(6) - SATISFAÇÃO

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            Após algumas semanas, comecei a me enturmar mais com meus novos colegas, principalmente Victoria. Minha intimidade com ela aumentou, fazendo com que eu a considerasse como amiga. Na maioria de meus tempos, eu estava junto com ela ou com todo seu grupo.
            Victoria era uma pessoa completamente diferente de todas as outras. Não era prepotente apesar de ser capitã e tinha uma opinião formada sobre quase tudo sobre o que falávamos. Apesar do seu jeito extravagante, as pessoa a adoravam e, sempre que ela passava em algum lugar, ainda me conta sobre as pessoas do colégio.
            Eu me divertia bastante com ela e seu grupo, principalmente quando nos juntávamos para jogar vôlei juntos no colégio. Apesar de ser um desastre no vôlei, eu achava o jogo engraçado, pois nunca parávamos de rir. Eu estava me divertindo jogando um esporte em que eu era péssima pela primeira vez.
           Georgie, mais cultural do que os outros, sempre me fazia listas com novas músicas para escutar. Discutíamos bastante sobre as canções novas que eram lançadas e até dividíamos o fone em algumas ocasiões. Cantávamos juntos algumas músicas que gostávamos.
           Depois do último horário, me despedi dos meninos e fui para o ginásio, onde se localizava a piscina, para ver como era, pelo menos, um dos treinos da equipe de natação.
           - Até amanhã, Han. – disse Victoria, abanando as mãos de longe. – Não esquece da prova de química.
           Acenei com a mão e disse "tchau" baixinho, na qual nem eu mesma escutei.
           Fui andando e ouvindo alguma música aleatória da playlist de Georgie. Abri a porta do ginásio tentando ser discreta e observei a imensidão da piscina. Assim que entrei, pude perceber que Margarett e uma amiga estavam sentadas próximas à grade de metal da piscina.
           As arquibancadas pintadas de branco e verde escuro, cores do brasão de MCHS, eram enormes e circulavam toda a piscina. Subi alguns degraus e me sentei no ponto mais alto da arquibancada, tendo uma visão completa do ginásio e do time de natação.
           Connor estava junto com o treinador, ajudando o time se aquecer e sendo o inspetor, apontando os erros de cada um de uma forma menos intimidadora. Ele estava sem camisa e, de longe, era possível ver como Victoria tinha razão sobre seu corpo. Seu tórax bem definido e duro não se mexia quando ele andava, seu abdômen definido era desconcentrante. Tentei não focar nele durante todo o treino e sim no time. Os treinos não seriam leves.
          Algumas vezes em que Connor passava perto da grade, Margarett o cumprimentava com alguns beijos. O treinador sempre estava pedindo para que ela saísse do ginásio, se continuasse a atrapalhar o treino. Mas apesar de todo o incômodo, ela permanecia ali, olhando para Connor, que estava sempre ocupado com as tarefas.
          Decidi ir embora do ginásio, pois o treino parecia igual a todos os outros que já realizei. Assim que desci metade da arquibancada, ouvi uma voz já conhecida:
          - Veio olhar o treino do time, Hannah?
          - Sim... – eu disse sem jeito e me virando para Connor. – Vocês realmente são bons.
          - Vencedores se esforçam muito para manter sua posição. – ele me respondeu, sorrindo. – Vi que você se inscreveu pro teste de admissão de novos integrantes. É em três dias.
          - Sim, eu sei. – eu disse, novamente. Eu só sabia falar isso? – Por isso estou aqui.
          - A concorrência esse ano é pesada. Temos seis vagas para doze concorrentes. Você poderia ter se sentado mais embaixo para acompanhar o treino mais de perto.
          Olhei para trás e vi que Margarett me encarava com uma feição brava. Olhei para Connor novamente e disse:
          - Lá de cima também é ótimo. E meu pai diz que sou boa, então... Sigo confiante.
          - Forrest! – gritou o treinador, bravo.
          - Tenho certeza que sim, Han. – disse ele, me chamando por meu apelido. – Bem, preciso ir agora. Em algum tempo você vai perceber que Raymond não dá mole. Até mais, vizinha.
          - Até mais, Connor. – eu disse, abanando a mão de longe.
          Fui andando rapidamente para a porta da escola e imaginando o que se passou na cabeça de Connor assim que me viu sentada na última arquibancada. Olhei para trás e vi que Margarett ainda me encarava. Seu olhar penetrante me incomodava e a única coisa que eu queria fazer era sair dali o mais rápido possível.


          A obra da piscina havia acabado há alguns dias. Depois de lançar uma faísca entre meus pais, percebi que era a forma mais fácil de fazer minha mãe entender que seu favoritismo por Scott não seria benéfico para o relacionamento dos dois. E apesar de me sentir mal fazendo aquilo, eu precisava manter a sanidade para que as coisas não dessem errado.
         Assim que cheguei em casa, fui correndo para o banheiro do meu quarto e coloquei meu maiô. A piscina estava pronta havia uma semana e eu não entrei desde então. Estava ansiosa para começar a treinar com a ajuda de meu pai ou meu irmão, que sempre me apoiavam nas competições. Desci as escadas, já vestida, enrolada na toalha e comecei a gritar meu pai por toda parte.
         - Eles não estão, Han. – disse Scott, deitado no sofá e comendo biscoitos. – Ele e a mamãe tiveram que ir em um jantar de negócios da empresa.
         - Me treina. – eu disse, jogando uma nota de dinheiro para ele. – Eu te treino depois, se quiser. Por favor, por favor... Preciso usar a piscina nova! – eu juntei s duas mãos.
         Scott olhou para mim com uma feição de deboche e dúvida. Cerrei os olhos para ele, que rápido deu um sorriso e desligou a televisão.
         Fomos para o jardim de trás da casa e coloquei minha toalha em cima de uma espreguiçadeira que estava próxima a piscina. Corri e pulei na água, que estava em uma temperatura perfeita. Mergulhei até o fundo e fiquei por alguns segundos lá embaixo. Mexi em meus cabelos e percebi que as luzes da piscina estavam acesas, não deixando o ambiente muito escuro. Perfeito para o treino. Subi até a superfície e Scott estava me esperando com os pés dentro da água.
        - Você vai cronometrar em quanto tempo eu vou de uma ponta até a outra em todos os tipos de nado. – eu disse, entregando meu relógio, que estava em meu pulso, em suas mãos. – Se eu achar que o tempo foi demorado demais, vou fazer até eu considerar o tempo ideal deles. O teste é em três dias e eu preciso me manter na média até lá.
         - Você sempre está acima da média, Han. – disse Scott, se levantando e indo para o meu lado oposto da piscina. – Não sei o que aconteceu dessa vez.
         - Só preciso me sentir mais confiante, ok? Não é nada demais.
         Decidi que meu primeiro nado seria costas, ida e volta. Fui para o canto menos largo da piscina e me virei de costas, dobrei meus joelhos, respirei fundo e fui assim que Scott gritou. A água passava por meu corpo e eu deslizava calmamente até o fim da piscina, no outro lado. Dei a volta por baixo e voltei para minha posição inicial, me sentindo mais confiante do que no início.
         - Um minuto e meio. – disse Scott. – Isso é bom, não é?
         - Bom não é o suficiente. – eu disse, desapontada comigo mesma. – Vamos tentar de novo depois dos outros nados.
         Nadei crawl, peito e borboleta, respectivamente. Os tempos em que gastei em cada nado específico não eram considerados bons para mim. Repetimos os exercícios por quatro vezes até que, na última vez, consegui completar todos em um tempo considerado moderado.
         Saí da piscina, liberei Scott para ver televisão novamente e me senti um pouco satisfeita comigo. Fui para o banheiro de meu quarto, tomei um banho rápido e desci para preparar algo prático e simples para comer.
         Abri os armários e não encontrei nada. Fui até a sala, onde Scott estava assistindo televisão, e peguei seu pacote de biscoitos. Subi correndo para meu quarto antes que ele percebesse que o pacote havia sumido.
         Assim que terminei de comer, fui em direção à meu cavalete de pintura, que estava com uma tela pronta para ser usada, e fiz um esboço de um lobo. Utilizei mais escuras, como lilás, preto, azul escuro, branco e outras, para deixar o fundo como se fosse uma galáxia. Ao olhar, sem querer, para a janela ao lado esquerdo, vi Connor olhando as estrelas, como sempre fazia. Voltei a atenção para meu desenho e, alguns segundos depois, ouvi um assovio vindo do vizinho.
         Olhei para a janela avistei Connor acenando para mim e pedindo para que eu chegasse mais perto da janela. Caminhei até ela e a abri para saber o que ele queria me dizer.
         - Você pinta? – disse ele, com os olhos brilhando.
         - Como sabe? – eu respondi com uma voz animada.
         - A aquarela está em suas mãos. – ele disse, rindo muito.
         - Ah... – eu olhei para o chão do meu quarto, sem graça. – Sim. Amanhã vou decorar a parede do meu quarto.
         - Que incrível. Você sabe desenhar pessoas? Assim, certinho, sabe?
         - Mais ou menos. Tentei desenhar meu irmão, mas me pareceu mais um ogro.
         Connor deu uma risada, mas logo retomou nosso assunto.
         - Caso um dia você aperfeiçoe, vou te pagar pra fazer um quadro da minha irmã.
         - Claro. – eu disse, sorrindo. - Você tem uma irmã?
         - Sim. – respondeu Connor. – Ela tem dez anos e é uma peste, às vezes. Colleen.
         - Faz parte.
         Dei um sorriso para Connor e fechei a janela, me despedindo. Coloquei a aquarela perto do cavalete, apaguei a luz e me deitei em minha cama, ainda sorrindo.
        "Pare de sorrir, Han. Pare de sorrir.", pensei.
        Mas era impossível.

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