A História

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-Primeiro gostaria de te agradecer.

Nanjath me olhou interessado, fiquei confusa. Semicerrei os olhos e fiquei totalmente intrigada com ele. 

-Pelo que? 

-Depois que você apareceu, libertou meu filho, de Camille.

-Acho que não libertei, ele ainda ama aquela mulher, acho até que sempre vai amar.

Nanjath olhou pela janela o horizonte e o mar. 

-Sentimentos....

-Tão forte assim, deve ser mais uma doença.

-Acha que devo fazer isso por ele? Forçar?

Primeiro eu não entendi realmente o que ele quis dizer com aquela pergunta..

-Você vai fazer isso por ele, impedindo-o de sofrer para tomar a decisão e de sofrer depois da decisão tomada.  

-Você é esperta. - Ele me olhou interessado novamente. - Ele vai sofrer, mas você vai estar lá depois, para que ele...

-Como um escape? Me desculpe, mas não vou, ele que se resolva sozinho.

-Uma criaturinha curiosa e teimosa não é? - Ele falou sorrindo. - Pensei que seus sentimentos por el fossem grandes, capaz de fazer passar o orgulho.

-Antes de ter sentimentos por ele, tenho por mim. E se depois ele me culpar pela morte dela? Viver angustiado e me angustiar? Cada decisão que tomamos afeta não só o agora, mas também o futuro.

Falei olhando para a janela. Ele suspirou e mudou de assunto.

-Tens curiosidade sobre a minha história. Portanto te contarei sobre tudo, adoro contar histórias. - Nanjath falou divertido. - A muitas anos atrás,  muitos anos mesmo eu nem me lembro quantos, eu morava aqui com minha família. Eramos uma tribo de índios tão antiga quanto o próprio mundo, eramos fortes, determinados, valentes e misticos. Tínhamos vários dons, as mulheres e homens mais velhos conseguiam fazer chover, sarar feridas, fazer parar de chover...entre várias outras coisas.

O olhar dele não desencontrou o meu por nenhum momento.

-Meu pai era o cacique, meu irmão mais velho o sucessor e eu era apenas o irmão mais novo fracote e desprezado. Minha avó era uma feiticeira exilada, era a mais forte das feiticeiras, morava a noroeste daqui, tem uma enorme montanha naquele ponto, no meio da floresta, ela foi exilada por ter trocado meu avó por um homem branco. Minha avó fugia para se encontrar com o homem e transar, mas meu avó acabou descobrindo, matou o homem e a exilou sem dó nem piedade. Meu povo era conhecido por sua falta de compaixão. 

''Mas, aquele episodio não seria esquecido, os amigos do amante da minha avó não esqueceriam a morte de seu companheiro assim tão fácil, muito menos por ele ter sido morto por um índio. Um ódio crescia nos corações daqueles homens, um ódio imenso que com o tempo foi apenas piorando. Sempre fui o filho desprezado, meu pai não procurava saber onde eu estava, ou se dormia com a tribo. Vagava pela praia e pela floresta a procura de aventuras. 

Escutei as histórias sobre minha vó e fiquei curioso, botei na cabeça que ia conhece-la de qualquer jeito. Comecei uma caminhada até a montanha, amedrontado e sozinho, mas acabava sempre voltando antes de chegar a metade do caminho.'' 

Ele fez uma pausa e sorriu.

-Um dia, eu tomei coragem e acabei encontrando a montanha já a noite e pude ver a fumaça que a fogueira produzia ao longe. Subi a montanha determinado, depois de caçar um coelho para oferecer a minha avó como presente. Assim que me viu ela ficou espantada, tentou se esconder, fugir de mim, mas a tranquilizei. Conversamos durante toda a noite, ela estava cansada, mal se alimentava e mal tinha roupas para suportar o frio. Passei um mês ajudando- a a se alimentar, vestir e a melhorar sua moradia. A noite, eu via ela entoando cânticos, misturando coisas aleatórias e bebendo várias de suas misturas, ela havia me dito que era poderosa, que conseguiria fazer uma poção para o que deseja-se. Nunca acreditei nela, afinal se ela pudesse realmente fazer uma poção para qualquer coisa, poderia estar forte, jovem, não sentir fome ou frio...Duvidei de tudo que ela me falava. 

Amaldiçoados .EM REVISÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora