(16) - EMPURRÃOZINHO NECESSÁRIO

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            Os dias após o segundo teste foram estranhamente normais, mas com um diferencial: eu estava sempre na defensiva. Apesar de eu e Connor estarmos cada vez mais próximos, eu não poderia me esquecer sobre seu plano com Margarett, pois ele ainda mantinha o disfarce, ou pelo menos tentava. Sempre que nós nos encontrávamos para praticar alguns nados no colégio, ela e suas amigas estavam sempre por perto da piscina, o que me trazia um desconforto descomunal. Era terrível sentir que as coisas poderiam dar errado a qualquer momento.
            No colégio, nós nos tratávamos como duas pessoas da mesma equipe esportiva e que tinham um único objetivo em comum: ganhar o campeonato regional de natação contra a Marquette e ir para as estaduais. Por outro lado, quando estávamos sozinhos, à luz da lua da madrugada, em meu quarto, descobríamos cada vez mais coisas parecidas, como uma grande e imensa vontade de viajar sem rumo pelo país a fora, a adoração por pães com peito de peru ou até mesmo a satisfação por andar descalço na grama. Apesar de Connor não ter demonstrado lembrar do que ocorreu na festa, eu tentava ser a mesma pessoa de antes da declaração. E pelo visto, estava dando certo.
            Victoria ainda estava se recuperando sobre o incidente com Georgie, Judy e a infeliz Margarett. Aos poucos, ela ainda tentava recuperar sua amizade com Judy, enquanto Georgie vagava sozinho pelos corredores da MCHS. Os dois mal se encaravam e, quando isso ocorria, a cara de nojo de um dos lados era potencialmente perceptível. Contudo, eu e Victoria permanecíamos unidas, sempre uma ao lado da outra. E em algumas vezes, quando as coisas pioravam um pouquinho mais do seu lado, eu dividia a cama do meu quarto com ela e percebia suas lágrimas. Por outro lado, Judy ainda mantinha seus vários relacionamentos e tentava fingir que o que a amiga sentia era nada mais nada menos que um sentimento passageiro.
              Quando Victoria ia para minha casa, Connor raramente aparecia e abria as cortinas. Mas após algum tempo, vivendo engasgada com o segredo de nos encontrarmos às escondidas nas madrugadas, resolvi que era a hora de contar para alguém sobre aquilo. E nada mais justo do que compartilhar isso com a pessoa que adorava fazer skins care comigo durante o dia.
             Victoria havia chegado há duas horas e estávamos sentadas na beira da piscina, ambas de biquíni e segurando uma lata de suco. Estávamos conversando sobre os campeonatos esportivos e como eles estavam próximos, até que resolvi interromper o assunto:
             - Me sinto mais nervosa que o normal, apesar de ter nadado várias vezes em outros campeonatos antes.
             Victoria deu um gole no suco e lançou a lata vazia em direção ao lixo, sem sucesso ao acertá-lo.
             - É claro que você está nervosa! – ela disse, rindo. – Você vai ser liderada pelo melhor capitão de natação que aquela escola já teve.
             Respirei fundo e dei um sorriso sem graça. Pensei por alguns minutos em como contar tudo a Victoria sem colocar em risco o plano de Connor e Margarett.
             - Não é só isso. – eu disse. – A gente vem se encontrando há algum tempo. Quer dizer, nós conversamos bastante sobre... tudo. Tudinho.
             - O que? – disse Victoria, incrédula. Ela tirou seus óculos escuros do rosto e os colocou na cabeça. – Há quanto tempo isso vem acontecendo?
             - Há alguns meses...
             E então, contei tudo o que eu podia para Victoria. A cada palavra ela se chocava ainda mais, mas era possível ser o sorriso sarcástico e a animação em seu rosto. Por fim, ela disse:
             - Você realmente gosta dele, não é?
             - Parece que sim. – respondi, dando os ombros e dando o último gole no suco. – Mas não tenho ideia se isso é recíproco ou não. E tenho medo de não ser. É como se eu estivesse pronta pra pular e com medo de profundidade.
             - Você só precisa de um empurrãozinho. E ele também.
             - O que você quer dizer com isso? – perguntei confusa e um pouco preocupada.
             Victoria me olhou com um olhar desafiador e deu um sorriso:
             - Seria uma pena se ele e Margarett terminassem...
             Arregalei os olhos para Victoria e disse assustada:
             - Vic, ela não pode sonhar com isso, você entendeu? Ninguém pode!
             - Pode ficar tranquila. Eu gosto quando o circo pega fogo e eu estou bem de longe vendo a fumaça. – ela disse, entrando na piscina e me deixando sozinha na borda com meus pensamentos.

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