No dia seguinte, fui acordada por várias batidas na porta. Acordei assustada, com o sol forte em meu quarto. Os raios estavam sob a cama, o que me fez levantar rápido dali.
Assim que saí do banho, fui em meu armário e peguei uma calça jeans escura e uma blusa de alcinha branca. Calcei uma sapatilha vermelha e desci as escadas para tomar café, onde meu pai estava engravatado e Scott pronto para sair, sentado ao sofá.
Me sentei junto à meu pai enquanto minha mãe colocava as panquecas, a garrafinha de mel na mesa e a xícara de café. Observei a conversa de meu pai e Scott sobre o basquete.
- Fique tranquilo, Scott. – disse meu pai. – Você só precisa arrebentar no teste para o time. Você era o melhor jogador do time em São Francisco!
- É, pai, mas não é tão fácil fazer isso em um lugar onde você não se sente à vontade e não conhece ninguém. – diz Scott, enquanto coça a cabeça. – Também não vai ser fácil entrar na equipe de natação, tá, Hannah?
- Não jogue seu pessimismo em cima de mim, Scott. – eu digo, enquanto termino de comer as panquecas. – Vamos conseguir... É só não procurar confusão. Na verdade, fugir delas.
- Você é quem arruma as confusões! – disse Scott, se levantando e ameaçando lançar uma almofada.
Minha mãe se virou para Scott, que colocou a almofada novamente no sofá e deu uma risada sarcástica. Os olhares de Lauren sempre diziam tudo.
Saímos da sala e fomos em direção ao carro. Me sentei no banco da frente e coloquei o cinto de segurança. Selecionei uma playlist aleatória e coloquei meus fones de ouvido, tentando me distrair do nervosismo que me seguia. Após alguns minutos na estrada, meu pai me cutucou e disse:
- Vamos providenciar a piscina. Convenci sua mãe ontem à noite, antes de dormir. Acho que a venci pelo cansaço
Dei um sorriso sem mostrar os dentes, mas tentei demonstrar satisfação. Coloquei os fones novamente e tentei manter longe o desconforto que ainda me seguia.
Eu e Scott estávamos matriculados em colégios diferentes. Querendo um local com destaque no basquete, meus pais colocaram Scott na Marquette High School, que tinha uma fama gigantesca por ganharem a maioria dos campeonatos naquele esporte. Quanto a mim, fui matriculada na Michigan City High School, que era destaque para natação.
As duas escolas são inimigas devido aos campeonatos esportivos, quase nunca tendo um só campeão. Michigan sempre vence nos campeonatos de natação, futebol americano e vôlei, enquanto Marquette ganha os campeonatos de basquete, ginástica artística e queimada. Esse é o motivo para estudarmos separados: os esportes.
Assim que meu pai deixou meu irmão no colégio, começamos a conversar.
- Por favor, Hannah, - disse ele. – tente fazer novos amigos.
- Eu sempre tento. – eu disse, me debruçando na janela no carro. – O problema são as brigas e...
- Mas agora, talvez, você tenha aprendido o que não fazer pra ser um imã. Vamos tentar nos estabilizar aqui...
O carro parou indicando que chegamos ao colégio. Dei um abraço em meu pai e desci rápido do carro, caminhando em direção a porta principal.
Um lugar enorme, cercado de árvores, com uma escada com um comprimento sem igual, Michigan City High School era realmente enorme quanto falavam. Quando cheguei dentro do colégio, abri o bloco de notas do celular, onde eu havia anotado quais eram minhas salas naquele dia.
Subi as escadas e me deparei com um corredor bastante cheio. Entre as pessoas, comecei a procurar pelo meu armário, que, de acordo com o número, era no final do corredor. Ultrapassei algumas pessoas e consegui localizar a pequena porta, onde havia uma garota encostada sob ela. Pensei por alguns milésimos de segundos em alguma forma para pedi-la licença, mas não foi necessário.
- Você vai abrir aqui? – disse a menina, desgrudando da porta.
- Sim. – eu disse, um pouco desajeitada.
A garota deu um passo para trás, mas continuou a conversar com as pessoas que estavam ali envoltas. Quando terminei de colocar os livros e fechei a porta, ela se virou para mim novamente e disse:
- Você é nova?
- Sou. – respondi, dando um sorriso sem graça, mas ainda sim convidativo.
- Bom... Sou a Victoria. Mas pode me chamar de Vic. Ou Tori. Ou qualquer outra coisa que não seja esse nome ridículo.
- Ahn... Claro... Meu nome é Hannah.
- Ok, Han, se é que posso chamar você assim. Não se preocupa com esses esquisitos que estão falando comigo. Olha, - ela disse, apontando para uma das meninas mais próximas a ela e apertou sua bochecha. - uma gracinha, não?
Victoria estava junto de outras duas pessoas bem diferentes dela. Havia uma garota com haircuts e uma blusa do time de vôlei e um garoto com uma camisa amarela e um fone de ouvido.
- Você pode me dizer onde fica a sala do professor Laurence? – perguntei, aproveitando a atenção em mim.
- É a mesma sala que a minha! – disse Victoria. – Uau... Uma grande coincidência.
Dei um sorriso e ainda segurando minha mochila, esperei para que Victoria pudesse me indicar onde era a sala. Seu grupo de amigos ainda estava conversando, até que ela me apresentou rapidamente para todos como "novata".
- Olha, preciso ir ao banheiro. – ela disse, enquanto colocava sua bolsa nos ombros. – Assim que voltar, vamos pra a sala, ok?
Assenti com a cabeça e vi ela se distanciando dali. Não querendo ficar parada em frente ao armário, peguei meu celular e fui caminhando em direção ao fim do corredor, na esperança de não parecer tão perdida quanto eu estava.
De repente, senti uma dor aguda na cabeça e dei um gemido baixo. Ouvi o barulho de um armário se fechando e de livros caindo ao chão. Coloquei a mão em minha testa e tentei fingir que estava tudo bem.
- Garota! – disse uma voz masculina. – Me desculpa! Você... você está bem?
Tirei a mão da testa e abri os olhos, encarando um garoto alto e com ombros bastante largos. Seus cabelos eram pretos e seus olhos, verdes. Ele também usava uma camisa do time do colégio. Dei um pequeno gemido.
- Está tudo bem. – eu disse devagar. – Eu só estava... distraída. A culpa é minha.
- Olha, me desculpa, mesmo. – ele disse novamente.
Assenti positivamente com a cabeça, na esperança de sair rápido dali, mas uma mão tocou meus ombros.
- Quem é você? – perguntou o garoto, com uma voz preocupada, mas amistosa.
- Sou Hannah Collins. – respondi, sem graça.
- Connor. – respondeu o garoto, estendendo a mão.
Assim que peguei em sua mão macia e quente, senti seu calor vindo até mim. Nos soltamos e, sem graça, ele deu um aceno e saiu andando. Permaneci imóvel, mas ainda com a mão na testa. Quando Victoria saiu do banheiro, fui em sua direção para que pudéssemos entrar na sala de aula. As coisas estavam indo relativamente bem.
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No Nível Da Água
Romance"É sério, eu não sei como, mas sou uma pessoa que atrai muitos problemas. E naquela mudança, eu tentaria ser diferente. Sim, eu ia focar na natação e fazer novos amigos. As pessoas não ficavam muito tempo na minha vida. Mas tudo mudou quando eu bat...