(22) - DESPEDIDAS E RECOMEÇOS

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Eu não passava por uma montanha russa de sentimentos há algum tempo e aquele fim de semana tinha sido de longe a maior das sensações. Apesar do campeonato ter sido cancelado, descobrir o motivo de Lauren ter me destratado a vida toda e levar uma surra de Margarett, eu nunca me senti tão aliviada por tudo aquilo ter passado. Depois de ter evitado meu pai por alguns dias, finalmente decidi que era hora de ouvir o que ele tinha a dizer sobre aquele segredo tão perturbador.
- Lauren e eu temos um compromisso desde novos. Estudamos juntos na mesma universidade. – ele começou, sentando em minha cama. – Mas aí Carol apareceu um dia no trabalho e eu não pude deixar de notá-la.
"Talvez fosse pelos cabelos ruivos, tão naturais quanto o fogo, ou por sua forma de se posicionar diante das opiniões que ela considerava contrárias. Mas tenho certeza que foi pela forma que ela me tratava, tão bem, tão... dócil. Algo que sua mãe... Lauren, quero dizer, não faz há tempos."
Eu ainda não conseguia olhar para ele, mas após ouvir de sua boca como Lauren o tratava, fiz questão de ver como ele se expressava diante disso.
- Ela tinha se casado recentemente. – ele continuou. – Mas ela sempre reclamava de como o marido era rude e não a tratava da forma que ela merecia. Nos envolvemos por um tempo, até que Lauren um dia percebeu que eu estava mais distante que o normal.
"Quando ela descobriu que estava grávida, não sabíamos o que fazer. Em momento algum ela podia contar ao marido, que era estéril, então... As coisas se complicaram mais. Carol jamais pensou em abortar você. Ela queria você desde o primeiro minuto, mas sabia que seu marido não aceitaria aquilo. Você já deve imaginar como Lauren agiu diante disso, não? Eu a considero forte todos os dias por não termos nos separado, porque ela também estava grávida e não queria que Scott crescesse sem um pai."
"Você era linda quando nasceu. Seus olhos e seu pouco cabelo eram idênticos a Carol, assim como hoje em dia. Depois de alguns meses, ela entregou você para mim porque o marido dela não suportava o fato de você viver na mesma casa que eles. E Hannah, eu sou tão grato por ela ter entregado você... Você é minha melhor amiga, a filha que eu sempre quis. Scott e eu temos nossos momentos em família, mas com você as coisas são diferentes. Eu não suportaria ficar longe de você, não suportaria a ideia de ter uma filha linda e talentosa morando do outro lado do país."
"Carol ficou muito mal depois de entregar você. Talvez porque você era a única chance que ela tinha de ter uma companheira para a vida, o coração dela fora do corpo. Ela saiu do emprego, não aguentava me ver. Prometi a Lauren que nos afastaríamos, tanto é que ela foi transferida para outro estado. Mas nunca deixei de mandar fotos suas à ela."
Não senti vontade alguma de chorar, mas ouvir tudo aquilo foi um baque enorme. Meus sentimentos estavam divididos entre alívio, alegria e mágoa, mas sem sombra de dúvidas eu estava satisfeita por saber da verdade. Eu abracei meu pai, que retribuiu o abraço e pude ouvir seu soluço baixinho enquanto estávamos envolvidos.
- Acha que ela gostaria de me conhecer? – perguntei.
- Quem não gostaria de conhecer você? – ele disse, sorrindo.

   
               Alguns meses se passaram após o campeonato e o fim das aulas. De alguma forma, a Universidade de Columbia recebeu alguns vídeos sobre meu desempenho na natação. Talvez Connor estivesse por trás disso.
O representante que estava no dia do campeonato ficara feliz em ouvir sobre minhas intenções em relação à bolsa de estudos e meu corpo fora tomado por uma alegria sem fim quando recebi a carta que me oferecia a bolsa. Gritei por toda a casa, ignorando o fato de Lauren estar ali. Seriam nossos últimos meses juntas e eu queria fazer o que me desse vontade, pela primeira vez.
Depois de algumas semanas, o Dr. Evans foi preso por diversos crimes contra o Estado, mas isso não impediu que a vida de Margarett e sua mãe fosse luxuosa. Ela se mudaria para Chicago e com certeza procuraria por alguma pessoa que pudesse completa-la como Connor, ela deduzia. Estaríamos bem longe uma da outra e aquilo era o suficiente.
A brisa fria do inverno que se aproximava tomava conta do aeroporto de Chicago, mas minhas roupas estavam me aquecendo o suficiente. Victoria, Connor, meu pai e Scott estavam me ajudavam carregar as malas até o terminal, enquanto eu conferia na passagem o portão exato para não perder o voo até Nova Iorque.
Victoria havia conseguido uma vaga em alguma universidade renomada em Detroit. Após isso, seus pais passaram a tratá-la de uma forma melhor, tentando cada dia mais aceitar que a filha ainda era a mesma: ainda tão maravilhosa quanto sempre fora. Mas ela não podia negar sua felicidade em sair de casa, assim como eu.
- Você promete que vamos conversar todos os dias? – disse Victoria, enquanto me abraçava. – E que vamos nos ver sempre que possível? Por favor!
- Claro. – eu disse, a abraçando de volta. – Não será o mesmo sem você.
Assim que nos separamos, Scott me deu um abraço apertado e eu o rodei no ar. Mesmo sendo mais alto, eu ainda conseguia ser mais forte que ele.
- Por favor, sem confusões. – ele disse em um tom debochado.
- Combinado. – eu disse, sorrindo.
Connor estava separado de todos, segurando minha bolsa que iria comigo no avião. Ele aguardava ansioso e quieto para nos despedirmos e me olhava com compaixão e orgulho. Eu sabia que ele estava orgulhoso. Eu conseguia sentir em seu toque, sabia pela forma como ele me olhava. Caminhei até ele e lhe dei o abraço mais apertado que pude e as lágrimas escaparam de meus olhos.
Eu não tinha vivido um amor tão intenso quanto aquele e queria que aquilo durasse o máximo que pudesse. Eu não queria que ele me visse emocionada, então limpei meus olhos antes que ele pudesse perceber.
- Promete que vamos nos ver sempre que possível? – perguntei, um pouco irônica.
- Vamos estar a apenas vinte minutos de distância, Hannah. – ele disse, me entregando a bolsa e sorrindo, satisfeito.
Connor tinha conseguido uma vaga na Universidade de Nova Iorque. Estudamos tanto juntos para as provas finais que suas médias conseguiram aumentar consideravelmente bem.
Sim, conseguimos estudar juntos.
E não, não desviamos nosso foco.
Eu queria ajudá-lo da mesma forma que ele me ajudou durante todo o tempo em que estávamos juntos e queria que ficássemos juntos. Meu amor por ele me motivou e não sei de onde conseguimos tirar forças para estudarmos até as duas da manhã. Fora uma batalha árdua, mas conseguimos. Sua carta chegou duas semanas depois da minha, enquanto nadávamos no Lago Michigan. E eu nunca o vi tão feliz como naquela tarde quando ele descobriu que tinha conseguido.
- Só não vou poder pular no seu quarto às três da manhã. – ele sussurrou baixinho em meu ouvido.
Sorrimos um para o outro, com a certeza de que só nós – e Victoria – sabíamos daquilo. Era nosso segredo e sempre iria ser.
- Não se esqueça, Hannah. – disse meu pai, enquanto caminhávamos todos para o portão de embarque. – Não durma tarde. Não perca os treinos. Não vá sozinha a ponte Brooklin. Ela vai estar esperando por você no aeroporto. Connor não pode entrar no dormitório feminino, eu espero.
Olhei para Connor, que estava rindo junto de Victoria e Scott. Os quatro me deram um abraço em conjunto apertado. Senti todo aquele amor dentro daquela rodinha pequena e me segurei para não chorar. Seria difícil ficar longe de todos que eu amava, mas eu sentia que precisava começar uma nova vida, sozinha ou não. E eu faria de tudo para mantê-los comigo.
Não sei por quanto tempo caminhei pelo aeroporto, mas era tempo o suficiente para fazer meus pés doerem. Nunca estive em um lugar tão grande quanto àquele e nunca tinha me perdido por tanto tempo sozinha. Respirei fundo e me sentei em um banco próximo a uma enorme janela de vidro. Coloquei minhas malas próximas a mim e mandei uma mensagem para meu pai, avisando que eu tinha chegado.
De repente, senti um frio no estômago. Eu ia encontrá-la pela primeira vez e não fazia a menor ideia do que fazer. Eu deveria abraçá-la ou só dar um aperto em sua mão? Poderia chamá-la de mãe ou deveria esperar algum tempo a mais? As perguntas sem respostas começaram a perturbar minha cabeça e eu tentava ficar calma.
Eu me levantei de onde estava sentada e caminhei até um pequeno café que havia ali perto. Pedi um café expresso forte pois senti que estava desnorteada. Após alguns goles, fiquei mais calma e verifiquei meu telefone. Tinha uma mensagem.
"Estou bem atrás de você.", dizia ela.
Quando me virei, ela estava lá, com sua calça leggin preta, blusa de manga cumprida verde escura e óculos escuros. Seus cabelos estavam soltos e eram realmente como meu pai descrevia. Ela era fascinante.
- Oi, Carol. – eu disse.

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