(19) - LAGO MICHIGAN

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Alguns dias se passarem desde a discussão de Connor e Margaret. Apesar de dizer e demonstrar preocupação em alguns momentos em relação ao acontecido, Connor estava aparentemente mais leve e mais feliz. Nossas conversas se tornaram mais constantes, tanto em casa quanto no colégio. E um dia até almoçamos juntos com as pessoas do time de natação. Alex sempre perguntava ao grupo quando seria a próxima festa e comentava que o momento perfeito seria após a vitória contra Marquette. Em alguns momentos, eu e Connor ficávamos de mãos dadas e, quando alguém via – e se sentia à vontade para perguntar –, ele sempre dizia a mesma coisa:
- É um lance nosso.
Era impossível esconder o sorriso diante de comentários como aquele. Eu estava apaixonada e aquele sentimento preenchia cada pedaço vazio em mim que eu não conseguia completar. Estávamos cada vez mais juntos, mais comunicativos e mais íntimos. Sentia que podia confiar em Connor desde o momento em que nos encontramos pela primeira vez. E assim foi feito.
Os treinos foram se intensificando com o desenrolar da semana. O treinador Raymond pediu aos professores que liberassem os nadadores mais cedo, então tínhamos a tarde livre no ginásio. Meus tempos melhoraram em comparação ao primeiro treino pesado e eu dava graças aos treinamentos extras que Connor e eu tínhamos, tanto em casa quanto no colégio. Travis, Ashley e Naomi sempre me pediam ajuda com os saltos, o que fazia com que eu me sentisse importante e com meu lugar no time. Sempre que eu subia no trampolim, pude observar, lá de cima, Connor me olhar. E seu olhar era doce.
O campeonato de natação era um marco e mostrava o quão perto estávamos do fim do colegial. Assim como Connor, eu não estava certa do que queria fazer e a cada vez que eu pensava naquilo, as coisas se tornavam mais confusas. Eu não sabia se queria fazer faculdade ou começar a trabalhar com alguma coisa para ter meu próprio dinheiro. Eu estava preparada para me separar de minha mãe, mas não de meu pai, e aquilo seria uma dorzinha incômoda. A única certeza era que eu queria continuar nadando, independente do que acontecesse. A natação era parte da minha vida e esteve comigo desde que eu me lembrava. Não tinha algum momento importante que eu não estivesse nadando.
E então me lembrei da bolsa estudantil pela natação que Connor havia perdido. Será que eu gostaria de uma bolsa daquelas? Competir era minha paixão e estar na água mostrando o que eu fazia me completava de uma maneira absurda. E então comecei a me questionar se valeria a pena. Para uma pessoa confusa, qualquer caminho serve. E se aquele caminho tivesse a água como válvula de escape, eu começaria a pensar seriamente em trilha-lo.
Estava um dia ensolarado. Os raios de sol penetravam pelo vidro da janela e esquentavam a sala de aula de modo que os ventiladores não eram o suficiente. Victoria estava sentada atrás de mim e, como de costume, ela não estava prestando a atenção no que o professor Gibbles estava falando. De fato, o número de bombardeios no Egito não era um assunto que me despertava interesse também. Ela estava usando o uniforme do time de vôlei da MCHS e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. As pessoas estavam descontraídas e cochichavam por toda a sala. Assim que ela notou que poderíamos conversar, cutucou meu ombro com delicadeza até que eu olhasse para trás.
- Você já conseguiu sua roupa? – ela perguntou, curiosa. – O baile é em quatro dias!
Dei um sorriso aliviado. Eu tinha uma válvula de escape e essa válvula se chamava vestido preto quebra galho de bailes. Em todos os anos do colegial, eu usava o mesmo vestido pois estava sempre em uma escola diferente. Não faria diferença usar algo repetido, já que ninguém iria conhecer o novo vestido velho.
- Sim. – respondi, dando um sorriso. – Você já escolheu o seu?
- Claro! – disse Victoria, entusiasmada com o assunto. – Eu e Judy sempre escolhemos os vestidos na mesma loja, mas esse ano... – ela fez uma pausa rápida e olhou para Judy, que estava na mesa ao nosso lado, ouvindo música no fone de ouvido. – Bem, acho que ela preferiu escolher em outro lugar.
Victoria deu um sorriso fraco e vagou em seus pensamentos longínquos sobre Judy. Mesmo assim, ela ainda manteve a atenção e o olhar fixo a mim.
- Connor já convidou você?
Minha cabeça estava tão atordoada com meus pensamentos sobre o campeonato e o futuro que eu não tinha mencionado sobre o baile com Connor. Não tínhamos conversado sobre aquele assunto em momento algum.
- Ahn... Não falamos sobre isso ainda.
Victoria fez uma expressão duvidosa, mas logo deu um sorriso sarcástico. Ela levantou os braços e começou a imitar como seríamos dançando juntos. Dei uma gargalhada baixa e logo perguntei:
- E você, com quem vai?
Ela logo desfez sua dancinha e olhou para mim, sem graça.
- Nos últimos anos, eu, Judy e Georgie íamos juntos. – ela disse, olhando para Judy novamente, ainda distraída com sua música. – Judy sempre encontrava algum cara que queria dançar com ela enquanto eu e Georgie fazíamos alguma coisa. Mas desta vez... Não sei, Han. Não sei mesmo.
Não sei em qual momento Judy tirou seus fones de ouvido e se juntou a nós. Fico me perguntando se ela ouviu algum pedaço do que Victoria disse.
- Vocês estão falando do baile? – disse Judy, entusiasmada. – Vocês não vão acreditar em quem me convidou hoje! Renard Lemoine, o intercambista! – ela se virou para Victoria, que forçava um sorriso. – Você acredita, Vic?
- Uau! – respondeu Victoria, ainda forçando para não se mostrar atingida. – Você já queria sair com ele a um tempo, não é?
Judy afirmou com a cabeça e continuou sorrindo para nós, como se esperasse algum tipo de aprovação. Felizmente, para o fim do desconforto, o sinal tocou no corredor e as pessoas começaram a se aglomerar para sair da sala. Mas isso não a impediu de nos perguntar:
- E vocês? Com quem vão?
Victoria suspirou e olhou para mim, sem graça. Olhei para Judy, que ainda estava feliz por conseguir um par e esperava uma resposta. Eu não queria que Victoria fosse sozinha ao baile, muito menos visse Judy se divertindo enquanto ela estivesse sentada em um canto, com algum copo de bebida em mãos. Eu sabia que ela estava magoada pela amiga ter encontrado um par, mas não a ponto de querê-la fazer se sentir culpada por não irem juntas. Senti meu coração desmanchar e ao mesmo tempo se encher de compaixão.
- Nós vamos juntas. – respondi. – Não é, Vic?
Victoria olhou para mim e deu um sorriso e, sem pensar, lançou seu corpo contra o meu e me deu o abraço mais apertado que pôde. Judy deu um suspiro de alívio e olhando nos meus olhos, sussurrou:
- Obrigada.


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