo jeito de sempre irmã.

-A vejo suspirar pelos cantos menina! Será que já esta apaixonada? Ainda tão jovem?

-Por Deus! Vivemos num convento, os únicos homens aqui são padres!

Eu nunca havia me sentido tão tímida como naquele momento.

A mulher gargalhou.

-Pobre criança! Presa a essas paredes de merda, abandonada pra sempre aqui!

-Não estou presa, quando eu tiver dezoito anos sairei daqui!

-E pra onde irá?

-Não sei! – Falei impaciente. – Mas sairei e terei minha própria família!

Ela gargalhou.

-Ah claro! Você é ainda mais tola do que eu pensava menina! Você não tem dinheiro e nem parentes, vai formar uma família como? Vai sair daqui e magicamente um bom homem vai aparecer e formar uma família com você? Você é ainda mais tola do que eu imaginei!

-Eu posso trabalhar...

-E onde vai dormir?

-Posso continuar dormindo aqui.

-Se você sair daqui eu jamais te deixarei voltar.

-Você deveria deixar a criança em paz!

A voz do padre Gustavo quebrou o momento e Joana se sobressaltou.

-Padre!

Ela abaixou a cabeça, constrangida, eu até me surpreendi, nunca a havia visto assim.

-Por Deus! Sua maldade te levará ao inferno! – Ele gritou. – Não importa o tempo que passe aqui, você não aprende não é?

-Eu..eu ... –Ela gaguejou. – Eu estava apenas tentado por juízo na cabeça dela padre! A pobre menina acha que um dia saíra daqui.

-Ela não está presa aqui, ela poderá sair, não é uma freira e se não desejar ser, não se tornará!

-Com todo respeito padre, a mãe de Anie a deixou sobre meus cuidados, e eu cuidarei dela...

O padre a interrompeu.

-Não me interessa sua relação ou o que a mãe da menina te pediu, o futuro dela, só pertence a ela.

Joana levantou a cabeça furiosa, mas o padre a olhou raivoso.

-Você não devia se meter nisso!

-Eu me meto e você não deveria me responder assim!

-Perdão padre!

-Não ficaram mais sobe os cuidados da menina, sua frieza e maldade só trazem coisas ruins, fique com elas apenas para você.

-Você não tem poder sobre isso!

Ela gritou.

-Você ficará a pão e água por sete dias e presa a seu quarto.

Eu nunca havia isto ninguém desafiar Joana assim, permaneci inerte e chocada.

O padre Gustavo era um senhor, não tão velho, mas não jovem como Joana, ele era novo no convento e não tolerava as picuinhas de Joana.

-Então foi minha mãe que me colocou aqui.

Falei sentando em minha cama.

-Não sabe sobre sua história?

-Não padre!

-Deveríamos investigar, o que acha?

E ele investigou, não descobrimos quem era minha mãe, apenas que eu e Joana chegamos no convento no mesmo dia e juntas, não havia nenhum documento nem informando a idade que eu tinha quando cheguei lá e nem o ano em que chegamos, apenas o dia e o mês.  

Amaldiçoados .EM REVISÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora